RETROCESSO

Sem secretário há um mês e com quatro em 17 meses, Cultura segue sua rota incerta

Regina Duarte saiu, mas sua exoneração só foi publicada 20 dias depois; até agora nenhum substituto foi indicado

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Momentos marcantes da cultura sob Bolsonaro: discurso polêmico de Alvim e entrevista de Regina Duarte à CNN - Foto: Reprodução/Internet

Com a saída de Regina Duarte da Secretaria Especial da Cultura, o setor segue sua rota errática no governo Bolsonaro, em que não se viram políticas efetivas, mas predominantemente manifestações de viés ideológico.

No próximo sábado (20), completa-se um mês em que se confirmou a saída da atriz. No entanto, como mais uma demonstração do abandono da área da cultura, sua exoneração só foi publicada no Diário Oficial da União na edição do último dia 10.

O dublê de ator e apresentador Mario Frias, carioca de 48 anos, chegou a ser apontado como o novo escalado para o cargo. Seria o quinto secretário em 17 meses. Mas não se ouviu mais falar de seu nome, e a pasta segue sem titular.

No site oficial, a última notícia é do dia 3 (“Mercosul debate ações contra impactos do novo coronavírus na Cultura”). Não há qualquer informação sobre autoridades ou agenda.

Liberdade de expressão

O primeiro secretário da Cultura da atual gestão foi o gaúcho Henrique Medeiros Pires, que pediu exoneração em agosto do ano passado, depois da suspensão de um edital para TVs públicas em cinema.

O presidente da República havia criticado produções de temática LGBTQI+ que integrariam esse edital. Pires saiu falando em censura e cerceamento à liberdade de expressão.

Em setembro, foi nomeado o economista paulistano Ricardo Braga, com carreira em bancos e corretoras – era diretor de investimentos quando assumiu a cultura bolsonarista, para, segundo o ministro da Cidadania, Osmar Terra, dar mais “dinamismo e eficiência” aos projetos da pasta.

Durou exatos dois meses: saiu para comandar a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação.

Depois de dois meses com José Paulo Soares Martins como interino, o presidente escolheu Roberto Alvim, vindo da Funarte com a credencial de ter ofendido a atriz Fernanda Montenegro. Entrou e saiu fazendo barulho: foi exonerado após gravar um vídeo com trechos idênticos ao de falas do ministro da Propaganda nazista, Joseph Goebbels.

Novela, pum, ditadura

Seguiu-se uma típica novela envolvendo Regina Duarte, com semanas de indefinição até a aceitação do convite para ingressar no governo, sob olhar de desconfiança dos colegas e comparação da cultura com “pum do palhaço”, sua frase mais lembrada. A gestão ficou marcada, principalmente, por uma tumultuada entrevista à rede CNN Brasil, em que cantou música celebrizada na época da ditadura e fez pouco caso da tortura.

A área da cultura passou por várias mudanças ao longo de sua existência. Foi ministério e também secretaria, como em 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff. Com a reação da classe artística, manteve o status de ministério. No governo Bolsonaro, a secretaria foi subordinada ao Ministério da Cidadania e, posteriormente, ao do Turismo.

Bolsonarista convicto, Frias começou a se tornar conhecido com trabalhos na série global Malhação. Fez novelas como O Beijo do Vampiro e Senhora do Destino – nesta última, por sinal, interpretou um deputado corrupto, Thomas Jefferson. Também atuou como apresentador em programas como O Último Passageiro e Super Bull Brasil, na Rede TV!.

Em postagem do início de maio, Mario Frias, cloroquinista, disse ver na pandemia um caos instaurado que se revelou “um plano sórdido para lavar dinheiro público”. Chegou a usar o termo “Covidão”, referência à covid-19. Apesar das qualificações, seu nome aparentemente saiu da lista.