Educação

Inscrições do Enem 2020 começam nesta segunda-feira em meio a pedidos de suspensão

Educadores e organizações estudantis afirmam que a manutenção da prova aprofundará desigualdades entre estudantes

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Segundo organizações estudantis e educadores, a decisão não levou em conta os desafios enfrentados pelos alunos - Marcelo Camargo / Abr

Em meio a pedidos de adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 por todo o país, em decorrência da pandemia causada pelo novo coronavírus, o governo abriu as inscrições para as provas nesta segunda-feira (11), com prazo para encerrar no dia 22 de maio.

Neste ano, o exame seguirá um calendário diferente do ano anterior, visto que prevê, desta vez, também a realização da prova digital, nos dias 22 e 29 de novembro. Já as avaliações presenciais estão marcadas para os dias 1 e 8 de novembro. 

No primeiro dia, serão abordados os seguintes temas: linguagens, códigos e suas tecnologias, redação e ciências humanas e suas tecnologias. No segundo dia, questões de ciências da natureza e suas tecnologias e matemática e suas tecnologias. A estrutura da prova digital é a mesma da presencial.

A taxa de inscrição é de R$ 85 e deve ser paga entre 11 e 28 de maio. Para se inscrever é necessário acessar o site do Enem e informar CPF e RG. A partir desta fase, será criada uma senha para o estudante prosseguir com o cadastro. 

Pedidos de cancelamento

Desde que a realização do Enem 2020 foi divulgada pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, e chancelada pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), a pasta não para de receber pedidos de adiamento ou cancelamento do exame.

Segundo organizações estudantis e educadores ouvidos pelo Brasil de Fato, a decisão não levou em conta os desafios enfrentados por alunos, principalmente os que integram as redes públicas de ensino, que estão afastados do ambiente escolar, por conta da pandemia de coronavírus. 

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Entre os entraves relatados está a baixa participação dos estudantes nas aulas de ensino à distância – que já vigora em vários estados do país –, a falta de infraestrutura e tecnologia para assistir às aulas em casa e as condições psicológicas de uma preparação tão importante como o vestibular em um momento como esse.

Segundo o professor Leandro Ramos Gonçalves, que leciona Sociologia para alunos do ensino médio da escola Salvador Rocco, do bairro Vila Carrão, em São Paulo (SP), “há um hiato entre a inscrição para a prova do Enem e a realização do exame. Um percurso de aflição do estudante do terceiro ano, sobretudo na escola estadual”.

“Ele começa a ingressar na ideia de ir ao vestibular, de ir ao Enem, uma retomada e finalização de estudos. Nós temos feito isso, mas virtualmente. Envia o conteúdo, tira dúvida, responde por áudio. Essa dinâmica não é a ideal para esse tipo de situação. Lembrando que apenas 30%, 40% dos alunos conseguem acompanhar as aulas à distância”, explica.

O Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), ao lado dos alunos, também solicitou a mudança do calendário divulgado em decorrência da pandemia de covid-19.

Em nota, o órgão afirmou que a manutenção das provas como estão aprofundarão as desigualdades entre os estudantes das escolas públicas e aqueles de instituições particulares. 

“Mesmo considerando as soluções e ferramentas que estão sendo implantadas nas redes privadas e públicas para minimizar as perdas do período de suspensão das aulas presenciais, elas não chegarão para todos os estudantes brasileiros, especialmente os mais carentes", afirmam os secretários em nota.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) também pediram a suspensão das datas.

“O ministro [Abraham Weintraub] infelizmente não está preocupado que os estudantes, que o povo mais pobre acesse a universidade. Por isso a gente defende o adiamento das provas, para que a gente consiga debater com a sociedade, com as secretarias estaduais e municipais de ensino, um plano e um calendário, levando em conta os limites pedagógicos e técnicos que esse momento de pandemia nos impõe”, explica Élida Elena, vice-presidenta da UNE.

Edição: Leandro Melito