Julgamento

Testemunha diz que também publicou arquivos secretos e expõe contradição com Assange

John Young disse à Justiça do Reino Unido que nunca sofreu punição dos EUA por publicar documentos "não editados"

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Julian Assange é julgado em Londres
Julian Assange é julgado em Londres - Munir Uz Zaman/AFP

O fundador do site Cryptome, o ativista digital John Young, afirmou que publicou documentos diplomáticos “não editados” do governo dos Estados Unidos, do mesmo tipo que os expostos pelo fundador do WikiLeaks, Julian Assange, mas que nada sofreu por isso.

A declaração de Young foi lida em voz alta pela defesa de Assange, no fim desta quinta-feira (24), durante o julgamento em Londres sobre a extradição do jornalista australiano para os Estados Unidos.

“Publiquei no Cryptome.org telegramas diplomáticos não editados em 1 de setembro de 2011, no URL https://cryptome.org/z/z.7z, e essa publicação continua disponível no momento”, disse.

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“Desde a minha publicação no Cryptome dos telegramas diplomáticos não editados, nenhuma autoridade de aplicação da lei dos EUA me notificou que esta publicação dos cabos é ilegal, consiste ou contribui para um crime de alguma forma, nem pediu que eles fossem removidos”, revelou o ativista.

Para a defesa do fundador do WikiLeaks, a declaração é uma prova crítica para anular a acusação do governo dos EUA contra Assange, por publicar documentos diplomáticos não editados em 2011.

O depoimento de Young corrobora a declaração do jornalista John Goetz à corte, de que o WikiLeaks não foi o primeiro a publicar os telegramas diplomáticos não editados.

A defesa também leu uma declaração de Christopher Butler, do site estadunidense Internet Archive, também conhecido como Wayback Machine. Butler confirma que o Internet Archive ainda hospeda registros das publicações do WikiLeaks e que o governo dos EUA nunca tentou retirar esses dados do ar.

Depoimento médico

Pelo terceiro dia consecutivo, uma médica depôs sobre a condição emocional de Assange. Sondra Crosby, professora de Medicina e Saúde Pública na Universidade de Boston e especialista no impacto físico e psicológico da tortura, reforçou que o jornalista está doente.

Crosby visitou Assange na Embaixada do Equador em Londres, no início de outubro de 2017. Em janeiro de 2018, ela diagnosticou: “Examinamos Julian Assange, e ele precisa urgentemente de cuidados, mas ele não os consegue”.

Em trabalho conjunto com outros dois médicos com vasta experiência em populações traumatizadas, a professora de medicina prosseguiu no diagnóstico: “Embora os resultados da avaliação sejam protegidos pela confidencialidade médico-paciente, é nossa opinião profissional que seu confinamento contínuo é perigoso física e mentalmente para ele, e uma clara violação de seu direito humano à saúde”.

Sondra Crosby também escreveu que sua visita de fevereiro de 2019 à embaixada foi espionada. "O direito de Assange à confidencialidade médico-paciente foi violado e suas informações confidenciais foram violadas ”, disse ela.

A médica relatou ainda uma série de sintomas físicos “muitos preocupantes”, mas disse que não conseguiria descrevê-los no momento. Sobre a extradição, ela reforçou o que médicos disseram no julgamento em dias anteriores: "Assange corre um risco muito alto de suicídio se for extraditado".

Edição: Rodrigo Durão Coelho