Pernambuco

EDUCAÇÃO

Após 5 meses sem aulas, universidades públicas de Pernambuco iniciam ensino remoto

Falta de acesso à internet e computadores assusta alunos; Saiba quando e como cada instituição funcionará

Brasil de Fato | Recife (PE) |
A UFPE vai dar início ao período letivo suplementar para os cursos de graduação no dia 17 de agosto - Passarinho/Ascom UFPE

As universidades públicas de Pernambuco lançaram o semestre suplementar 2020.3 através de ensino remoto para os estudantes que tiverem interesse e condições de realizar as disciplinas através da internet. Ainda não existe previsão para o calendário acadêmico dos semestres 2020.1 e 2020.2, que  permanecem suspensos.

Com as suas aulas paralisadas desde 18 de março, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade de Pernambuco (UPE) e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) já estão com data prevista para retomada das atividades. Já a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), está realizando uma pesquisa entre seus estudantes para analisar a proposta de ensino remoto. 

Em todas as universidades que decidiram implementar a proposta do ensino remoto, o semestre é facultativo tanto para os estudantes quanto para os professores. Também estão sendo implementados projetos para a inclusão digital dos estudantes de acordo com o perfil socioeconômico de cada um, ainda que cada universidade apresente alternativas distintas. Saiba como cada universidade vai atuar:

UFPE 

A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) vai dar início ao período letivo suplementar para os cursos de graduação no dia 17 de agosto. Neste período, as atividades acadêmicas da graduação serão realizadas através de ferramentas de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), enquanto durar a suspensão das atividades presenciais devido à pandemia do coronavírus. A adesão facultada aos professores e aos estudantes. 

Ao solicitar a matrícula, o estudante assume que dispõe de recursos tecnológicos e dos materiais necessários para a sua realização. Caso não possua condições de acesso satisfatório à rede de computadores, o estudante deve encaminhar à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proaes) solicitação de inclusão no Programa de Inserção Digital, que ocorrerá através da oferta de plano de dados móveis por meio da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP).

“O ensino remoto não é a mesma coisa que presencial, eu mesma tenho dificuldade de atenção e não consigo aprender da mesma forma que em aulas presenciais. Além disso, nem todo mundo tem internet, computador e celular smartfone, eu mesma só tenho celular, mas me matriculei” afirmou Andreza Oliveira, estudante do 8º período do bacharelado em Educação Física. 

Ela, que está na reta final do curso, fala da frustração da turma com a interrupção das aulas  “estávamos com uma expectativa muito grande de terminar o curso, mas foi muito frustrante pra mim ver que tudo parou. de início pensamos que seria só um mês sem aulas, nunca imaginamos que seria tanto tempo. Pra mim foi muito difícil, a frustração dos planos, ver tanta gente morrendo, tanta gente sofrendo e a ansiedade gerada por tudo isso”.

Para os professores, a situação também é desafiadora "Tem demandado um desafio fazer com que esse aporte tecnológico computacional possa subsidiar esse processo de ensino e de aprendizagem, fazendo com que o aluno aprenda de fato e, do ponto de vista do professor, no sentido de que essas tecnologias possam facilitar o processo de ensino", afirmou Edeson Siqueira, professor do Departamento de Expressão Gráfica da instituição e presidente da Associação de Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (ADUFEPE).

UPE

Na Universidade de Pernambuco (UPE), o semestre extra para graduação com aulas virtuais terão início no dia 08 de setembro e encerram em 25 de novembro. A adesão dos estudantes ao novo semestre na universidade estadual é facultativa. As propostas de disciplinas serão apresentadas pelos docentes, que não poderão exigir atividades presenciais. As aulas não poderão ser ministradas em feriados ou dias considerados pontos facultativos, mas podem ser realizadas aos sábados.

"Nós estamos compreendendo o ensino remoto como resposta ao momento em que estamos vivendo e, com isso, negociamos com a reitoria da universidade para que os estudantes não saíssem prejudicados dentro desse período emergencial, garantindo que não contasse reprovação para o estudante e um limite de duas horas para cada aula e que fosse uma escolha do estudante participar ou não" disse o coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes da UPE e estudante do bacharelado em Saúde Coletiva, Luca Moura, "Conseguimos garantir que a universidade abrisse um edital ofertando pacote de dados ou tablets/computadores para esses estudantes".

