Edifício A Noite

Bolsonaro anuncia leilão da antiga sede da Rádio Nacional no Rio de Janeiro

Imóvel histórico foi tombado pelo IPHAN em 2013; primeiro arranha-céu da América Latina, o prédio foi inaugurado em 1929

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
O edifício, inaugurado em 1929, é um marco arquitetônico e símbolo cultural para a cidade do Rio de Janeiro - Tânia Rêgo/Agência Brasil

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou, via rede social, nesta terça-feira (7), o leilão do Edifício “A Noite” em um evento virtual que ocorrerá entre agosto e setembro deste ano. O primeiro arranha-céu da América Latina, localizado na Praça Mauá, no centro do Rio, foi avaliado em R$ 90 milhões.

De acordo com o Ministério da Economia, o edital com o valor mínimo e outros detalhes do processo de venda deve ser publicado nas próximas semanas. O prédio faz parte de uma lista de mais de três mil imóveis da União que devem ser vendidos à iniciativa privada. “Mais uma rodada das inúmeras ações de enxugamento dos gastos públicos e desperdício de dinheiro do pagador de impostos”, disse Bolsonaro em publicação no Twitter ao anunciar o leilão do “A Noite”.

 

 

Patrimônio Histórico

O edifício é um marco arquitetônico e símbolo cultural para a cidade do Rio de Janeiro. O prédio, considerado moderno para a época, com 22 andares e estilo art déco, foi inaugurado em 1929 e ficou conhecido como a sede do jornal A Noite. O projeto do prédio foi desenvolvido pelo arquiteto Joseph Gire em parceria com Elisiário da Cunha Bahiana. A assinatura de Gire pode ser vista em outras edificações na paisagem carioca, como o Palácio das Laranjeiras, o Hotel Glória e o Copacabana Palace Hotel.

Em 18 de maio de 1933, o grupo A Noite decidiu expandir os negócios instituindo a Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional. A emissora foi inaugurada no último andar do prédio em 1936. Em 1940, o governo de Getúlio Vargas, via decreto, encampou o grupo A Noite, a Rádio Nacional e o arranha-céu por conta de dívidas da empresa. Desde então, a emissora se tornou um fenômeno no Brasil com um potencial educativo e cultural que marcou a chamada “Era de Ouro do Rádio”.

Em 1941 estreou na Rádio Nacional o noticiário Repórter Esso e o radioteatro com a primeira radionovela nacional intitulada “Em Busca da Felicidade”. A emissora foi também a primeira do Brasil a utilizar a tecnologia de ondas curtas, o que permitiu a transmissão para todo o território do país.

A Rádio Nacional ocupou os últimos quatro pavimentos do Edifício "A Noite", por onde transitaram ícones da música popular brasileira como Francisco Alves, Orlando Silva, Ataulfo Alves, Marlene Alves, Emilinha Borba e Cauby Peixoto.


Auditório da Rádio Nacional no Edifício "A Noite" / Acervo Rádio Nacional do Rio de Janeiro

A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) ocupou o edifício até 2012. Em 2013, o imóvel foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (IPHAN). No parecer de recomendação do tombamento, o IPHAN ressaltou a importância histórica do "A Noite". “Somos pela finalização da instrução do presente Processo de Tombamento, certos de que o Edifício "A Noite" reúne valores históricos, artísticos e paisagísticos suficientes e inquestionáveis para o devido reconhecimento como Patrimônio Nacional”, diz o relatório. 

Na época em que o edifício foi tombado, a intenção da gestão da EBC era criar um Museu da Rádio Nacional no prédio. Porém, a iniciativa acabou não saindo do papel e, sete anos depois, em maio deste ano, o último resquício histórico da rádio, o auditório do radioteatro da Nacional que abrigou programas lendários como o famoso humorístico “Balança Mas Não Cai” foi desmontado. O governo federal alega que o prédio tem um alto custo de manutenção: R$ 300 mil por mês, assim como outros bens públicos no centro do Rio que também se enquadram na Lei 14.011, de 10 de junho, que facilita a venda de ativos da União.

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Rodrigo Chagas e Mariana Pitasse