Desinformação

Covid-19: governos do Nordeste preparam dossiê sobre fake news para denunciar à CPMI

Denúncia será focada no combate ao coronavírus; doença é alvo de avalanche de conteúdos falsos na internet

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Epidemia de fake news marca especialmente disseminação via redes sociais, como WhatsApp - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Os governos do Nordeste resolveram se unir na luta contra a epidemia de fake news, que no momento afeta principalmente o combate ao coronavírus.

Diante da avalanche de conteúdos falsos que circulam nas redes sociais a respeito do tema, os secretários de Comunicação dos nove estados da região iniciaram a produção de um dossiê que será entregue à Comissão Parlamentar Mista das Fake News (CPMI), responsável por investigar o assunto no Congresso Nacional.

Ainda em fase de finalização e sem data específica para ser encaminhado ao colegiado, o material levará a deputados e senadores uma série de exemplos desse tipo de publicação, com dados associados aos conteúdos.

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O secretário de Comunicação e Assuntos Políticos do Maranhão, Rodrigo Lago, destaca que a disseminação massiva de publicações falsas acompanha, usualmente, os temas do momento, motivo pelo qual a prática hoje estaria tão associada à pandemia.

Ele conta que o problema se tornou um desafio para o estado, que, nas últimas semanas, virou palco de grande alvoroço da população diante de algumas fake news.  

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Em uma delas, foi divulgado, por exemplo, que a disponibilidade de caixões teria acabado. Outra, com um potencial ainda maior para mobilizar e assustar a população, dizia que o governo teria decretado a política do lockdown (bloqueio de atividades e circulação) inclusive para supermercados e outros estabelecimentos de venda de alimentos. O decreto em questão, na verdade, não afeta esse tipo de serviço, que é considerado essencial.     

“Você imagina o desespero que isso gerou na cidade porque, pra agravar, todo mundo saiu correndo de casa e foi ao supermercado, gerando aglomeração e espalhando ainda mais o vírus e o contágio. Nós estamos enfrentando esse problema de uma forma muito intensa porque isso desinforma a população”, afirma Lago, acrescentando que a gestão tem pedido à população que dê mais crédito para as redes institucionais dos governos e para a imprensa do que para conteúdos de origem desconhecida.

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O secretário ressalta que o maior desafio para o combate à prática é tentar barrar o compartilhamento dos conteúdos, que têm rápida disseminação e alcançam longo percurso, atingindo diferentes grupos.   

Esse é o grande problema, porque você recebe num grupo de amigos uma informação, dali encaminha pra outro grupo de amigos, grupos de vizinhos, da rua, do prédio, da igreja, e aí essa informação se multiplica numa velocidade alta e a população não tem o cuidado de checar. Eu espero que o Congresso consiga, diante disso, apontar caminhos pra desestruturar as organizações de criação e divulgação de fake news.

No Legislativo, a CPMI atua no sentido de investigar uma série de aspectos relacionados a conteúdos enganosos. Entre eles, estão a utilização de perfis falsos durante as eleições de 2018; a prática de cyberbullying sobre agentes públicos e usuários de internet considerados mais vulneráveis; o aliciamento e a orientação de crianças para o cometimento de crimes de ódio e suicídio; e os ataques cibernéticos que afetam a democracia e o debate público.

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A deputada Luizianne Lins (PT-CE), integrante da comissão, acredita que o dossiê dos governos do Nordeste poderá facilitar o trabalho do colegiado.

“Pra nós, da CPMI, é uma prova concreta, porque já reúne varias situações que a gente teria que juntar. Quando é um fórum já organizado, é fundamental como prova pra própria relatora utilizar”, afirma a petista, acrescentando que o colegiado observa práticas comuns em diversos tipos de ações ligadas a fake news e desconfia da existência de um comando comum ligado a esses conteúdos.

“E nós não estamos falando simplesmente de cidadãos comuns ou de bolsonaristas versus petistas. Veja, estamos tratando, no caso desse dossiê, de governadores de diversos partidos que foram atacados com mentiras que prejudicam a população. Isso precisa ser estudado”, acrescenta Luizianne. 

Ceará

Os governadores do Nordeste têm atuado em algumas frentes de combate. No Ceará, por exemplo, a gestão Camilo Santana (PT) lançou, no final de abril, uma agência própria de checagem de informação.

A página permite aos cidadãos a verificação de dados por meio do trabalho das equipes técnica e de comunicação do governo e traz ainda uma série de orientações sobre como identificar conteúdos de veracidade duvidosa. 

“Estamos fazendo isso porque tem sido gigantesca a quantidade de mentiras, de maldades pelas redes sociais que tentam confundir a população com informações falsas e mentiras. Este é um momento pra se ter muita responsabilidade, seriedade, deixando as diferenças de lado, porque temos um inimigo comum”, disse Santana, nos últimos dias, em uma menção indireta a ataques políticos que cercam o governo por meio de conteúdos falsos sobre a doença.

Também no final de abril, a Assembleia Legislativa do Ceará aprovou uma lei que prevê multa de até R$ 2 mil para quem compartilhar conteúdos enganosos sobre o coronavírus. A iniciativa empolgou os vizinhos, que hoje avaliam a possibilidade de adotar ações semelhantes.   

Edição: Leandro Melito