Minas Gerais

DIREITOS HUMANOS

Artigo | Capa de jornal valoriza versão do estuprador

Diretor de sindicato critica danos aos direitos humanos com a falta de democratização da comunicação

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
capa do super
" Isso NÃO é liberdade de imprensa. Isso, sim, precisa de regulamentação. O Brasil virou um inferno fundamentalista sem precedente na América Latina" - Reprodução

Vittorio Medioli é um megaempresário, que também é político, ex-deputado federal pelo PSDB de Minas e atualmente prefeito de Betim, na Grande BH. Vittorio é um dos maiores empresários da comunicação do país, responsável, entre outras coisas, pelo jornal Super, que comete esse crime e essa tragédia absoluta na sua desgraçada capa de hoje, 19 de agosto de 2020.

Para quem não sabe, o jornal Super alcançou, na última década, o posto de jornal mais vendido de todo o Brasil, ultrapassando a Folha de S. Paulo. Um veículo destinado ao público em geral, com foco nas classes populares, trazendo hoje em tristes letras colossais a apologia ao estupro, a legitimação e quase elogio à fala de um estuprador de criança, a naturalização estupefaciente e podre de um dos crimes mais cometidos dentro das casas brasileiras, um passe simbólico violento e massificado para a barbaridade.

A capa do jornal do megaempresário Vittorio é a pior e mais horrível prova da ignorância e brutalidade dos poucos senhores da mídia brasileira

Vitorio Mediolli sempre foi, como empresário e político, ardente opositor do movimento pela democratização dos meios de comunicação e contrário a qualquer debate sobre a regulamentação e o controle social do que se produz e se transmite a partir do poder desproporcional de um enorme veículo formador de opinião como o Super Notícia, a Rede Globo, a Folha, a Bandeirantes e o resto de meia dúzia de famílias milionárias que concentram o monopólio comercial e (pior ainda) discursivo do jornalismo brasileiro.

Em 12 de abril de 2015, Medioli escreveu em sua coluna no jornal O Tempo: “Não se enxerga porque, agora, surgem tantas preocupações de limitar uma liberdade que é indispensável para qualquer democracia”. Sempre com o discurso mentiroso e infantil de “o PT quer censurar a imprensa”, os donos de jornais no Brasil nunca quiseram conversar sobre os limites e a função social das suas empresas e de seus lucros.

E nunca nem souberam ou fingiram não saber que, dentro do movimento de décadas criado pelo Fórum Nacional de Democratização da Comunicação, das discussões que travamos aqui no estado dentro do Sindicato dos Jornalistas, sempre esteve entre os temas prioritários a preocupação com os direitos das crianças e dos adolescentes diante do poder e da ganância dos meios de comunicação do país.

Pois bem. A capa do jornal do megaempresário Vittorio é hoje a pior e mais horrível prova da ignorância e brutalidade dos poucos senhores da mídia brasileira. Donos de um negócio em que, para vender mais, cabe até violentar, de novo, uma criança de dez anos que já foi violentada pelo monstro que vira quase herói no jornal mais distribuído do Brasil. Não, Vittorio. Isso NÃO é liberdade de imprensa. Isso, sim, precisa de regulamentação. O Brasil virou um inferno fundamentalista sem precedente na América Latina.

A vontade de chorar, desistir, o desespero que entorna a cada dia com as últimas notícias traz à nossa alma, castigada, a dúvida lacerante do “como será que chegamos até aqui”? Essa pergunta tem resposta. E ela passa, em grande parte, pela crueldade gananciosa, arrogante e desgraçada dos milionários donos da imprensa brasileira ao longo dos últimos 30 anos. Chega.

Artênius Daniel é diretor do Sindicato dos Jornalistas Prossionais de Minas Gerais

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Edição: Antônia Sampaio