Especialista no transporte coletivo de Curitiba, o economista Lafaiete Santos Neves denuncia os empresários do transporte que, desde os anos 50, definem as políticas da Prefeitura da capital.
Brasil de Fato Paraná – Temos neste momento menos ônibus, aglomerações nas ruas, o prefeito Rafael Greca coloca para as pessoas que não têm recursos, mas faz repasse de milhões aos empresários. Como entender esse quadro?
Lafaiete Santos Neves – O prefeito é refém dos empresários de ônibus. E já faz muito tempo. Vou destacar dois prefeitos. Um rompeu, que foi o Requião (1986 – 1989), e o outro tentou romper com esse sistema, que foi o prefeito Gustavo Fruet (2012 – 2016). Em 54, Ney Braga foi prefeito de Curitiba e doou as linhas de ônibus para os empresários, a família Goulin é a mais conhecida. Na época de Lerner (74 e 79, durante a ditadura), não teve licitação. O Ministério Público obrigou a fazer a licitação em 2009. O Beto Richa era o prefeito e enviou um projeto cheio de fraudes. Requião havia assumido em 1985 e atacou os empresários, com aquele panfleto dizendo “Mãos ao alto que a tarifa é um assalto” e ganhou a eleição porque mostrou que Lerner estava atrelado aos empresários do transporte desde 1974, quando implantou o Ligeirinho. Requião, por sua vez, criou uma frota pública e tinha como controlar a tarifa. Na volta de Lerner à prefeitura (1988) ele desfez tudo o que Requião havia feito.
Brasil de Fato Paraná – Fruet também foi muito pressionado pelos empresários, não?
Lafaiete Santos Neves – O slogan dele era “vou abrir a caixa-preta do transporte”. Nomeou uma comissão, entre os quais eu fui nomeado, preparamos um relatório, ficamos quatro meses na Urbs, mostramos que a licitação foi irresponsável (…) A concessão é pública, mas ninguém sabe quanto eles pagam o diesel, porque não mostram a nota, pneus e todos os insumos.