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Vinho de igreja também deixa bêbado, principalmente os coroinhas

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Nesta semana, Mouzar Benedito conta uma história que aconteceu na sua infância, em tempos de coroinha - Foto: James Coleman/Unsplash
Dois meninos beberam uma garrafa de vinho que havia lá. Ficaram bebinhos de tudo. 

Quem já bebeu vinho de igreja? Eu já, e era criança ainda. Em cidades pequenas, tempos atrás, os moleques faziam as molecagens de sempre e tentavam algo mais, queriam novidades.

E para muitos, a novidade que aparecia era ser coroinha. Quando tinha uns oito ou nove anos, entrei nessa também. Fui ser coroinha na igreja matriz da minha cidade. Quer dizer, ela se chamava igreja matriz, mas era a única.

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Durante a missa, víamos o padre tomar um gole de vinho, na hora da consagração, e tínhamos vontade de experimentar também. Um dia, descobrimos várias garrafas de vinho da igreja num armário na sacristia e mandamos ver nelas. Bebemos quase todas.

Éramos oito coroinhas, ficamos todos bêbados, aprontando na igreja. Um bando subiu até a torre e um deles, que implicava com uma espécie de martelo que batia no sino dando o número de badaladas de cada hora, segurou o tal martelo pra ele não dar as doze badaladas do meio-dia, e o relógio pifou. Quando o moleque soltou o martelo, os ponteiros do relógio pulavam para bater cada hora até acabar a corda.

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O padre ficou furioso, e fomos todos expulsos. Ele teve que arrumar novos coroinhas, pois sobrou só um que não estava com a gente. Aliás, no sermão de domingo, falou de nós, e vocês podem imaginar os adjetivos que usou. 

Lembrando disso, me veio à memória, também, um causo que ouvi não sei onde. É de dois meninos de uma cidadezinha dessas, que invadiram a sacristia e beberam uma garrafa de vinho que havia lá. Ficaram bebinhos de tudo. 

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Quando iam sair da igreja, viram que o padre vinha vindo, correram de volta, cambaleando, e se esconderam atrás do altar. Ficaram dando risadinhas, e o padre percebeu que havia alguém ali. Ele gritou:

— Quem está aí?

Os moleques não responderam, mas não conseguiam conter o riso. Tapavam a boca com as mãos, mas saía um som que o padre ouvia. E ele insistiu:

— Quem está aí?

Os moleques não respondiam. Insistiu de novo:

— Se não falarem, vou aí, e vocês vão ver...

Bom, vou contar o resto com o palavreado de um deles, que respondeu:

Nóis é anjo.

Segundo ele, o padre falou:

Ocêis é anjo? Então avua...

E agora? O que fazer? Respondeu:

Nóis é fiote...

Edição: Lucas Weber