O tempo não é uma linha contínua, mas um cruzamentos de fios, uma rede que nos enreda, uma trama que nos reclama.
Num desses fios ainda sou uma criança. Olho os adultos e não os entendo. Por que tanta pressa, tanta correria?
Em outra linha sou um ancião. Sábio. Apaziguado. No entanto, mais ao lado, este mesmo ancião é um velho amargurado, praguejando contra a vida que poderia ter sido e que não foi.
Em outra parte do tecido, sou um jovem – ora afoito ora melancólico. Conversando numa festa. Voltando para casa sozinho. Chutando pedras no caminho.
Ali eu estou ainda nascendo. Mais adiante estou escrevendo, concentrado, o olhar perdido. Aproximo-me para ver o que ele (eu) está escrevendo. Ora, é este texto.
O tempo não é uma linha contínua. Mas uma rede, uma trama, um sudário. Como um texto. Como este texto.