Círio 2020: Paraenses prometem realizar percurso da procissão mesmo sem Nossa Senhora

Festa religiosa reúne anualmente mais de 2 milhões de pessoas, no segundo domingo de outubro

Brasil de Fato | Belém (PA) |

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O Círio é uma das maiores festas religiosas do Brasil – realizada no segundo domingo de outubro. Este ano, não serão realizadas as procissões com a imagem peregrina. - Tarso Sarraf

Neste domingo (11) é realizada a 228ª edição do Círio de Nazaré. A festividade – uma das maiores procissões religiosas do Brasil – não terá peregrinações com a imagem de Nossa Senhora, em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Porém, muitos devotos afirmam que mesmo sem a organização oficial irão realizar o percurso.

Na capital paraense, Belém, um esquema de segurança foi estabelecido para evitar aglomerações. No total, nove cruzamentos foram interditados, onde tradicional a imagem passa. 

A professora aposentada Geralda Marcelino, de 63 anos, é uma das pessoas que realizará o trajeto, que faz há mais de 20 anos para agradecer pela saúde da irmã. Apesar de ser mineira, a professora mora no Pará desde 1994 e conta que teve contato, pela primeira vez, com Nossa Senhora do Perpétuo Socorro ainda criança.  

"A minha relação com Nossa Senhora, vem de muito tempo. Meu primeiro contato foi com Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Em um momento muito triste de nossas vidas, eu fui para uma escola interna chamada Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e lá conheci uma irmã que me acalentava e me pedia sempre para ter confiança e fé na Virgem Maria, que ela sempre iria nos ajudar", lembra Geralda. 


Geralda e a irmã são devotas de Nossa Senhora de Nazaré. Ela afirma que mesmo sem a imagem de Nossa Senhora nas ruas irá realizar o percurso que realiza todos os anos./ Geralda Marcelino/Arquivo Pessoal

Depois da experiência na infância, a irmã de Geralda nasceu com problemas de saúde. A família, com fé, pediu que Nossa Senhora se tornasse madrinha dela. Anos depois, a mesma irmã foi acometida por um câncer agressivo e operada na capital paraense, exatamente no dia do Círio.  

"Foi uma coincidência muito grande, porque não foi programado. Eu não tinha ideia do que era o Círio. Eu sabia que era uma procissão em homenagem à Nossa Senhora. Contudo, não tinha ideia da grandiosidade. Enquanto a minha irmã estava na sala de cirurgia, eu fiquei em uma sala que dava para ver a porta do centro cirúrgico. Naquela agonia tinha uma televisão ligada e eu ficava olhando aquele mar de pessoas. Foi quando passou uma enfermeira e perguntei para ela o que era aquele mundo de pessoas na TV. Ela me questionou: – A senhora não sabe? É o Círio. No mesmo momento meu pensamento se voltou para Nossa Senhora: – Minha Virgem Santíssima, cura a minha irmã. Ela é sua afilhada, olhai por ela mais uma vez", lembra emocionada.

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Geralda acredita até hoje que foi pela intercessão da Virgem Maria que sua irmã está viva. "Logo depois que terminou a cirurgia, os médicos relataram que haviam perdido ela e que foi muito difícil recuperá-la", afirma.

A partir disso, a aposentada passou a acompanhar a trasladação, procissão realizada na noite anterior ao domingo de Círio. "A sensação que eu tenho ao acompanhar a trasladação é como se eu realmente estivesse andando ao lado de Nossa Senhora", resume.

Do grupo de risco, Geralda contraiu o novo coronavírus e confessa que achou que iria morrer, mas com fé e motivos para agradecer, ela realizará a procissão que faz todos os anos. 

"Eu decidi que mesmo não tendo a imagem dela e aquela quantidade imensa de pessoas, eu vou fazer o percurso e eu tenho certeza que lá no céu ela estará olhando para nós aqui na terra. Eu vou fazer o percurso, rezando e agradecendo a ela pela oportunidade de estar vivendo mais um Círio, graças a Deus", diz. 


Fábia ao lado das irmãs, Flávia Macêdo, Carmem Macêdo e da mãe, Célia Macêdo. Elas fizeram o percurso de máscara para agradecer Nossa Senhora de Nazaré. / Fábia Macêdo/Arquivo Pessoal

Procissão antecipada 

A administradora, Fábia Macêdo, junto a sua família realizou na última sexta-feira, 9, o percurso da Igreja da Sé até a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré – o mesmo que a imagem de Nossa Senhora realiza no domingo de Círio. Ela, as irmãs e a mãe são devotas e disseram que mesmo com a pandemia não poderiam deixar de agradecer pelas benções, sobretudo por estarem vivas.  

"Esse ano foi muito difícil por diversos motivos e não ter Nossa Senhora nas ruas é algo que, sinceramente, me emociona muito. Por conta da pandemia decidimos fazer a nossa procissão em família rezando e agradecendo. Milhares de pessoas perderam a vida e estar vivo é algo que merece muito agradecimento", diz ela. 

Fábia também não deixou de lado a tradição de enfeitar a clinica familiar que ela administra. "Todos os anos eu faço a decoração e esse ano não poderia ser diferente. Apesar de Nossa Senhora não estar nas ruas, ela vive dentro de cada um de nós", diz. 


No Twitter, paraenses compararam a inauguração da loja com o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que será realizado neste domingo. / Reprodução/Twitter

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Contradição 

Em agosto deste ano, a direção da festa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré anunciou que a procissão não seria realizada por conta da pandemia. No entanto, neste sábado (10), a inauguração da loja Havan, na rodovia Augusto Montenegro, em Belém, causou grande aglomeração. 

Na internet, alguns paraense até realizaram a comparação da inauguração da loja com o Círio de Nossa Senhora de Nazaré.

 

 

Edição: Daniel Lamir