Alerta

Brasil precisa manter medidas para confirmar ritmo menor de crescimento da covid-19

Queda na velocidade das infecções e óbitos é boa notícia, mas pode ser revertida sem os cuidados necessários

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Mudança de hábito foi determinante. Na imagem, limpeza da Catedral Metropolitana de Brasília. - Marcello Casal Jr/ Agência Brasil/ Fotos Públicas
Os números são um alento, mas precisamos de medidas para que eles continuem caindo

Após cerca de três meses com registros de óbitos por covid-19 acima de 6.500 a cada sete dias, o Brasil iniciou esta semana com a informação de que os casos fatais somaram 6.202 entre 23/08 e 29/08. Dois dias depois, na quarta-feira (2), o Ministério da Saúde divulgou que a queda de 11% em relação ao período anterior foi a maior já registrada desde o início da pandemia. 

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O crescimento no número de infectados também parece estar ocorrendo em ritmo menor. Os dados consolidados das duas semanas entre 16/08 e 29/08 mantiveram o país em patamares abaixo de 270 mil casos. Antes disso, o Brasil vinha registrando números acima de 300 mil havia um mês. Houve queda nas notificações em onze estados.

Ainda é cedo, no entanto, para afirmar que o Brasil está conseguindo controlar o coronavírus. No mesmo dia em que o Ministério da Saúde divulgou os números, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) fez um alerta: a transmissão ativa no país ainda é explícita e não é possível abrir mão das medidas de prevenção.

A fala se justifica porque, junto com os Estados Unidos e Índia, o Brasil ainda é o responsável por boa parte dos registros globais diários. Também nesta semana, o relatório do Imperial College de Londres sobre a propagação da doença mostrou que a taxa de transmissão no país está abaixo de um. Isso significa que a epidemia não está fora do controle, mas também que cada 100 infectados ainda têm possibilidade de contaminar outras 94 pessoas.

"Por menor que seja esse avanço, é um número positivo. É claro que isso está longe de significar que chegamos ao fim da pandemia ou imaginar que um tendência de queda signifique uma queda persistente a partir de agora. Não é assim que funciona. A tendência de queda é um alento, mas a gente precisa que isso se mantenha pelas próximas semanas e pelos próximos meses. Isso não está garantido." afirma o médico de família, Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares.

Em conversa com o podcast A Covid-19 na Semana, ele alerta que o país ainda está em um platô, "uma estagnação", sem queda ou alta expressivas. "No final das contas, os números são positivos. Mas a gente tem que ter o pensamento muito firme de que ainda não estamos perto de ter acabado esse problema. Precisamos, enquanto povo, continuar nos preservando."

Os dados da semana que se encerra neste sábado (5) ainda não estão consolidados. No entanto, já é possível notar que o total de confirmações da doença não deve ficar abaixo de 250 mil. Já o número de óbitos, aparentemente, terá mais uma queda. Na sexta-feira esse dado somava 5.040 casos fatais. "A gente ainda está em um valor muito elevado. Não é pouca morte. Está longe de ser o fim da pandemia." ressalta Aristóteles. 

Para que a tendência se mantenha, a continuidade de medidas de combate é essencial. O retorno das aulas presenciais em larga escala, por exemplo, tem potencial para reverter o conário rapidamente. O poder público precisa aumentar a testagem e intensificar o rastreamento dos contatos de infectados. Ações de distanciamento, o uso de máscara e a higienização rígida também precisam seguir.

"Cada movimento de ficar em casa, cada situação específica, quando a gente junta, faz diferença." afirma Aristóteles. Segundo ele, mesmo que insuficiente, o isolamento social e a mudança de comportamento da população tiveram peso importante para que o Brasil não chegasse um cenário generalizado de calamidade. "Não chegamos, não foi por conta do governo, a gente sabe disso. Mas porque as pessoas se conscientizaram."

Edição: Rodrigo Durão Coelho