7º dia de julgamento

Denunciante da Guerra do Vietnã diz que EUA agem por vingança contra Assange

Daniel Ellsberg afirmou que não havia outra maneira de a população saber dos crimes que não fossem os vazamentos

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Assange está sendo julgado em tribunal do Reino Unido - Daniel Leal-Oivas / AFP

Daniel Ellsberg, um dos mais importantes denunciantes dos crimes cometidos pelos EUA durante a Guerra do Vietnã, defendeu nesta quarta-feira (16) o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, no julgamento que decide se o jornalista australiano será ou não extraditado para os Estados Unidos.  É o sétimo dia de audiências, em um tribunal do Reino Unido.

Testemunha de defesa de Assange, o ex-funcionário do Pentágono de 89 anos - que ficou famoso em 1971 por revelar milhares de páginas de documentos secretos contendo crimes militares americanos no conflito asiático - afirmou, em um depoimento por escrito, que a tentativa de condenar o ativista é parte de um esforço dos Estados Unidos para “esmagar” futuros denunciantes.

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Ele comparou a situação do fundador do WikiLeaks com a dele – Ellsberg garante ter sido perseguido pelo governo Richard Nixon e pela agência de inteligência americana, a CIA, após expor documentos que demonstravam ilegalidades.

“Observo as semelhanças mais próximas com a posição que enfrentei, onde a exposição de ilegalidade e atos criminosos institucionalmente e por indivíduos era destinada a ser esmagada pela administração que executa essas ilegalidades”, disse Ellsberg, por escrito. 

Para a testemunha, a prisão perpétua é exatamente o tipo de dissuasão que os EUA desejam estabelecer. “Tenho observado de perto as ações do governo dos EUA, seus militares e sua agência de inteligência, a CIA”, disse ele. “Também observei que aqueles que participaram da denúncia foram e continuam sendo ameaçados e criminalizados”, lamentou.

Ellsberg, que trabalhou no Departamento de Estado e no Pentágono, afirmou que Assange não terá condições de fornecer uma justificativa para suas ações se for extraditado para os EUA, da mesma forma que a ele foi negada a defesa do interesse público por seu vazamento dos documentos do Pentágono. Ele disse que Assange “não pode obter um julgamento justo pelo que fez sob essas acusações nos Estados Unidos”.

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“O público americano precisava saber com urgência o que estava sendo feito rotineiramente em seu nome, e não havia outra maneira de eles saberem do que por divulgação não autorizada”, disse ele em seu depoimento por escrito.

Pressionado por James Lewis, promotor que defende os Estados Unidos, sobre as consequências dos vazamentos do WikiLeaks, Ellsberg disse que não há "nenhuma evidência" de que as ações de Assange e do WikiLeaks levaram alguém a ser prejudicado. Ele também disse que Assange tomou muito cuidado para não expor intencionalmente ninguém ao perigo.

Ellsberg disse que é "extremamente cínico" para o governo dos EUA fingir preocupação quando passou grande parte dos últimos 19 anos mostrando "desprezo".

Como Assange, Ellsberg enfrentou por décadas a perspectiva de prisão, depois de vazar mais de 7 mil páginas de documentos confidenciais para a imprensa, incluindo The New York Times e The Washington Post. Ele foi levado a julgamento por 12 acusações em conexão com violações da Lei de Espionagem, puníveis com até 115 anos, mas foi inocentado, em 1973, por má conduta do governo contra ele.

Edição: Rodrigo Durão Coelho