Coluna

A Paraíba contra a extrema direita em SP

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A Dança dos Tapuias, índios da Paraíba, retratados pelo pintor holandês Albert Eckhout - Albert Eckhout.
A luta política também jamais ficou de fora do cotidiano dos nordestinos e nordestinas em São Paulo

Por Olímpio Rocha* 

Vem do Nordeste, mais especificamente da Paraíba, a reação contrária ao avanço do fascismo e da extrema-direita que  se preparam para disputar as eleições municipais na maior cidade brasiliera, São Paulo, nas eleições de novembro. 

Guilherme Boulos e Luiza Erundina, pré-candidato a prefeito e pré-candidata a vice-prefeita de São Paulo, com reais chances de vitória nas eleições de novembro, além de serem quadros do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que busca viabilizar uma frente ampla de centro-esquerda para enfrentar o bolsonarismo e a extrema-direita na capital paulista, têm algo mais em comum: ambos têm raízes genuinamente nordestinas, mais especificamente, paraibanas.

Erundina é de Uiraúna, cidade no alto sertão paraibano, terra natal que ela deixou para cursar o ginásio em Patos, a faculdade em João Pessoa e, depois, começar a vida profissional em Campina Grande, que a teve como Secretária Municipal de Educação e Cultura. Depois, partiu para São Paulo, onde foi aprovada em concurso público para assistente social e trilhou a carreira política por todos reconhecida uma das mais brilhantes e respeitáveis da esquerda brasileira.

Enquanto esteve na Paraíba, Erundina se destacou pela participação ativa no apoio à organização das Ligas Camponesas, lideradas por Biu Pacatuba, João Pedro e Elizabeth Teixeira, entre outros, na região da mata paraibana, as quais foram embrionárias para o surgimento de outros grandes movimentos sociais de luta pela reforma agrária, como o próprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Em Campina Grande, Erundina foi uma das pessoas diretamente responsáveis pela criação do Curso Superior de Serviço Social, da antiga Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), ao lado de figuras históricas locais como a Irmã da Caridade Zuleide Porto, grande benemérita da cidade, e o Reitor Edvaldo Souza do Ó, que também foi Secretário de Educação do Município.

Guilherme Boulos é filho de um casal de médicos, estudou em bons colégios, diplomou-se em Filosofia na Universidade de São Paulo (USP), é psicanalista, viveu em áreas de ocupação, condição que o levou a coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, e foi o candidato a Presidente da República mais jovem da história do Brasil, em 2018,  pelo PSOL, aos 35 anos de idade.

A mãe dele é a Dra. Maria Ivete Castro Boulos, infectologista com destacada atuação na coordenação do Núcleo de Atendimento a Mulheres Vítimas de Violência Sexual, no Hospital das Clínicas, vinculado a USP, em São Paulo. Ela é militante destacada não só em torno das pautas feministas, como também na luta contra o racismo e, mais recentemente, em torno da prevenção e combate à pandemia do novo coronavírus, como não poderia deixar de ser, haja vista sua área de especialização.

Natural de Campina Grande, a Dra. Maria Ivete é formada pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa, tendo saído da Paraíba para fazer a residência em São Paulo, onde se fixou, fez mestrado, casou e constituiu família. Consultora técnica da Organização Mundial da Saúde (OMS), não esconde que é uma entusiasta da militância do filho Guilherme, que agora se prepara para encarar o desafio de ser candidato a prefeito e governar a maior cidade que ela escolheu para viver.

Boulos e Erundina, assim como milhões de brasileiros, paulistanos ou não, têm no sangue o Nordeste, têm nas veias a Paraíba! Maria Ivete e Luiza, paraibanas que migraram voluntariamente para São Paulo, mostram que o discurso preconceituoso que vaticina que nordestinos e nordestinas só se mudam para o sudeste em razão de seca e miséria é amplamente falacioso. A migração tem múltiplas razões, que vão desde a falta de oportunidades até a  escolha própria, rumo à busca por melhores condições de vida e possibilidade de atuação concreta em torno daquilo em que se crê, seja no serviço social ou na medicina, por exemplo.

As figuras do "cabra-macho” que não leva desaforo pra casa e da mulher de força incansável que não mede esforços pelo sustento da família, retratadas simbolicamente por Lampião e Maria Bonita, foram comumente ligada aos migrantes nordestinos e nordestinas como símbolo de coragem, força e determinação. Igualmente, era demonstrando capacidade de trabalho e abnegação que os migrantes reagiam às eventuais hostilidades que lhes eram impingidas, de maneira que é inegável que São Paulo não seria tão grande e economicamente tão relevante como é hoje se não fosse pelo Nordeste e seu povo.

A luta política também jamais ficou de fora do cotidiano dos nordestinos e nordestinas em São Paulo, como deixam claro as trajetórias da médica de Campina Grande que se transformou numa grande e respeitada militante dos Direitos Humanos na capital paulista e mãe orgulhosa do futuro prefeito da cidade, e da assistente social sertaneja que lutou contra a ditadura, foi vereadora, deputada federal, ministra, a melhor prefeita da história e que será a próxima vice-prefeita da maior cidade da América Latina!

Assim como o sol nasce primeiro na Ponta do Seixas, no extremo leste americano, em João Pessoa, nascerá também a esperança da luta concreta contra a extrema-direita raivosa, preconceituosa e burra que assola o país! Vamos dizer quem construiu o Brasil! Vamos mostrar e defender a Frente Ampla contra o Fascismo que vem da Paraíba! Viva Maria e Ivete e Luiza! Viva Boulos e Erundina! 

 
OLÍMPIO ROCHA – Advogado Popular, Professor Universitário, Membro do Conselho Estadual de Direitos Humanos da Paraíba

Esse é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

 


 

Edição: Rodrigo Durão Coelho