Emoções

A dica para comer bem na quarentena é perceber o próprio corpo, ensinam especialistas

O Brasil de Fato ouviu profissionais para discutir ansiedade, rotina e alimentação em tempos de isolamento social

Brasil de Fato | Belém (PA) |

Ouça o áudio:

Perceber as emoções que provocam a fome e realizar três refeições diariamente podem ajudar a ter uma rotina saudável. - Sara Bakhshi/Unsplash

Acordar tarde, pular refeições, pedir comidas por aplicativo e comer por ansiedade são atitudes que tem feito da rotina de parte da população das grandes cidades brasileiras durante a pandemia do novo coronavírus. Mas qual a melhor forma de manter uma alimentação equilibrada com as restrições de circulação e mudanças de rotina? Segundo especialistas, é reconhecer as emoções que provocam a vontade de comer e ficar atento aos sinais do próprio corpo.

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A nutricionista especialista em transtornos alimentares Marcela Kotait, que também é coordenadora do ambulatório de anorexia nervosa do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo (HC), explica que a ansiedade é um sentimento ainda mias comum durante a pandemia, o que torna necessário perceber que a fome não é o único motivo que nos leva a comer.

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"Nesse momento que a gente está vivendo, a gente percebe quanto as emoções também acabam alterando os nossos motivadores para comer e entre eles, naturalmente, têm a ansiedade, o tédio, o cansaço, o medo. Antes de a gente querer uma receita mágica para comer quando está ansioso é mais importante entender o motivo que está me dando essa vontade de comer. Para muitas pessoas comer trás certo alívio ou uma diminuição da inquietação e aí acaba confundindo esse motivador com um motivo para comer", resume.

A jornalista Natália Melo, 34 anos, mora em Belém do Pará e conta que sempre teve uma relação de compensação da ansiedade com os alimentos, sobretudo, doces. Com a pandemia isso tornou-se ainda mais evidente.

"Eu acho que estou comendo um pouco mais, mas com certeza comendo mais doce. Não sinto culpa, acho que a gente tem uma relação com a comida de compensação mesmo e a gente passando muito tempo em casa, por mais que a gente trabalhe home office, é difícil não querer se compensar de alguma forma por não poder fazer outras coisas que a gente gosta." 

Antes de a gente querer uma receita mágica para comer quando está ansioso é mais importante entender o motivo que está me dando essa vontade de comer.

Desde que entrou em quarentena, a rotina da social media Adriana Melo, 35 anos, que mora no Rio de Janeiro (RJ) também desandou. Antes da pandemia, ela frequentava a academia e costumava pedalar sete quilômetros até o trabalho diariamente. Agora, em home office, essa dinâmica foi alterada e, junto com isso, a alimentação.

"Para mim é muito difícil manter uma rotina e a alimentação está nessa rotina. As vezes eu vou almoçar quatro horas da tarde, porque eu acordei muito cedo e acabei tomando café não tão cedo, porque não estava com fome. A noite é o pior horário para mim, porque eu fico comendo muita besteira, as vezes eu deixo de jantar e fico comendo besteira mesmo: salgadinho e refrigerante." 

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Entender o próprio corpo

Segundo a nutricionista Kotait, um primeiro passo importante para qualquer pessoa é criar uma rotina alimentar com horários e refeições adequadas. Mas isso não significa necessariamente deixar de comer o que se gosta ou de pedir comida por aplicativos, por exemplo.

"Acredito muito que a maneira que a gente come é mais importante do que o quê a gente come. Uma alimentação saudável é aquela conectada aos sinais do corpo, aquela que a gente consegue identificar os motivadores para comer. O equilíbrio vai acontecer à medida que a gente escutar o nosso corpo", diz ela. 

A maneira que a gente come é mais importante do que o quê a gente come.

Fica evidente pelos relatos que a rotina de todos foi alterada e isso afeta corpo e mente. A terapeuta ayurvédica, Maria Ioná Sacramento explica que essa ciência indiana entende ser fundamental cuidar do que se come, já que a comida alimenta não só o corpo, mas a alma.

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Ayurveda significa o conhecimento da vida e é uma ciência sistematizada há 5 mil anos a partir da compreensão de que cada indivíduo é uma manifestação da consciência cósmica e está conectado com ela. "A comida é o remédio. A comida tem a capacidade de nutrir o nosso corpo, a nossa mente e a nossa alma. Portanto, comer para o ayurveda é busca equilíbrio das energias que permeiam o nosso organismo." 

A comida tem a capacidade de nutrir o nosso corpo, a nossa mente e a nossa alma.

Dialogando com os conselhos da nutricionista Kotrait, a terapeuta ayurvédica também salienta a importância em perceber como cada alimento é recebido pelo corpo. "Para o ayurveda você é o que consegue digerir. Não adianta pensar em uma comida maravilhosa, se você tiver uma baixa capacidade digestiva, ele não vai ter nenhuma utilidade. As excreções elas têm um papel fundamental, porque elas falam sobre o funcionamento do meu sistema", completa.

Edição: Rodrigo Chagas