Rio Grande do Sul

Educação

Aulas presenciais não devem ser retomadas até o fim da pandemia, defendem entidades

Posição foi reforçada por representantes do setor da educação durante live da CUT-RS realizada nesta quarta-feira (19)

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Para debatedores não há condições para aulas presenciais - Reprodução

Ao contrário da proposta de calendário do governador Eduardo Leite (PSDB) para retorno gradual das aulas, representantes dos setores da educação do estado reafirmam que as aulas presenciais não devem ser retomadas no Rio Grande do Sul até o fim da pandemia de covid-19. A avaliação foi reforçada em debate promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), no início da noite desta quarta-feira (19), sob o tema "Volta às aulas, vidas em risco".  

Participaram a presidente do CPERS Sindicato, Helenir Aguiar Schürer, o presidente da Adufrgs Sindical, Lúcio Vieira, o diretor do Sinpro-RS, Cássio Bessa, e o conselheiro da Associação de Mães e Pais pela Democracia, Volnei Piccolotto. A mediação foi da secretária de Movimentos Sociais da CUT-RS e presidente do SindiServ de Caxias do Sul, Silvana Piroli.

“O governador joga a responsabilidade da retomada do calendário escolar nas mãos dos prefeitos, que afirmam, em sua grande maioria, serem contrários à volta das aulas presenciais. Muitos deles sabem que as escolas de suas cidades não possuem condições para cumprir os protocolos sanitários exigidos pela Secretaria de Educação (SEDUC)”, afirmou Silvana ao destacar que a pesquisa feita pela Famurs apontou que 94% dos 442 prefeitos gaúchos que responderam são contrários à proposta do governo Leite, que prevê o retorno da Educação Infantil a partir do próximo dia 31.  

Por sua vez, Helenir rejeitou o calendário do governador, alertando ser totalmente inviável e que o retorno pode agravar ainda mais a pandemia no RS. “Muitos infectologistas afirmam que as crianças vêm recebendo o vírus de forma diferente, a maioria de forma assintomática. Então, não adianta aferir a febre na porta da escola. Não há segurança nenhuma, se não tivermos testagens em massa”, reforçou.

Na avaliação da presidenta do CPERS, o sistema de bandeiras do governo é falho porque trabalha com a doença e não com a prevenção ao contágio. “Estamos jogados no mundo e a forma de contaminação não interessa para o governador. Temos colégios públicos em que as janelas não abrem, o que inviabiliza a circulação do ar. Como vamos atender aos protocolos de prevenção sob estas condições?”, questionou.

Volta às aulas agora é uma irresponsabilidade

Para Cássio, a proposta do governo passa uma falsa noção de normalidade para a população. “Estamos no pico de contágios e hospitalizações por coronavírus no estado. São mais de 14 regiões em bandeira vermelha e a tendência é piorar por conta do nosso inverno rigoroso. Querer voltar agora é uma irresponsabilidade”, salientou.

Conforme destacou o diretor do Sinpro-RS, há  uma pressão de setores empresariais pela retomada do ensino presencial, a exemplo do Sinepe-RS, entidade patronal, que garante que as escolas privadas estão prontas. “Nós discordamos disso. Mesmo que os colégios tenham mais condições, há um risco desnecessário de contágio da comunidade escolar. Os professores estão se esborrachando de trabalhar desde março para lidar com o ensino à distância e com o trabalho remoto. O EaD não é a mesma coisa que o contato interpessoal, mas é o que podemos fazer agora”, afirmou.

Lúcio Vieira reportou que a UFRGS iniciou suas aulas de forma remota, após uma longa discussão da comunidade acadêmica. De acordo com ele, o entendimento foi unânime de que o ensino neste momento deve ser exclusivamente remoto para preservar a vida de alunos, professores e funcionários técnico-administrativos. 

“Todo professor gostaria de voltar a dar aulas presencialmente, mas as condições objetivas para isso não existem ainda. Por isso, esse discurso de que os educadores não querem trabalhar é uma mentira. Mais de 110 mil pessoas morreram no país e o crescimento de contágios é acelerado por aqui. Temos que ser responsáveis”, ressaltou o presidente da Adufrgs Sindical.

Por fim Volnei, enfatizou que a preocupação com a volta às aulas não é somente dos educadores. “Dentro da nossa associação, há um consenso da ampla maioria de que não é seguro enviar nossos filhos para a escola neste momento. As crianças pequenas de até seis anos têm muita dificuldade em seguir protocolos, usar máscaras, álcool em gel ou manter o distanciamento dos coleguinhas. Enquanto não tivermos vacinas e segurança sanitária, não devemos mandar nossas crianças para os colégios”, frisou o conselheiro da Associação Mães e Pais pela Democracia .      

Veja aqui o debate completo. 

*Com informações da CUT - RS

Edição: Marcelo Ferreira