Há 3 anos

Organizações da Índia relembram assassinato de jornalista pela extrema direita

Gauri Lankesh foi morta em frente a sua casa; o grupo hindu de extrema direita Sanatan Sanstha é suspeito do crime

Tradução: Vivian Fernandes

Peoples Dispatch |
No terceiro aniversário do assassinato de Gauri Lankesh, organizações indianas seguem pedindo justiça - Arquivo/Peoples Dispatch

Cerca de 500 organizações de toda a Índia realizaram manifestações em torno do lema “If We Do Not Rise” (Se não subirmos, em tradução livre), nesse sábado (5), em defesa dos direitos constitucionais que estão sob ataque da extrema direita. A ação marca os três anos do assassinato da jornalista e ativista Gauri Lankesh, que ocorreu no dia 5 de setembro de 2017.

O objetivo da campanha, que está em curso, é alertar a população de que se não houver a denúncia do processo de avanço da extrema direita, “Se não subirmos hoje”, todo o povo indiano pagará um alto preço.

Lankesh era editora do semanário Lankesh Patrike e era uma intelectual progressista que escrevia sobre uma série de questões sociais, incluindo temas contra as forças de direita hindu. 

Além das organizações sociais e políticas que estão realizando eventos online para marcar a data, intelectuais e ativistas do país se unem à causa, como Teesta Setalvad, uma ativista que por quase duas décadas buscou obter justiça para as vítimas muçulmanas dos tumultos religiosos no Estado de Gujarat, quando o atual primeiro-ministro do país, Narendra Modi, era ministro-chefe; o escritor e poeta Dalit (anteriormente castas intocáveis) Pradnya Daya Pawar; e vários outros escritores e familiares de vítimas da extrema direita.

Quem foi Gauri Lankesh

Por meio de seus textos, publicados na língua Kannada, presente no sul da Índia, ela conseguiu alcançar uma grande quantidade de indianos, que não utilizam o inglês para se comunicar (assim como o hindi, o inglês é considerado uma língua oficial do país, no entanto há uma série de idiomas locais que são mais falados e compreendidos pela população de cada estado).

Suas obras abordavam os males do sistema de castas indiano, que, historicamente, marcou as divisões estruturais e o patriarcado, que ainda persistem com grande força no país. Lankesh enfatizava a necessidade de unidade entre as castas mais baixas dentro da hierarquia hindu e as comunidades de minorias religiosas na luta comum contra a extrema direita religiosa no poder central.

Devido ao seu trabalho e reconhecimento junto ao povo, Lankesh foi assassinada em 5 de setembro de 2017. Nesta data, três homens armados atiraram sete vezes quando ela estava prestes a entrar em sua casa. Duas das balas a atingiram no peito e uma nas costas. A partir das imagens do momento do crime, a mídia local afirmou que parecia que a postura do atacante principal “era a de um atirador treinado”.

Embora não haja a conclusão do caso, as evidências da investigação oficial mostram que o assassinato foi uma conspiração do Sanatan Sanstha, uma organização extremista cuja ideologia de supremacia hindu viola a Constituição da Índia e vai contra a longa tradição de sincretismo religioso do país. 

O Sanatan Sanstha tem uma ideologia que se assemelha à do fascista Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), uma organização sociopolítica e paramilitar que é a organização-mãe do partido que está no governo na Índia, o Bharatiya Janata. O atual primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, há anos faz parte da organização do RSS.

Outros assassinatos que o Sanatan Sanstha também estaria envolvido são o do ativista racionalista e antissuperstição Narendra Dabholkar, em 2013; o do político comunista Govind Pansare, em 2015; e do estudioso progressista M.M. Kalburgi, em 2015.

Edição: Peoples Dispatch