Censura

No RS, medo de represálias impede publicidade contra Bolsonaro

Em Ijuí, empresas negam o serviço por temer vandalismo, como casos em Petrolina (PE) e Venâncio Aires (RS)

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Montagem feita em vídeo, mostrando como seriam os outdoors com críticas ao presidente - Reprodução

Um coletivo antifascista formado na cidade gaúcha de Ijuí arrecadou dinheiro para dar início a uma campanha crítica ao governo do presidente Bolsonaro. A ideia era usar esses recursos para pagar publicidade em alguns outdoors na cidade, contendo frases como “você sabia que Bolsonaro foi contra o auxílio emergencial?” e “Bolsonaro, o Brasil quer saber por que a sua mulher, Michelle Bolsonaro, recebeu 89 mil de Fabrício Queiroz?”.

A formação desse coletivo aconteceu na onda do surgimento de torcidas antifascistas, que levantou o debate sobre a necessidade de combate à crescente ameaça totalitária no Brasil. Um membro desse coletivo contou como se deu a formação. “Teve um monte de gente na cidade que ficou animada com aqueles atos das torcidas antifascistas, conversávamos bastante sobre aquilo. Víamos aqueles atos de rua, e íamos para as redes debater alguma forma de nos organizar por aqui. Uma boa parte dessas pessoas eram profissionais liberais, apenas uma parte identificada com a esquerda.”

A partir desses debates acabaram formando um grupo, reunido através do Whatsapp, nomeado “Antifas de Ijuí”. Este grupo reuniu diversas pessoas da cidade, entre filiados a partidos políticos, simpatizantes da causa e críticos do governo. Neste grupo, segundo relata um dos membros, há uma grande pluralidade de visões e organizações, unificados pela ideia de combate ao fascismo na cidade.

Nestes tempos de pandemia, surgiu a ideia de juntar dinheiro para fazer uma manifestação através dos outdoors, pois, em Ijuí, é possível encontrar diversas manifestações semelhantes favoráveis ao governo. Foi arrecadado então dinheiro suficiente para pagar dois outdoors. Um membro do coletivo se disponibilizou a fazer o contato e recebeu de retorno que as empresas estavam com medo de fazer esse tipo de serviço. O temor era que houvessem danos na estrutura do outdoor.

“Ficamos umas duas semanas tentando contato com diversas empresas. Algumas aqui da região, outras de Santa Cruz, até da Capital. Foram umas 6 ou 7 no total. Quando perguntavam quem era o cliente, e qual o conteúdo das artes, as empresas já davam pra trás.”

O responsável pela tarefa de contatar as empresas de publicidade que fariam o serviço relata que não esperava esse tipo de resposta. O que era para ser uma transação comercial simples, recebeu a resposta: “não temos autorização para fazer esse tipo de campanha. Última vez deu uma tremenda confusão.”

As empresas de publicidade contatadas se negaram a realizar o serviço, devido ao medo de retaliação por apoiadores do governo. O responsável por fazer esse contato, que preferiu não se identificar, também por medo de represálias, relata como foram alguns desses contatos com as empresas.

“Uma delas se negou a fazer o serviço quando dissemos que o outdoor era um protesto contra o governo. A outra se disponibilizou caso nós nos responsabilizássemos por quaisquer prejuízos advindos do eventual vandalismo da direita. Ambas empresas ficaram com medo de ter prejuízo por causa dos bolsonaristas, pois uma delas teve, inclusive. No entanto, aqui na cidade, tem 3 outdoors bolsonaristas intactos.”

O caso relatado em e-mail aconteceu na cidade também de Venâncio Aires, onde um outdoor com publicidade crítica ao governo foi completamente destruído, como relata uma correspondência trocada entre o representante do grupo e a empresa. “… em Venâncio Aires na campanha Fora Bolsonaro passaram de retro escavadeira e motosserras em nossos painés [...] o custo de um outdoor não sai por menos de R$ 5 mil cada, se vierem a destruir quem irá arcar com as despesas? Vocês ficariam com o risco de pagar os prejuízos?”


Retroescavadeira sendo utilizada para destruir outdoor com críticas ao governo federal, em Venâncio Aires / Reprodução

Em junho, outros outdoors contrários a Bolsonaro foram vandalizados na cidade pernambucana de Petrolina. Das quatro peças encomendadas pela Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, três foram danificadas 24 h após serem montadas. 

 

 

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko