Rio Grande do Sul

COMUNICAÇÃO POPULAR

João Pedro Stédile: “O Central do Brasil é a pedagogia da informação”

Dirigente do MST foi uma das lideranças que participou do debate sobre o programa que dá voz aos movimentos sociais

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Também participaram Izadora Brito do MTST e o ex-deputado estadual pelo PSOL Pedro Ruas, que destacaram a importância da unidade nas ruas e na comunicação - Reprodução

Inspirado no título do filme de Walter Salles, nasceu no mês de junho o Central do Brasil. O programa de notícias vai ao ar de segunda a sexta, sempre às 20h, nas redes sociais do Brasil de Fato e Rede Soberania, na Rede TVT, na Rádio Brasil Atual (98,8 FM) e em rádios, televisões e redes de parceiros em todo o Brasil. Tem como uma das missões dar “voz aos movimentos populares” e se transformar em uma rede nacional de comunicação.

“O Central do Brasil é a pedagogia da informação”, afirma o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e integrante da Frente Brasil Popular, João Pedro Stédile. O programa é fruto do esforço dos movimentos sociais, entidades dos trabalhadores e forças políticas de esquerda. “O Central do Brasil é o Fora Bolsonaro alimentado pelas ações de solidariedade, pelas manifestações simbólicas que vão acontecendo, pelas orientações de médicos e cientistas para salvar a vida do povo, e para preparar o pós-Bolsonaro, porque a crise é grave e não resolveremos apenas trocando governo, nem nas eleições de novembro nem em 2022. Por isso é preciso debater ideias.”


Programa é exibido de segunda a sexta-feira às 20h por TVs e rádios comunitárias e educativas de todo o país. / Reprodução

Conforme destaca Stédile, o Brasil nunca viveu uma crise tão grave como a que se está vivendo, com a atual crise de saúde pública frente ao coronavírus. “Eclodiu ao mesmo tempo uma crise econômica, que se transformou em crise social, que se transformou em crise ambiental.” Para exemplificar ele cita a ventania que atingiu a região Sul e a ameaça dos gafanhotos nesta semana, “resultado das agressões que o capital faz contra a natureza”.

Isso tudo em meio a uma crise política que, como ele recorda, vem desde o golpe contra Dilma e a prisão do Lula, e seguiu se agravando. “Transformou-se em crise porque nós temos um governo nacional irresponsável, insano, que em vez de aglutinar forças para enfrentar esse inimigo comum, que é a covid, ele se bandeou para o lado do vírus. Bolsonaro todo tempo trabalhou a favor do vírus e hoje nós chegamos à condição de segundo país do mundo com mais mortes e maior número de casos por dia.”

Ele ressalta ainda que pela primeira vez na série histórica, o número de desempregados e de pessoas fora da força de trabalho superou o de ocupados no país. “Temos 88 milhões de brasileiros desempregados e 86 milhões com trabalho. Nunca antes e em nenhuma sociedade do mundo as pessoas que não têm como trabalhar são a maioria da sociedade, isso é revelador da profundidade da crise que extrapola a covid-19”, aponta Stédile

Uma central para reunir forças


Centrais sindicais e movimentos sociais lançam campanha ‘Fora, Bolsonaro’ / Divulgação

Junto a estratégia de disputa no campo da comunicação, as forças populares e políticas tiraram como linha, para enfrentar essas crises, a construção de uma grande coalizão - a Campanha Nacional Fora Bolsonaro. De acordo com ele, ações estão sendo articuladas em todo o Brasil, no dia 10 de julho, com ações simbólicas nas ruas e nas fábricas.

Na avaliação do dirigente, a burguesia ainda não se decidiu derrubar o Bolsonaro porque quer antes articular uma saída de direita. “Eles tentam se aproximar a setores do centro e até de esquerda. Do lado da classe trabalhadora, ela está impedida de ir às ruas em massa para poder exercitar sua força política”, expõe destacando a falta de força que isso gera para derrubar Bolsonaro. “Há no país um impasse em que nem governo se sustenta, porque está cada vez mais isolado, burguesia que tem força ainda não se decidiu e a classe trabalhadora que já é ampla maioria contra Bolsonaro, mas não pode explicitar sua força na rua.”

Stédile destaca também que é preciso ter o mínimo de unidade nos meios de comunicação. “A esquerda e forças populares têm força com as bases. Conseguimos criar uma força de unidade e com o Central do Brasil, que foi inspirado naquilo que vocês fizeram aí (no RS) na época da Dilma e do Lula, com a Rede da Legalidade (atualmente Rede Soberania), inspirada historicamente pelo importantíssimo legado da Rede da Legalidade de agosto de 1961 que o Brizola organizou no Palácio Piratini, que com uma rede de rádios segurou o golpe militar e conseguiu empossar João Goulart no governo, que os milicos não queriam”, recorda.