“A universidade tem tentado buscar formas e meios para o ensino híbrido, mas ainda não tem sido eficaz, como o Google Classroom. Uma resposta que a UPE não consegue nos dar é ‘o que acontece com esse professor que se autodeclarar incapacitado?’” questiona Janne Freitas, professora do departamento de Psicologia do Campus Garanhuns e tesoureira da Associação de Docentes da Universidade de Pernambuco (ADUPE).

Ela também explica quais direitos foram conquistados “o docente tem direito a não participar do período suplementar, caso não se sinta capacitado para dar aulas remotamente. Também insistimos que a UPE formasse uma comissão para o acompanhamento das aulas remotas, mas não conseguimos, o planejamento será acompanhado apenas pela gestão”

Em nota, a assessoria informou que a Universidade está estudando a elaboração de um edital específico de auxílio emergencial de inclusão digital para atender aos estudantes que não possuem acesso à internet ou equipamentos para participação das aulas remotas. 

UFRPE

A Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) criou o Período Letivo Excepcional (PLE) que terá início no dia 17 de agosto e terá duração de 10 semanas. Com adesão opcional por docentes e estudantes, as  atividades acadêmicas da graduação realizadas através do ensino remoto.

 A universidade irá oferecer um auxílio de inclusão digital para os estudantes que não possuírem acesso à internet ou equipamentos para assistir às aulas. “Uma parcela dos estudantes não têm acesso à internet. Tentamos construir junto com a universidade um projeto que pudesse atender os estudantes. Não é a resposta que a gente queria, mas precisávamos de uma resposta” disse Marcos Antônio, que cursa  a Licenciatura em Química na UFRPE e é integrante do Diretório Acadêmico de Licenciatura em Química da UFRPE (DALQ/UFRPE).

Por outro lado, a estudante Natasha Barroca, do 9º período do bacharelado em Ciências Domésticas avalia que as aulas online são uma possibilidade para turma "Teve uma pressão do nosso departamento, que é o Departamento de Ciências do Consumo, uma vez que nós já estamos concluindo.", falou a estudante, que vê o ensino remoto como algo que não é positivo ou negativo, mas necessário, "É difícil não ter esse apoio mais próximo. Digo que infelizmente eu vou aderir o ensino remoto, porque não estava dentro dos meus planos. Eu não achei nem positivo ou negativo, porque muita gente não tem o acesso. Por ser uma questão eletiva, gera uma disparidade muito grande entre os estudantes que não tem o mesmo acesso".

Univasf

Já a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) elaborou uma proposta para criação do Sistema Excepcional de Atividades Remotas (Sear). A ideia é possibilitar a oferta de atividades acadêmicas remotamente para os estudantes de graduação e pós-graduação da Univasf. Até o momento, a instituição não tem previsão para implementação da proposta, mas está realizando uma pesquisa para analisar se existe interesse e condições para a realização do ensino remoto.

Os estudantes ainda estão receosos sobre a proposta e aguardam um posicionamento da universidade “Eu tenho observado que muitos são meus colegas que não tem acesso nem à internet ou computador, que ficaram de certa forma prejudicados. Imagino como vai se dar essas atividades remotas, pois acredito que não é o suficiente para contemplar as cadeiras que estou pagando”, afirmou Heberte Fernandes, estudante do bacharelado em Agronomia da Univasf.

A estudante do bacharelado em Ciências Biológicas da Univasf, Jéssica Albuquerque, observa a importância das pesquisas de campo para o seu curso, que só podem ocorrer presencialmente. “É muito difícil, porque meu curso tem aulas frequentes no campo, então não poderíamos ter isso no ensino remoto. Acho que seriam poucas as aulas disponibilizadas, caso seja implementado o ensino remoto”, disse  Jéssica, que também analisa a dificuldade quanto ao acesso,  “aqui em casa eu, a minha mãe, o meu irmão e a minha irmã estudamos, então não sei como seria pra ter aulas porque são quatro pessoas com um só computador”.

Edição: Vanessa Gonzaga