Coluna

Ainda cabe sonhar, defender nossos direitos e enfrentar o neofascismo

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A vida de mulheres, negros e negras, indígenas, trabalhadores e trabalhadoras, Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Intersexos importa - Paulo Pinto / Fotos Públicas
O alargamento de violências impactam também no adoecimento psíquico dos sujeitos

Por Lucas Gertz Monteiro*

.Em 2019 completou 50 anos da histórica Revolta de Stonewall, ocorrida no dia 28 de junho de 1969. A data é marcada por um levante LGBT contra a violência policial estadunidense, na época corriqueira, principalmente em casas noturnas frequentadas por Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Intersexos. Tal acontecimento é um marco político na luta por direitos civis do movimento LGBT no mundo. A partir daí, além de junho ser considerado o mês do orgulho, o dia 28 é data marcada para a maioria das paradas LGBT.

De lá para cá, muitas foram as conquistas - à passos lentos e ainda desiguais para o todo da sigla -  ao redor do mundo. O debate sobre a diversidade sexual e de gênero é distinto entre os países, há os que possuem constituições federais que proíbem a discriminação a sujeitos LGBT, e outros que ainda estabelecem pena de morte. No Brasil, houve uma série de avanços no âmbito dos direitos sociais, especialmente nos governos Lula e Dilma.

Entre eles, a conquista e reconhecimento do Nome Social, a validação da união homoafetiva perante a justiça, a possibilidade de inserção e atendimento ambulatorial e hospitalar para o processo transexualizador através do Sistema Único de Saúde (SUS) e mais recentemente a criminalização da LGBTfobia e a doação de sangue. Contudo, com a vitória de Jair Messias Bolsonaro nas eleições de 2018, há um aprofundamento do pensamento conservador que, somado a características racistas e patriarcais presentes na formação sócio histórica do povo brasileiro, afetam de forma particular e objetiva sujeitos LGBT, mulheres, negros e negras e indígenas. Sendo assim, estudos realizados pelo Grupo Gay da Bahia apresentam que a cada 26 horas  em 2019 1 LGBT brasileiro perdia sua vida, sendo 297 homicídios (90,3%) e 32 suicídios (9,7%). Ainda, a Rede Trans Brasil afirma que a expectativa de vida de pessoas transexuais e travestis é até 35 anos. Tal constatação mantém o Brasil no ranking de países que mais matam LGBT. 

Atualmente, o mundo vive uma crise sanitária sem precedentes por causa do Covid-19, somada há uma crise econômica mundial presente desde 2008. Na realidade brasileira, essa convergência de crises é ainda mais profunda, sendo também política, social e ambiental. Passados mais de 3 meses desde o primeiro caso do vírus no Brasil, é possível ter uma pequena noção dos impactos na vida dos brasileiros. Segundo o IBGE, o primeiro trimestre de 2020 apresentou uma taxa de 12,2% de desemprego. Além disso, houve uma queda no número de trabalhadores informais que, passou a ficar sem renda, dependendo exclusivamente do Auxílio Emergencial que, após muita mobilização nas redes, pressionou o governo federal a garantir tal direito. 

Não bastasse a negação de direitos, a violação ou a negação de seus corpos, especialmente de transexuais e travestis, a conjuntura coloca ainda duas inquietudes aos LGBT: enfrentar o governo neofascista de Bolsonaro e sua base conservadora, que embora pequena, tem buscado estar nas ruas, sem medo de inflar discursos pró-ditadura, contra as liberdades democráticas, racistas, LGBTfóbicos e machistas; e a pandemia, que têm exposto as violências estruturais do sistema capitalista sobre suas vidas. Estudos iniciais realizados em abril pelo grupo #VoteLGBT apontaram em suas parciais que 21% dos LGBT entrevistados estão sem emprego ou não possuem renda. Além disso, a necessidade de isolamento social aumentou as notícias sobre casos de violência doméstica, principalmente com mulheres e LGBT. O alargamento de violências psicológicas, institucionais, familiares, estruturais e físicas impactam também no adoecimento psíquico dos sujeitos. 

Ao passo que aumentam as contradições devido a crise, surgem experiências e iniciativas importantes para o fortalecimento do povo brasileiro. Nesse sentido, a curto e médio prazo, a solidariedade deve continuar sendo ponto de partida para nossas ações em meio ao enfrentamento do coronavírus, sejam elas na inserção e construção de campanhas mais amplas como o Periferia Viva realizada em todo país pelos movimentos sociais do campo e da cidade, ou também através de ações menores, mas que possuam em seu horizonte o cuidado, a garantia do acesso aos direitos e a contraposição ao projeto de morte que o governo Bolsonaro e outros governos estaduais têm imposto ao povo durante a pandemia. 

Todavia, além da defesa das conquistas dos últimos anos, é papel de todos os setores da sociedade, não somente LGBT, contribuir na luta e constituição de uma sociedade que reproduza menos preconceitos, opressões e violências. E isso perpassa pelo investimento e implementação de políticas inclusivas, democráticas e plurais no âmbito da Educação, Saúde, Cultura, Lazer, Esporte, etc.

Enquanto ainda não é possível que as ruas sejam ocupadas, que esse dia 28 de junho, dia mundial do orgulho LGBT, tome as redes sociais para lembrar que ainda cabe sonhar, defender e lutar pelos direitos do povo e enfrentar o neofascismo representado no Brasil hoje pela figura de Bolsonaro e seus aliados. Por isso, vale lembrar que o dia contará com um “twittaço” com a hashtag #LGBTQIForaBozo organizado pelo Conselho Popular LGBTQI das 13h às 14h; e também com uma mesa no Festival da Resistência às 14h com o tema Orgulho LGBT: Diversidade Resiste! que será transmitida através do site do Levante Popular da Juventude, entre outras programações. 

A vida de mulheres, negros e negras, indígenas, trabalhadores e trabalhadoras, Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Intersexos importa.

*Lucas Gertz Monteiro é estudante de Serviço Social, 2º Diretor LGBT da União Nacional dos Estudantes (UNE) e militante do Levante Popular da Juventude

Edição: Ítalo Piva