“Alimentar a periferia não só com comida, mas com ideias”

“Vivemos um cenário de caos, onde não há muitas saídas eficientes para enfrentar a covid-19. Aliado ao coronavírus, tem o governo genocida de Bolsonaro, que vai levar para conta na história a morte de todas essas pessoas”, enfatizou sobre a atual crise pela qual passa o país a integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e Frente Povo Sem Medo, Izadora Brito.

Izadora recordou que um dos pilares do governo era o suposto combate à corrupção, o que na prática não se sustenta. “Vemos todos os dias mais e mais denúncias, prisão do Queiroz, rachadinha, lavagem de dinheiro das milícias através de empresas de chocolate, laranjal, um lamaçal imundo de corrupção e mortes, isso é o governo Bolsonaro”, afirmou, pontuando a sua absoluta inaptidão em administrar o país.

Conforme frisou, é importante ter movimentações que possam levar ao povo as informações de forma correta e verídica. Para isso, afirma, é preciso usar esses espaços para pressionar, por exemplo, pela cassação da chapa Bolsonaro/Mourão, que precisa ser julgada. “Há provas e recibos de milhões de reais de empresários que pagaram essa milícia digital que levou Bolsonaro ao poder.”

Enquanto o mundo inteiro está investindo na saúde, no Brasil seguimos há 2 meses sem ministro da Saúde, ressaltou. “A conta cai no trabalhador, tudo isso vai ser usado pela direita para aprofundar as desigualdades. Precisamos nos organizar para disputar o presente, salvar vidas e construir o futuro. É tempo de disputar e apontar saídas não à direita, não podemos voltar a uma normalidade burguesa que extermina o povo negro nas periferias, tem que apontar para uma nova sociedade, um futuro, com coragem de usar os meios de comunicação para debater tributação de grandes fortunas, energia limpa, comida sem veneno”, ilustra.

Para ela, ações como o Central do Brasil são mais que necessárias. “Pensar a comunicação desenvolvida no contexto das comunidades, os movimentos sociais e na organização do povo, esse espaço é muito importante para isso. Ações que a gente vem fazendo, alimentar a periferia não só com comida, mas com ideias, debates e voz, o objetivo desse espaço é dar voz.”

“Que nós saibamos todos permitir essa ideia de conscientização”

“Gostei muito da fala do João Pedro sobre a Rede da Legalidade, ali há duas marcas definitivas: a resistência e a unidade. Precisamos resistir e essa unidade na luta faz toda a diferença”, disse o ex-deputado estadual gaúcho Pedro Ruas (PSOL). Destacando estar falando como ativista de movimentos sociais e não em nome do partido, ele frisa que a unidade tem que se dar na luta.

Ruas saúda o Central do Brasil e relembra sua convivência com Brizola durante 26 anos, em que aprendeu que a única coisa que pode deter o caminho do fascismo no Brasil é o movimento organizado de resistência. Segundo ele, o que existe hoje é o governo protofascista que quer resgatar valores absurdos e criminosos da ditadura militar, governo que quer para o país o retorno a um dos períodos mais sombrios que já vivemos. Por outro lado, pontua, enfrentamos uma pandemia brutal e que de novo penaliza os mais pobres, que têm poucas condições de isolamento, de poder cuidar de sua vida e saúde. “Governo Bolsonaro além de fascista, têm essa característica, de negar a existência da tragédia sanitária, que já é hoje uma emergência funerária.”

Processo permanente

Stédile traz a experiência dos movimentos sociais e afirma que é preciso construir de baixo, em um processo permanente. “Cada dia é uma batalha. A equipe do Central do Brasil está fazendo de forma solidária, cada um precisa se tornar um correspondente em cada canto do país. A rede só tem sentido se juntar os elos dos milhares de militantes que temos Brasil afora. Conclamo, ajude a botar nos seus espaços, rádios ou blogs, mas enviem notícias, para que se expressem na nossa Central do Brasil.

Por fim, o dirigente o MST reforça o convite para a grande coalizão para derrotar o atual governo. “Não se esqueça, vamos preparando a Jornada Fora Bolsonaro no dia 10 de julho, temos capacidade de fazer mobilização em 500 cidades, cada um de nós tem que assumir essa responsabilidade”, conclui.

Assista ao debate

João Pedro Stédile, Izadora Brito e Pedro Ruas participaram de um debate virtual sobre o Central do Brasil, na noite desta quinta-feira (02). A live foi promovida pelo Brasil de Fato RS e pela Rede Soberania, com mediação de Katia Marko, editora do BdFRS, e Isnar Borges e Luiz Muller, de Rede Soberania. Assista:

Edição: Katia Marko