Eleições 2020

“Vamos dar a elas chance, tendo capacidade”, diz Levy Fidelix sobre mulheres

Entre as propostas do candidato estão limpeza de ruas, vielas e ônibus com cloro para evitar a transmissão de covid-19

Ouça o áudio:

"Somos dos partidos onde mais a participação da mulher é tida como natural, está bem?" - Alexandra Martins/Câmara dos Deputados
“Ela é um ser vivente que proporciona a nós, inclusive, a nossa vida, né?"

O entrevistado desta segunda-feira (12), da série Brasil de Fato Entrevista – Especial Eleições, é o candidato à Prefeitura de São Paulo, Levy Fidelix, pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), do qual é presidente.

Sua sigla tem 10 candidatos disputando as capitais brasileiras. Desses, nenhuma mulher e apenas 3 negros. Questionado sobre diversidade na política brasileira, Fidelix afirmou que o PRTB irá “dar a elas a chance, tendo capacidade, de estarem conosco”.

Nesse sentido, as mulheres “participarão” da política “com seus méritos, com as suas posições e cargos, mesmo porque ela é contribuinte, ela é um ser vivente que proporciona a nós, inclusive, a nossa vida, né? As mulheres, aliás, nós nascemos de mulher, né? Até a minha mãe... eu respeito muito”.

Para ele, o PRTB é um dos “partidos onde mais a participação da mulher é tida como natural, está bem?”.

Fidelix, em outro momento da entrevista, questionado sobre o aumento de seu patrimônio de R$ 555 mil, em 2018, para R$ 954 mil, em 2020, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou que os dados estão equivocados.

Questionado novamente, Fidelix afirmou que “o Trump tem problema, eu não tenho não (risos). Transparência total. Vamos em frente”. No fim da entrevista, a assessoria do candidato afirmou que os números do TSE estão incorretos e que solicitarão os devidos ajustes.

Esta é a décima quarta vez que Levy Fidelix se candidata a um cargo político. Já tentou a Câmara Municipal de São Paulo, o Governo do Estado, o Congresso Nacional, a Presidência da República e agora, novamente, a Prefeitura de São Paulo. 

Confira a entrevista na íntegra:

Brasil de Fato: Candidato, a Prefeitura de São Paulo ainda apresentará os dados do orçamento para 2021. Porém, já é público que haverá um corte de R$ 2 bilhões. Com o adiamento da eleição, é difícil de imaginar que o candidato eleito, caso não seja o atual prefeito Bruno Covas, possa participar do debate na Câmara dos Vereadores. Primeiro, como o senhor recebe a notícia desse corte e se isso impacta o programa do senhor para o município? E segundo, o senhor acha que os candidatos devem se manifestar e tentar influenciar desde este momento a destinação dos recursos?

Levy Fidelix: São Paulo têm o seu orçamento, tem a sua receita e hoje, em tese equilibrada. Inclusive nós temos superávits, mas não se aplicou o dinheiro corretamente, nem na pandemia e nem em obras. O governo precisa buscar superávits para a sobra de caixa e a primeira coisa que eu vou fazer vai ser uma listinha: as pessoas que devem IPTU, um juros de 0,33% ao dia se transforma em praticamente 20% ao mês. Ao cabo de um ano, o imóvel terá realmente uma dívida impagável. Se nós chamarmos todos os que devem tributos em São Paulo, em especial do setor imobiliário, nós temos uma receita espetacular. Com isso nós vamos fazer com que as pessoas voltem a pagar, vamos repactuar a dívida, parcelá-la, e teremos caixa.

Fora isso, quero também refundar o Banco de Poupança Popular Municipal de São Paulo, colocar todos os ativos de São Paulo, ou seja, terrenos, prédios públicos, neste banco. Com isso, nós vamos renegociar a dívida nacional, que hoje são juros escorchantes de 9% ao ano mais a taxa Selic. Hoje, felizmente, na faixa de 2%, mas já teve a 14%. E grande parte dessa dívida são os juros fixos, fixados a longo prazo. Então vamos mudar o perfil da dívida em São Paulo, repactuando-a com tomada de empréstimos.

Nós teremos a garantia da nossa receita, teremos o nosso banco com patrimônio suficiente para responder isso tudo. É uma situação criativa de engenharia financeira, com a qual solucionaríamos o problema de caixa do nosso município em curtíssimo prazo.

Candidato, o senhor pretende, como candidato, acompanhar a votação do projeto na Câmara e tentar influenciar a destinação dos recursos? 

Não faz sentido. Não é meu governo, não vou influenciar nada. Eu quero é auditar a dívida do senhor Bruno Covas, no futuro, para saber se ele não gestou bem os recursos no passado para chegarmos a este tamanho descalabro. Não faz sentido hoje, não tenho nenhum voto na Câmara, não vou bisbilhotar as contas dele. O que eu vou é puni-lo, caso haja desvios de função ou de administração.

