Testagem

Terceirizada proíbe funcionários de fazerem teste de covid-19 oferecido por hospital

Hospital Heliópolis está disponibilizando o teste, mas Apetece não autorizou os funcionários terceirizados a fazer

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Teste sorológicos são capazes de detectar a presença de anticorpos, que aparecem 10 dias depois da infeção por covid - Fotos: Jefferson Peixoto/Secom

Funcionários da empresa terceirizada Apetece foram proibidos de realizar o teste para covid-19 disponibilizado para os trabalhadores do Hospital Heliópolis, da rede pública de saúde do estado de São Paulo.

Os terceirizados da Apetece que trabalham na área de alimentação do hospital foram notificados que não poderão realizar o teste. A justificativa utilizada pela empresa é de que não há outros trabalhadores terceirizados para repor a equipe, caso muitos testem positivo para a doença. 

“Se um pegar, ok. Mas se 10 testarem positivo, eu faço o quê? Não tem gente para repor”, afirmou a representante da empresa em uma reunião em que os trabalhadores se manifestaram sobre a questão. O Brasil de Fato teve acesso ao áudio da reunião.

O Hospital Heliópolis chegou a pedir autorização para a Apetece para testar os terceirizados, mas a solicitação foi negada.


Comunicado do Hospital Heliópolis / Acervo pessoal

Segundo o médico infectologista Eder Gatti, do ponto de vista trabalhista é “muito ruim aplicar uma determinada política para alguns e trabalhadores e distinguir os terceirizados. Eu acho um equívoco”. Para ele, a mesma política de testagem, bem como de isolamento social, deve ser aplicada para todos os trabalhadores, sejam empregados diretos ou terceirizados, “porque o ambiente de trabalho é um só”. 

Proibir parte dos funcionários de acessar o teste de covid-19 “só mostra a fragilidade do regime terceirizado”, afirma o médico. “Se existe um protocolo, esse protocolo deve ser aplicado de forma homogênea, seja o trabalhador direto ou terceirizado. Geralmente o terceirizado não tem todo esse amparo, principalmente aqueles que têm vínculo precarizado”, conclui.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo afirmou que não pode obrigar a empresa terceirizada a autorizar o teste em seus funcionários. Ainda disse que, de sua parte, está realizando todos os procedimentos da maneira correta para testar os funcionários. 

“É oferecida testagem a todos os profissionais que atuam no Hospital Heliópolis, incluindo terceirizados. A oportunidade está disponível a todas as empresas, sendo responsabilidade das mesmas responder ao convite. O Hospital segue todos os protocolos de segurança para profissionais e pacientes”, defendeu a pasta. 

A Apetece foi procurada pelo Brasil de Fato. Em nota, a empresa afirmou que houve um mal entendido em relação à posição da empresa sobre a testagem no hospital Heliópolis. A posição oficial é que a empresa deixa a cada colaborador a decisão de participar ou não. Os que quiserem poderão participar, de forma planejada e organizada para assegurar o pleno atendimento, sem interrupções ou transtornos para o hospital".

Nesta quarta-feira (19), o Brasil alcançou a marca de 111.100 mortos por covid-19, causada pelo novo coronavírus. Nas 24h anteriores, foram registradas 1.212 vítimas fatais da doença, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Entre terça e quarta surgiram 49.298 casos de covid-19 registrados pelo país. Desde o início da pandemia o Brasil já somou 3.456.652 casos oficiais. 

Outros casos

A empresa já se envolveu anteriormente em escândalos como esse. Em 2017, servidores públicos de São Caetano (SP) reclamaram que larvas foram encontradas na alimentação servida pela Apetece. Na ocasião, a Prefeitura encerrou o contrato com a empresa. 

Também em 2017, a empresa se envolveu em um esquema de superfaturamento na venda de merendas para a Prefeitura de Campinas. Na ocasião, a Apetece teria realizado cotações até 93% mais caras do que as encontradas no mercado.

Edição: Leandro Melito