Paraná

RACISMO

E Miguel não era uma criança?

Quem as cuidam quando precisam sair cedo de casa para acompanhar suas mães?

Curitiba (PR) |
Esta morte é simbólica, porque ela escancara a crueldade, o descaso com vidas negras. - Giorgia Prates

Ontem pela manhã ouvi na Band News a notícia de que mais uma criança tinha caído de um prédio e morrido. Os comentaristas lamentaram a “tragédia” eu lamentei e segui trabalhando. Às 20h encerrado o expediente fui saber detalhes do que ocorreu e me deparo não com uma tragédia, mas com um assassinato! O racismo matou o Miguel e uma mão branca de uma mulher da elite brasileira empurrando-o do 9º andar!

Ou agora negligência com a vida de crianças não é mais crime? Ou é por que vidas negras não importam? Vidas de crianças negras não importam? Elas morrem de bala certeira e não perdida, elas morrem de fome, elas morrem de tristeza, elas morrem de sede e muitos continuam levando a vida sem que nada disso lhes afete. Como isso é possível?

Mas, esta morte é simbólica, porque ela escancara a crueldade, o descaso com vidas negras. A vida de uma criança negra de cinco anos é descartável! Como coordenadora do ErêYá grupo que leva no nome a criança/a infância/a brincadeira como princípio me é difícil respirar neste momento, imaginem a Mirtes, mãe desta criança? Parafraseando Soujoner Truth, eu pergunto a cada um/a de nós: E Miguel, não era uma criança?

Muito bem gente branca adulta, onde há racismo alguma coisa está fora da ordem. Eu acho que com esta mistura de lutas negras dos EUA e Brasil, especialmente das mulheres negras lutando por direitos e igualdade racial, o homem e a mulher brancos vão entram na linha rapidinho.

Aqueles homens e mulheres brancos ali, dizem que as crianças são sujeitos de direitos, produzem cultura, precisam de afeto e atenção para se desenvolverem plenamente. Por isso, é necessário cuidado quando brincam, interagem vivencia suas experiências. As crianças, dizem as pessoas brancas da sociologia da infância, da antropologia da infância, DEVEM ser protegidas pelos adultos que a cercam e merecem o melhor e a nossa mais plena atenção onde quer que estejam. Mas, o que constamos é que poucas pessoas brancas e ricas se importam com a vida das crianças negras e pobres.

Quem evita que passem fome, sede, que tenham escolas. Quem as cuidam quando precisam sair cedo de casa para acompanhar suas mães – muitas empregadas domésticas - no trabalho? Quem as acolhe quando estão se sentido sozinhas em uma casa que não é a sua? Quem lhe dá colo quando choram querendo a mãe? E Miguel não era uma criança?

Olhem para sua imagem. Olhem para o seu sorriso. Ele pegou um ônibus, caminhou até o emprego da sua mãe e a esperava voltar de mais uma tarefa. E ele não era uma criança? Ele poderia ter ficado ali tranquilo esperando sua mãe desde que tivesse sido cuidado como uma criança pequena de cinco anos. Lápis, papel, livros, brinquedos, TV, celular, tanta coisa para distraí-lo. Atenção, afeto!

Ele não era uma criança? Por acaso Miguel não era uma criança? Ele poderia rir com desenhos, se distrair com uma conversa, mas ele era uma criança negra, então quem se importa? Ele poderia brincar e não MORRER!! Ele não era uma criança? Miguel não era uma criança?

Edição: Pedro Carrano