ORGANIZAÇÃO POPULAR

À frente de ações solidárias, mulheres organizam resistência na periferia de Curitiba

Reportagem destaca importância de associações e grupos liderados por mulheres

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Claudete, Maria e Vita organizam ações de solidariedade na Vila Leão, na periferia de Curitiba (PR) - Pedro Carrano

“Cheguei do serviço e estava aquela fila em casa, muita gente em desespero e eu sem saber que caminho tomar. Conseguimos frutas, doações das pessoas e entidades parceiras”, narra Claudete da Silva, moradora da periferia de Curitiba, capital do Paraná.

É comum para quem acompanha a experiência de associações de moradores encontrar em mulheres as lideranças principais. O momento de crise do coronavírus confirma essa narrativa.

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As organizações mais ativas na solidariedade têm como lideranças populares mulheres trabalhadoras. É o exemplo do trabalho de Claudete da Silva, zeladora; Vita Maria, doméstica; e Maria Trindade, catadora de material reciclável, integrantes da associação de moradores Vila Leão, localizada no complexo conhecido como Bolsão Formosa, no bairro Novo Mundo, em área de ocupação que abrange cerca de 2 mil famílias e tem no mínimo seis associações.

Elas organizam, neste momento de urgência, cafés e doações para moradores em necessidade a partir de pedidos do Ceasa. Contam que o principal desafio hoje é conseguir alimentos, insumos e infraestrutura para a cozinha da sede da associação. Em tempos normais, o espaço de boa estrutura oferece cursos para 170 crianças, do futebol ao reforço escolar. As cadeiras agora estão vazias. As ações, seguem firmes.

Falta de cuidado do Estado

Andréia de Lima, por sua vez, atua no bairro Parolin ao lado de uma verdadeira frente de quatro organizações (Usina de Ideias, Mãos Invisíveis, Baque Mulher e Um Lugar ao Sol) que inauguraria o centro Colmeia Cultural no final de março e que agora está voltada para preparar refeições para moradores em situação de rua, moradores locais e, ao mesmo, moradores de demais bairros com necessidade.

Mais que isso, essas organizações são agentes de informação para a comunidade, realizam compras e produzem máscaras, junto a outras ações.

Seu relato é forte. Afirma que a solidariedade local muitas vezes parte daqueles que menos têm. Caso dos carrinheiros. E critica o poder público por não fornecer informação às pessoas, sujeitas às fake news e discursos presidenciais. A Colmeia realizou pesquisa recente no local que apontou desconhecimento por parte da população idosa sobre os riscos da covid-19. “Há uma falta de cuidado do Estado com os nossos, a gente sabe que os nossos serão os mais afetados, o maior PIB [Produto Interno Bruto] vem das favelas, temos consciência da nossa importância”, afirma.

Andreia aponta que acompanhar a situação das famílias que buscam acesso ao programa renda emergencial, de R$ 600, também é importante. Muitas famílias, de acordo com ela, não têm acesso à internet. "Tem que dar continuidade a esse trabalho, quando a mãe for dar entrada o benefício. Muitas são separadas, muitas vezes ex-maridos se aproveitam nesse momento", descreve.

O momento de crise acaba por envolver mais mulheres interessadas em ajudar na solidariedade no bairro.

"Se nós mulheres não fizermos, ninguém faz, a mulher já têm essa liderança nata dentro dela, não precisa esperar e tomar posição, para cuidar do próximo", afirma.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lucas Botelho e Vivian Fernandes