Paraíba

LUTO HIP-HOP

Ato simbólico 'Paraíba Pede Paz' será realizado em homenagem a MCs assassinados

Protesto acontecerá no dia 04/08 em razão da morte dos companheiros do hip-hop, Johnatan Felipe e Gacs Lima

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Reprodução - Card

A comunidade Hip Hop PB estará realizando o ato simbólico 'Paraíba Pede Paz', na próxima terça-feira (04), a partir das 14h, na Lagoa, em protesto às mortes dos jovens Johnatan Felipe, o Johny, encontrado assassinado nesta terça-feira (28), e Gacs Lima, encontrado no dia 24/07. O evento pede paz na periferia e levanta protesto pela morte dos companheiros do hip-hop.

Johny, à esq, encontrado nesta terça-feira (28) e Mc Gacs, à dir, encontrado no dia 24/07 / Fotos: Reprodução

 
Jhonny tornou-se um ícone da geração

 
Johnatan Felipe foi encontrado assassinado nesta terça-feira (28). As informações que se tem até agora é de que ele foi raptado em Santa Rita, no bairro onde residia a sua mãe. Ele já havia sumido uma vez e os amigos suspeitam que ele já era vítima de ameaças de morte.

O rapper se aproximou do hip-hop na época da Batalha da Lagoa pois era funcionário de uma empresa no centro da cidade: “Ele começou a conviver com a galera do hip-hop e, de repente, estava rimando com a gente nas batalhas”, conta Jonh Jerônimo, uma das lideranças da Batalha do Coqueiral.

Pai de duas crianças, Jhonny era aluno de administração na UNIPÊ. Na época das atividades das Batalhas nos Bairros, tornou-se importante articulador político do movimento, fazendo reuniões, conversas, e organizando o 1° Encontro Estadual do Hip-Hop PB - ‘Pablo Scobá’, ele percorreu a região metropolitana, visitando grupos, MCs e os breakers.

Mano Gacs

O Mano Gacs teve o primeiro contato com o Hip Hop em São Paulo, e quando chegou à Paraíba, se inseriu nas batalhas da região Sul de João Pessoa, nos bairros Bancário e Castelo branco. Era pai de Ravi, de três anos e morador do Castelo Branco.

Uma nota de Luto foi publicada nas redes sociais pelo Núcleo Rap PB, coletivo formado por organizadores das batalhas de Mc's da PB com objetivo de movimentar a cena em nível Nacional, e com membros em João Pessoa, Campina Grande e Queimadas. Leia a nota:


Reprodução / Card

 

O movimento Levante Popular da Juventude PB também emitiu nota sobre esses crimes. Leia na íntegra

“... Deixa o menino correr, deixa o menino brincar, deixa ele acreditar, deixa o menino sonhar, oh meu Deus ilumine a favela e todos que fazem parte dela… Olha o moleque de favela correndo descalço, atrás de pipa que nem louco nas ruas de barro, ele é do gueto, ele é do beco, é periferia, ele é do corre, ele é do bonde, ele é sintonia...”  
- Gacs Mc ft. Castelos da Mente "Deixa o menino". 

É com muita revolta que, no final do mês de julho de 2020, fomos impactados com a notícia do brutal assassinato de dois jovens que contribuíram grandemente no cenário cultural da cidade de João Pessoa, e da Paraíba. Em menos de uma semana, Gacsiliano Leite (24/07) e Johnatan Felipe (28/07), vulgos conhecidos na cena do RAP paraibano como Gacs MC e Djohny MC, tiveram suas vidas ceifadas em nosso estado. Gacs e Djohny foram dois pais, trabalhadores, sonhadores e propulsores do movimento das ruas que salva vidas e que o Estado mais uma vez descarta. Muitas são as mensagens comoventes dos jovens nas redes sociais sobre a contribuição desses dois grandes MC’s. 
Gacs MC tinha carreira solo e compunha o grupo Castelos da Mente, sempre contribuía no trabalho de diversos artistas da cidade e do seu bairro, Castelo Branco. Djohny MC, morava na cidade de Santa Rita e além de movimentar a cena do Hip-Hop fora da grande João Pessoa, foi um dos primeiros a ajudar na construção da antiga e famosa Batalha da Lagoa, uma das primeiras no estado da Paraíba. 
Ambos com muita humildade, eram base e referência para uma geração e continuarão sendo. A união da juventude é uma das soluções para que possamos ser vistos e respeitados como cidadãos. Queremos a valorização e o espaço em nossa sociedade para a profissão do Mestre de Cerimônia e de quem faz a cultura movimentar vidas, vidas estas que estão sendo eliminadas.
A juventude brasileira vive um delicado momento, onde além de toda exposição à violência e a falta de direitos, o discurso que derrama ódio, criminaliza e assassina essa juventude parece ganhar cada vez mais força. Enquanto se fecham as portas das oportunidades, abrem-se as portas da bala e das cadeias, que nos matam e aprisionam. 
Com a lágrima presa na garganta, e com o grito de rebeldia que não nos deixa calar, queremos denunciar esse mar de sangue e violência que enfrentamos. A juventude não pode e não deve ficar à mercê das mãos dos poderosos que legitimam o seu extermínio e em especial da juventude negra. Por isso, queremos reiterar que não nos calarão! Cada vida tirada de nós será lembrada com muita luta e briga por justiça, e que essa justiça nos alcance não só em forma de cadeia, mas na forma determinada pela lei. 
Os legisladores de uma democracia racista deixam as mortes sem explicações e nos reprimem quando procuramos respostas. Queremos apenas viver, sem precisar sobreviver em meio ao caos que assola os nossos. É a favela que está mais uma vez sendo injustiçada, enquanto a juventude da classe média-alta nunca entra nessa discussão, pois essa brutalidade não os alcança.  A JUVENTUDE DO GUETO É CONTRA O EXTERMÍNIO DAS PRETAS E DOS PRETOS!
 
Queremos justiça.  
Queremos a elucidação desses crimes. 
Queremos que sejam encontrados os culpados. 
E acima de tudo, queremos o fim do extermínio da juventude preta e pobre.

TODO PODER AO POVO!
TODO PODER A JUVENTUDE!

GACS MC
DJHONY MC
PRESENTE! PRESENTE! PRESENTE!

 

 

Edição: Maria Franco