Análise

Artigo | Por que cresceu a popularidade de Bolsonaro

Popularidade é uma combinação entre a condução econômica e o discurso da sabedoria que se sobrepõe à racionalidade

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Quando Bolsonaro acenou em manter a agenda neoliberal, tucanos e afins partiram para o abraço - Isac Nóbrega/PR

Parece evidente que o auxílio emergencial tem peso no humor nacional em relação a Bolsonaro e que é uma perda de tempo querer negar isso. Os 600 reais, que podem chegar a 1.200 em casos de mulheres chefe de família, são um fator determinante para o crescimento da popularidade do presidente entre os mais pobres – 1.200 reais são mais que um salário mínimo, distribuídos a dezenas de milhões de pessoas.

Mas Bolsonaro também conseguiu se blindar da ineficácia do apoio a pequenas e médias empresas no início da pandemia e também está surfando nas camadas médias com os recursos que foram liberados nos últimos dois meses para este setor, com seis meses de carência e anos para pagar.

Essas duas medidas impediram o naufrágio total da atividade produtiva, enquanto o discurso de "não parar a economia" por conta da covid operou na construção ideológica. Se a economia não parou, diante do caos previsto, isso seria obra de Bolsonaro, que entendeu a necessidade de aceitar um "sacrifício" de poucos em nome de um bem maior, a preservação da economia de todos.

Na esquerda a ignorância sobre o auxílio às pequenas e médias empresas é monstruoso. Não vejo um comentarista de Facebook incluindo essa questão na avaliação dos dados da pesquisa Datafolha.

Portanto, é uma combinação de condução econômica a soluços e o discurso da sabedoria – doença passa, afinal os mortos não votam – que se sobrepõe ao discurso da racionalidade, da organização e do planejamento na saúde e na economia.

Quer explicar o sucesso de Bolsonaro? Comece pela desinformação da esquerda e pela falta de discurso (ou seja, de oposição real) para os trabalhadores que não tiveram opção de parar: os trabalhadores dos frigoríficos, os trabalhadores do transporte público, da saúde, dos supermercados, do telemarketing, que levaram literalmente o trabalho pra casa, em condições ainda mais precárias do que antes.

Soma-se a isso tudo a crença de que os 70% iriam abandonar o neoliberalismo em nome da civilidade e da humanidade. Quando Bolsonaro acenou em manter a agenda neoliberal, tucanos e afins partiram para o abraço. A Globo passou a tratá-lo gentilmente, depois de semanas de pancadaria.

Quem vai abandonar, em breve, assim que tiver forças, o neoliberalismo das contas públicas equilibradas será Bolsonaro. Teremos então um mundo de contradições: dinheiro sendo distribuído à farta, mantendo a economia animada, enquanto direitos sociais, pagos com os impostos, serão miseravelmente cortados: educação, saúde, políticas transversais, direitos humanos.

Teremos o neoliberalismo sem contas públicas equilibradas, com apoio do Novo e de parte do PSDB, inclusive. E, o que garantirá o apoio de Bolsonaro por muito tempo, com uma redução da desigualdade de renda significativa, ainda que com piora na igualdade se pensarmos em termos de desenvolvimento humano.

Como responder a isso? Organização, paciência e resistência.