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Quadrilhas juninas cobram apoio e se reinventam em meio ao isolamento social

Uma das maiores festas populares brasileiras, a festa junina, também sofreu consequências com a pandemia

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Para este ano, o grupo Sociedade Cultural Ceará Junino está programando algumas lives e concursos a nível nacional. - Foto: Jeff André

A crise causada pelo coronavírus trouxe mudanças de comportamentos, como o uso constante de álcool em gel e máscaras. Também trouxe mudanças na rotina da população, como o isolamento social. Uma das maiores festas populares brasileiras, a festa junina, também sofreu consequências com a pandemia. Em abril, a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), por exemplo, cancelou o edital do XXII edital Ceará Junino deste ano. Mas como ficam os grupos juninos com o cancelamento dos festejos.

Juliana Anjos, jovem trabalhadora rural, coreógrafa e marcadora do grupo Explode Coração, do assentamento Maceió, em Itapipoca, ela explica como está a rotina do grupo atualmente. “A realidade é que estamos em casa. Todas as quadrilhas do município de Itapipoca, esse ano de 2020, não podem ensaiar, nem colocar em prática seus projetos juninos. São dançantes que não podem se encontrar, costureiras que não farão os figurinos para 2020, os coreógrafos e coreografas com suas coreografias guardadas na mente e no coração. A ‘covid’ nos impediu de se juntar corpo a corpo pra fazer nosso São João tradicional”.

Juliana informa que seu grupo é da zona rural de Itapipoca e se caracteriza como uma quadrilha municipal. Ela explica que não é uma quadrilha federada. “Quadrilhas federalizadas são as que fazem parte de federações de quadrilha, assim, participando de editais entre outros benefícios”. Por não ser federada, ela explica que o grupo não recebe tanta ajuda financeira para a realização dos seus projetos juninos. “O município disponibiliza uma quantia para ajudar as quadrilhas municipais. Da última vez que recebemos, que foi em 2019, recebemos em torno 1.300 reais, vindo da Secretaria de Cultura. Todo nosso projeto, figurinos e materiais usados, transporte é pago com dinheiro de rifas, bingos, e patrocínios de familiares dos integrantes e apoiadores da quadrilha. As premiações que recebemos em festivais que participamos são para custear nossos gastos”.

Quando a covid-19 começou a se espalhar, Juliana diz que o grupo foi logo percebendo que o estado viveria o isolamento social, baseado no que acontecia em outros países, por exemplo, assim, por consequência, havia a possibilidade de cancelar os ensaios temporariamente. “Mas com o passar dos dias e com o agravamento da pandemia tivemos a notícia que todo o Ceará precisaria parar os preparativos para o São João e que, inclusive, os editais que são tão importantes para os grupos juninos seriam cancelados”.  Para ela, o cancelamento dos editais implica em grandes perdas para os grupos juninos, pois muitos deles, principalmente as federadas, já tinham investido dinheiro com os preparativos dos festejos e que agora precisam ser pagos.

Questionada sobre a possibilidade de algum auxilio destinado pelo governo do Estado do Ceará, Juliana afirma que “se destinou, não somos conhecedores”. Ela diz que nesse período de crise, os grupos juninos estão se comunicando e se ajudando na medida do possível. “A gente se considera uma rede de apoio, mas entendemos que merecíamos mais atenção por parte do poder público”.

Para este ano, o grupo Explode Coração está trabalhando na proposta de disponibilizar no instagram vídeo de uma de suas apresentações.


Para este ano, o grupo Explode Coração está trabalhando na proposta de disponibilizar no instagram vídeo de uma de suas apresentações. / Foto: Arquivo Pessoal

Seixas Soares, é produtor cultural e projetista do grupo Sociedade Cultural Ceará Junino. Ele explica que a realidade das quadrilhas trazida por essa pandemia é de frustração. “Nós já tínhamos iniciado nossos trabalhos e, devido à realidade dessa doença, não se pode ter aglomeração, então não teria como em nenhum momento darmos continuidade à quadrilha porque envolve as pessoas. É uma sensação de frustração”. Mesmo com as atividades paradas para este ano, Seixas afirma que continua motivando seu grupo para fazer em 2021 tudo o que estava planejado para este ano.

Diante da gravidade da crise ocasionada pelo coronavírus, Seixas afirma que a direção do seu grupo já estava prevendo o adiamento das atividades e que isso poderia acarretar o cancelamento de editais para a reailzação dos festejos juninos, como de fato aconteceu. “O cancelamento, para a gente da direção, já era previsto. Agora a minha preocupação é para o ano 2021. Esse cancelamento né? Como é que vai ser os editais para 2021? Isso me deixa muito preocupado, porque, afinal, essa pandemia tirou recursos de todos os cantos, né? E quando está, nessa questão assim, de algum problema referente à economia do país, a primeira coisa que eles cortam é da cultura. Porque eles conseguem ver a cultura como brincadeira e não como algo sério que fortalece todo um povo”.

Seixas afirma que todas as quadrilhas do Brasil dependem diretamente das premiações do poder público, porque eles promovem os arraiás com premiações, o que, de acordo com ele, atende as necessidades dos espetáculos, já que há bastante investimento por parte dos grupos em suas criações. Sobre a questão de algum auxílio destinado pelo poder público para ajudar os grupos juninos esse período de isolamento social, Seixas cita o auxilio de R$ 200,00 reais destinado para a cultura. Alguns participantes das quadrilhas acabam se encaixando nesse perfil, mas por enquanto é só isso.

Para este ano, o grupo está programando algumas lives e concursos a nível nacional.

Edição: Monyse Ravena