RESISTÊNCIA

Renault cancela negociação e greve contra demissão em massa continua em fábrica no PR

Movimento contra dispensa de 747 trabalhadores caminha para duas semanas. Sindicato denuncia novo plano de demissões

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Trabalhadores votam pela continuidade da greve na fábrica da Renault no Paraná até "que a empresa suspenda as demissões e aceite negociar como Sindicato uma solução", aponta dirigente - SMC

Os trabalhadores da fábrica da Renault em São José dos Pinhais (PR), decidiram, em assembleia nesta segunda-feira (3), manter a greve contra o desligamento de 747 trabalhadores. A mobilização começou no dia 21 de julho, após a montadora francesa anunciar a demissão em massa.

::Greve contra 747 demissões continua mobilização em fábrica da Renault no Paraná::

“A empresa até agora não manifestou um interesse em resolver o problema das demissões. Ela diz que a demissão é necessária por conta do mercado. Enquanto ela tiver com esse posicionamento nós vamos continuar a greve”, relata Paulo Pissinini, trabalhador da fábrica e dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba.

O trabalhador afirma, ainda, que a empresa planeja uma nova demissão de cerca de mil trabalhadores, que seriam recontratados como terceirizados. 

"Ela está com uma estratégia muito pretensiosa de sensibilizar tanto o governo federal como o governo estadual para se beneficiar de incentivos fiscais. Talvez ela queira se redução do IPI, ICMS”, repercute Pissinini

A demissão dos 747 trabalhadores foi anunciada após a categoria rejeitar um Plano de Demissão Voluntária (PDV) proposto pela empresa. De acordo com o sindicato, desde a dispensa dos profissionais há dificuldades no diálogo com a fábrica, que cancelou uma reunião de negociação prevista para esta segunda.

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“Foram várias reuniões durante a semana, mas por parte da empresa não se avançou em nenhuma proposta, nem a de suspender as demissões ou de rever alguns casos. Porque tiveram trabalhadores demitidos que estavam afastados do trabalho por testarem positivo para covid-19. E mesmo assim [a Renault] demitiu esses trabalhadores”, afirma.

Para os trabalhadores, a montadora francesa teria outras saídas as demissões como o lay off, banco de horas, suspensão temporária, redução de jornada, mas não sinalizou nenhuma das opções.

Lei estadual

A entidade também tenta diálogo com os governos estadual e municipal, exigindo a aplicação da lei 15.426/2007. A norma prevê que as empresas que receberem incentivos fiscais de qualquer natureza para implantação ou expansão de atividades no Paraná – como no caso da Renault – deverão promover a “manutenção de nível de emprego e vedação de dispensa”.

Entretanto, segundo o sindicato, há “uma morosidade do governador” Ratinho Jr. (PSD) na mediação. “O governo do estado não tem a preocupação de buscar solução contra as demissões, porque eles têm um compromisso maior com as empresas não com os trabalhadores”, expressa o metalúrgico.

A unidade brasileira da montadora francesa empregava, até as demissões, 7,3 mil trabalhadores, que produzem os modelos Sandero Stepway, Logan, Kwid, Duster, Oroch, Master e Captour. A fábrica ainda conta com uma unidade de motores e injeção de alumínio.

A Renault havia informado que o corte dos funcionários no Paraná faz parte da estratégia mundial de enxugamento da estrutura, e afirmou agora, em nota, que o cenário queda das vendas da Renault em 47% no primeiro semestre e a falta de perspectiva de retomada do mercado que levaram as demissões não mudou e que, portanto, "não há previsão de reintegração" dos trabalhadores.

Questionada pelo Brasil de Fato sobre a possibilidade de uma nova leva de demissões, a montadora negou e informou que haverá apenas deslocamento de colaboradores a partir de 2022. "Haverá o deslocamento de colaboradores para funções ligadas à fabricação, num limite de até 350 postos de trabalho. Esta ação se aplica somente para funções que não fazem parte diretamente do processo de produção.Portanto, não há previsão de demissão de 1050 colaboradores conforme informado pela Sindicato", diz o texto. Até o momento não há nenhuma nova rodada de negociação marcada. 

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Cenário nacional

A situação dos metalúrgicos da Renault, infelizmente, é uma realidade para 7,9 milhões de trabalhadores que foram demitidos de janeiro a junho deste ano, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Foram cerca de 1,2 milhões de vagas perdidas de emprego com carteira assinada, ainda de acordo com os dados computados pelo governo.

Neste período, a indústria foi o terceiro setor com maior perda de postos de trabalho, cerca de 247 mil. Ficou atrás apenas do setor de serviços, que teve uma perda de 508 mil e do comércio, que demitiu 474 mil.

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“Qual a nossa avaliação? Primeiro aqueles setores que são os não essenciais, automóvel, calçado, vestuário, foram o que demitiram rapidamente quando iniciou a pandemia. Após 60 dias já verificou demissões", explica o metalúrgico e dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Rio Grande do Sul, Milton Viário.

"Setores chamados essenciais, ela está se mantendo, por exemplo, na atividade da alimentação a gente registra um pequeno aumento na contratação. A indústria que trabalha com alimentação, por exemplo, indústria de máquinas agrícolas, implementos agrícolas e não tem demissão”, pontua o dirigente sindical.

Já os segmentos ligados a montagem de caminhões e ônibus, houve processos de redução de jornada com redução de salário e suspensão de contrato de trabalho. O que preocupa o dirigente é que com o fim das medidas nos próximos 60 e 90 dias deve haver um quadro de mais demissões e provavelmente um aumento no processo de fechamento de emprego, visto que as empresas não terão mais estas ferramentas para “prorrogar a crise”, como definiu ele. 

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“Após agosto a expectativa é que se não houver retomada da atividade econômica, se o governo federal, não tomar iniciativas nesse sentido de fomentar a atividade economia, seja ela com as compras governamentais, as obras de infraestrutura,  financiamento, crédito para as empresas, principalmente, as pequenas e médias empresas aonde o governo abriu linhas, mas não consegue efetivar. A tendência é o agravamento das demissões e evidentemente ai também vamos ter o problema da circulação da renda no meio dos trabalhadores”, avalia Viário, que também pontua que a atividade econômica que está recuando em torno de 20% numa média entre vários setores. 

Edição: Rodrigo Chagas