Pernambuco

COVID-19

No Arruda, trabalhadoras da reciclagem contam com apoio para enfrentar pandemia

Com cooperativa parada, famílias atravessam dificuldades; retomada das atividades exigirá cuidados para evitar contágio

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Comunidade de Palha de Arroz, na zona norte do Recife, tem histórico de resistência - PH Reinaux

A Cooperativa de Reciclagem da Palha de Arroz vem sofrendo uma redução no número de materiais coletados e também na compra dos materiais. Isso tem feito com que as 21 mulheres que trabalham na cooperativa estejam sobrevivendo a partir do auxílio do governo e doações de alimentos e roupas feitos pela Prefeitura e por pessoas próximas. Além disso, após um caso confirmado de Covid-19 entre as trabalhadoras, as atividades foram suspensas. Isso logo no início do isolamento social, no mês de março. Segundo Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde do Recife, no Arruda, já foram diagnosticadas 62 pessoas com coronavírus e registradas sete mortes.  

A cooperativa é formada exclusivamente por mulheres, que trabalham recolhendo, separando e vendendo materiais reciclados desde 2014, quando o galpão foi construído depois de muitos protestos e pedidos ao governo municipal para o cadastramento das trabalhadoras. O galpão está localizado no conjunto habitacional Palha de Arroz, localizado no bairro do Arruda, zona Norte do Recife. O conjunto foi criado em 2011 pela prefeitura para as pessoas que tiveram suas casas demolidas por conta das obras de alargamento da Avenida Agamenon Magalhães. 

A presidenta da cooperativa, Marta Maria da Silva, 39 anos, sempre trabalhou com reciclagem e sempre sustentou sua família sozinha, até que foi criada a cooperativa em 2014 com um curso feito pela Prefeitura do Recife com outras 50 mulheres. No início, ela trabalhava na coleta e separação de materiais reciclados, com o tempo passou a trabalhar no setor de vendas, no qual dialogava diretamente com os compradores. 

Somente em 2018 ela se tornou presidenta da cooperativa, mas agora para proteger a saúde das trabalhadoras tiveram que trabalhar menos do que estavam acostumadas. “E como estamos vivendo nessa pandemia é através de doações tanto de cesta básica como de roupas, o que vier nós estamos aceitando; só não estamos tendo renda, exceto o bolsa família que o governo liberou agora, mas para quem mora de aluguel está difícil”, afirmou Marta. Assim como Marta, as outras trabalhadoras da cooperativa também sustentam as suas famílias com o trabalho com reciclagem e passaram a sentir as mesmas dificuldades apresentadas por ela.

Para dar suporte aos moradores de Palha de Arroz durante a quarentena, doações de alimentos estão sendo feitas pelo Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, que está com um projeto de doação de cestas agroecológica para diversas comunidades do Recife, entre elas a Palha de Arroz. A comunidade foi beneficiada com 210 das 1.800 cestas básicas doadas no último sábado de maio (30). As cestas são compradas de produtores da agricultura familiar no Sertão do Araripe, no Sertão do pajeú, na Zona da Mata Sul  e também no estado de Sergipe através de um projeto em parceria com a Fundação Banco do Brasil.

Reciclagem
No último dia 05 de junho foi o Dia Nacional da Reciclagem, a data é comemorada no Dia Mundial do Meio Ambiente, na intenção de conscientizar a população sobra a importância da coleta, separação e destinação correta dos materiais recicláveis para o Meio Ambiente e, assim, valorizar o trabalho das catadoras e catadores de material reciclável. Contudo, ainda assim existe preconceito com a profissão das catadoras, apesar de serem responsáveis para que esses materiais não acabem em lixões ou aterros, onde demoram milhares de anos para se decompor. “Preconceito com reciclagem a gente sofre desde que puxava carroça, tem muitos que não reconhecem que o nosso trabalho tem que ser reconhecido não”, disse Marta.

As trabalhadoras fazem desde a separação dos materiais reciclados por categorias entre latas, plástico e papelão até a venda dos fardos montados com os materiais recolhidos. Além disso, as trabalhadoras muitas vezes têm, inclusive, que limpar os materiais, porque poucas pessoas fazem a coleta seletiva do próprio lixo. “Vêm rejeitos junto com material (reciclável), porque a população ainda não sabe separar o enxuto do molhado”, afirmou Marta. Apesar de já utilizarem Equipamento de Proteção Individual (EPI), agora as trabalhadoras terão que ter ainda mais cautela com a retomada das atividades da cooperativa, que está sendo feita aos poucos. Isso porque, no manuseio dos materiais, existe o risco de contágio por coronavírus. "Nós já usávamos EPI, até porque muitos dos materiais vêm sujos e também têm lixo hospitalar, mas com certeza vamos ter que tomar mais cuidado com os materiais para não ter nenhum caso", disse a presidenta.

Edição: Marcos Barbosa