Sinais da covid

Coronavírus causa sintomas variados e não pode ser comparado à gripe

Inflamações atingem diversos órgãos do corpo e número de assintomáticos pode ser menor do que se pensava

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Preparação de amostra para teste da covid-19 - CDC/ James Gathany
É importante a gente ressaltar que isso não é só uma gripezinha

Na semana em que o Brasil ultrapassou a marca das 100 mil mortes pela covid-19, vieram a público conclusões de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas que sugerem novas visões sobre os sintomas da doença entre os pacientes brasileiros. Além da reafirmação de que as reações do corpo vão além das sensações causados por quadros gripais, o estudo indicou que a porcentagem de assintomáticos pode ser menor do que se imagina. 

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Os pesquisadores testaram mais de 30 mil pessoas e entre os que deram positivo para a covid-19, apenas 12% não relataram sinais da doença. Quase 60% disseram ter sentido dores de cabeça e 52,1% passaram por quadros de febre. 56,5% tiveram perda, mesmo que parcial, no olfato e no paladar. A tosse foi relatada por 47,7%  e as dores no corpo foram sentidas por 44,1%.

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Nesta edição do podcast A Covid -19 na Semana, o médico Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que os relatos de perda de olfato e paladar são importantes para reforçar sintomas que diferenciam a covid-19 de um gripe comum. A partir desses sinais, o diagnóstico pode ficar mais evidenciado.

"Os principais sintomas são dor de cabeça, febre, tosse e dor no corpo. É um conjunto de principais sintomas e que estão presente no que a gente chama de síndrome gripal. Mas tem um outro sintoma que a gente pode destacar e que se diferencia, que são as mudanças no olfato e no paladar. É muito comum o paciente com covid dizer que parece estar comendo papelão."

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Aristóteles explica que os primeiros sintomas estão relacionados ao sistema respiratório porque essa é a porta de entrada do vírus no corpo humano. "Porque a gente alerta tanto para a falta de ar? Porque ele termina atingindo os chamados alvéolos pulmonares, onde ocorre a troca de oxigênio e gás carbônico. Nesse alvéolo, a doença causa uma inflamação. Nesse momento, sobra menos espaço para a troca de oxigênio. A pessoa está lá respirando, o ar entra e sai, mas ele tem menos espaço e assim há uma troca insuficiente de oxigênio."

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Ainda de acordo com o médico, já está evidenciado o caráter sistêmico - ou seja, atinge vários órgãos do organismo -  que o coronavírus atinge ao entrar no corpo humano. "É importante a gente ressaltar isso, o assunto entrou até na política, mas não é só uma gripezinha. Os primeiros sintomas vão estar relacionados a essa invasão do sistema respiratório, mas há outros sintomas menos comuns."

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Aristóteles destaca as consequências inflamatórias que vêm sendo registradas em outras partes do corpo. "Um desses sintomas menos comuns é a diarreia. Não é esperada uma diarreia durante uma gripe. Mas por que isso acontece? Estão descobrindo que o vírus que causa a covid-19 também tem uma afinidade com o nosso trato gastrointestinal, o estômago e o intestino. Ele também vai desencadear inflamações nesses órgãos. Isso também acontece, por exemplo, com o coração, o que causa sintomas com palpitações."

Edição: Rodrigo Durão Coelho