riscos à saúde

Coveiros de Pelotas (RS) sofrem sem equipamentos de segurança, denuncia sindicato

Funcionários do Cemitério São Francisco de Paula, da Santa Casa, estariam sem proteção; administração nega acusações

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Denúncia já havia sido feita em 2019 pelo Sindisaúde Pelotas e Região, que diz que nada foi feito para melhorar a situação - Divulgação Grupo Cortel

Após oito meses da primeira denúncia sobre as condições de trabalho dos coveiros do Cemitério São Francisco de Paula, administrado pela Santa Casa de Pelotas, novas denúncias voltam à pauta. Indignada, a presidente do Sindisaúde Pelotas e Região, Bianca D´Carla, afirma que a situação em que se encontram os cerca de 20 funcionários é um escândalo, principalmente em tempos de pandemia do coronavírus.

Desta vez, o questionamento veio dos familiares de pessoas que foram sepultadas neste período da quarentena, diz a presidente. A administração da Santa Casa nega a denúncia, afirmando que "constantemente ocorrem averiguações técnicas, no Cemitério, para sanar eventuais problemas".

:: Representante de sepultadores fala sobre a situação dos trabalhadores em São Paulo ::

Conforme aponta Bianca, nenhum dos funcionários recebeu os Equipamentos de Proteção Individual, os conhecidos EPIs. Ela denuncia que esses profissionais da Saúde, aparentemente esquecidos pela administração da Santa Casa, passam seus turnos dentro do cemitério, alojados em um local absolutamente insalubre, sem arejamento adequado e, “pasmem, com uma janela que dá acesso direto ao setor de descarte dos enterros”.

 


Janela do alojamento dá para área de descarte do cemitério / Divulgação

Ao tomar conhecimento da nova denúncia, a presidente do sindicato foi novamente ao local de trabalho dos coveiros. No ano passado, esteve acompanhada do presidente da Federação dos Trabalhadores em Saúde do Rio Grande do Sul (FEESSERS), Milton Kempfer, quando essa denúncia já havia sido encaminhada para o atual administrador, Dr. João Francisco Neves da Silva. Segundo o Sindisaúde Pelotas, o administrador disse claramente que tomaria providências quanto à situação desses funcionários e nada fez.

Em seu relato atual, Bianca diz sofrer muito “quando percebe que apesar de todo o trabalho feito, incluindo denuncia ao Ministério Público do Trabalho, os funcionários continuam se alimentando e descansando ao lado dos dejetos funerários”. Esta realidade, está comprovada em fotos e vídeos, tanto do ano passado quanto deste momento de aflição de pânico, que vem atingindo o mundo como um todo.

Destaca Bianca que, não bastando um local com cheiro a mofo, sofá seguro por tijolos, uma televisão que só liga em um canal, armários, fogão e mesas arranjados, os funcionários do cemitério ainda enfrentam as moscas. “Sim, as moscas varejeiras que circulam sobre o morro de areia das covas abertas, restos mortais, partes dos caixões, tonéis de resíduos, flores jogadas e muita sucata e lixo, num fedor insuportável para quem passa por ali, imagina para quem convive diariamente com esta situação”, se revolta a presidente.


Alojamento do cemitério em más condições / Divulgação

Para piorar, diz Bianca, andando um pouco mais pelo local, encontrou uma esteira de praia no caminho, onde ficou sabendo que os funcionários costumam se estirar para pequenos descansos. A esteira estava localizada entre os corredores dos novos jazigos.

Este assédio moral é deprimente, acusam os dirigentes sindicais. Por mais que estejam acostumados a viver esta realidade, a dor dos mal tratos está marcada na memória e no olfato, com certeza, afirma a diretora sindical. Portanto, diz ela, vamos “botar a boca no trombone de novo, agora com mais força. Mesmo com o isolamento social, vamos encaminhar a denúncia novamente ao Ministério Público do Trabalho, ao Comitê da Crise da Câmara Municipal, ao Conselho Municipal de Saúde e mais uma vez à FEESSERS, que tem sido grande parceira nestes momentos. Queremos uma solução imediata, sem falsas promessas”, finaliza.

:: Com aumento das mortes, Manaus enterra vítimas da covid-19 em valas coletivas ::

Sindicato pede apoio do empresariado

Diante das circunstâncias, a presidente do Sindisaúde Pelotas abriu um pedido de socorro aos empresários da cidade, para que se unam e reformem ou construam um local adequado para os trabalhadores. Não deve ser tão alto o custo, diz ela, ou a própria Santa Casa pode encaminhar essas melhorias, porque “afinal, os valores cobrados para os enterros e jazigos são bem elevados e devem suprir as reformas necessárias”.

 


Material de trabalho dos coveiros / Divulgação

 

Além disso, os empresários podem ajudar, também, garantindo a aquisição dos EPIs para todos os trabalhadores do local e, desta forma, evitando a propagação do vírus e a consequente contaminação não apenas dos funcionários como também dos familiares que vão até o cemitério para se despedirem de seus entes queridos. O risco de contágio nestas condições é elevadíssimo, reforça Bianca.

Administração nega denúncias

Questionada pelo Brasil de Fato Rio Grande do Sul sobre as denúncias apresentadas pela presidente do Sindisaúde Pelotas e Região, a administração da Santa Casa de Pelotas enviou a seguinte manifestação:

"Não confere a informação sobre falta de condições de trabalho aos funcionários do Cemitério São Francisco de Paula, que pertence à Santa Casa de Pelotas. Além disso, o Serviço de Segurança do Trabalho garante os Equipamentos de Proteção Individual necessários. Contudo, constantemente ocorrem averiguações técnicas, no Cemitério, para sanar eventuais problemas".

 

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Marcelo Ferreira