Candidato, as gestões começam e terminam, mas a questão da Cracolândia segue sem uma solução. O programa De Braços Abertos, implementado pelo ex-prefeito Fernando Haddad, foi reconhecido internacionalmente por sua política de redução de danos e vinha apresentando resultados positivos na Cracolândia, até que foi encerrado pelo ex-prefeito João Doria. Na sua gestão, caso eleito, o senhor pretende retomar o programa De Braços Abertos? Ou criar outra política de redução de danos? O que terá mais peso na condução do problema da Cracolândia em sua gestão: políticas de segurança ou de saúde?

Lamentavelmente, o que temos ali é uma situação calamitosa de saúde pública. Eu tenho certeza absoluta de que se não dermos às pessoas que estão ali vivendo as mínimas condições para dali saírem… Nós vamos dar a elas a possibilidade de fazer com que as nossas clínicas possam absorver essas pessoas que são naturalmente vítimas de uma sociedade perversa e que buscam ali saídas para os seus problemas do seu cotidiano. Ninguém está ali porque quer. Então, nós vamos fazer o máximo de esforço neste sentido, para colocá-las onde devem estar e depois acompanhá-las.

Naquele lugar ali, nós vamos fazer uma política de renovação do centro da cidade e no seu lugar nós vamos erguer uma cidade ilustrativa. Ali naquela região vai ficar o Paço Municipal, as secretarias em volta e o nosso Shopping de Informática na Santa Ifigênia, que é hoje, na América Latina, o ponto que mais têm contrabando, porém nós temos ali um polo de informática dos maiores também.

Se eleito, então, o senhor muda o endereço da Prefeitura de São Paulo?

Mudarei, porque hoje todas as secretarias não estão lá no prédio Matarazzo, as secretarias estão espalhadas por aí em aluguéis caríssimos. Nós vamos fazer um Centro Administrativo, reformar o centro da cidade, repovoar o centro e voltar à sua vitalidade como antigamente.

Eu sei que muitas ONG's ali trabalham, mas também nós sabemos que têm situações escabrosas. Muitas vezes tem tráfico, mortes, assassinatos, vendem fetos, órgãos, drogas que são colocadas nas vaginas das mulheres. Eu estou sabendo pela Guarda Civil Metropolitana que os traficantes usam as mulheres para fazer o tráfico ali dentro, e elas pedem "pelo amor de Deus" que as prendam.

Mas candidato, e em relação à política de redução de danos?

Com relação à política como um todo, nós vamos fazer todo o possível e o impossível para tirar o morador da rua, porque ele não está na rua porque quer. É necessário conduzi-lo ao emprego, colocá-los inclusive na limpeza pública e onde pudermos empregá-los. É necessário que o social tenha acompanhamento, o que significa investimento no máximo que pudermos para que as entidades que cuidam, as igrejas, que estão conosco fazendo os convênios, possam ter mínimas condições de trabalho. E é tudo questão de investimento. Vamos dobrar, triplicar o que for possível. São Paulo não pode ter essa política de hoje, que é o desleixo contra o ser humano. 

Candidato, agora sobre patrimônio. Em 2018, quando foi candidato a deputado federal em São Paulo, o senhor declarou um patrimônio de R$ 555 mil. Agora, R$ 954 mil...

Você deve ter números equivocados. Meu patrimônio aumentou somente 10%, com inflação. Não são esses números.

São dados que estão no site TSE, candidato.

Não são. Temos R$ 700 e tantos mil. Nunca tive esse patrimônio de R$ 500 mil. Eu tenho meus números aqui. Então, depois você pergunta para mim.

No site do TSE, em 2020, a declaração é R$ 954.597,00. Em 2018, R$ 555.554,00.

Não. Em 2018 nós temos outro patrimônio, é 10% a menos do que isso aí.

Então, foi um erro da equipe do senhor?

Não, minha equipe não. Não. Alguém digitou alguma coisa errada lá, não foi aqui não. O TSE também erra, eu não. Possivelmente o TSE, deixa eu ver aqui.

Podemos aguardar, não tem nenhum problema.

O meu patrimônio, praticamente, não evoluiu quase nada. É muito transparente e limpo. Eu pago impostos de renda de até R$ 50 mil por ano. Tá bem?

A gente pode esperar a assessoria do senhor localizar.

Não, vamos para outra, vamos para frente. 

O senhor prefere não responder essa questão?

O Trump tem problema, eu não tenho não (risos). Transparência total. Vamos em frente.

Candidato, próxima pergunta. O Brasil já registrou cinco milhões de casos confirmados e quase 150 mil mortes por covid. No município de São Paulo, são pouco mais de 290 mil casos e 12 mil mortes, de acordo com o Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais. Se eleito, o senhor deve assumir São Paulo ainda em um contexto de pandemia. Como o senhor analisa a gestão da crise feita pelo prefeito Bruno Covas? Com quais medidas pode se comprometer, caso assuma? Aulas serão mantidas? Transporte público funcionará?

Covas tem sido um desastre nesta pandemia, faltou estratégia. Tanto ele quanto o governador. Receberam fortunas, muito dinheiro vindo lá de cima. O Supremo Tribunal Federal determinou que os recursos fossem desviados diretamente para as administrações municipais e estadual, e nós não vemos uma ação com estratégia.

Eu não vou fazer o distanciamento social, vai ser o funcional. Nós temos as pessoas que querem trabalhar, basta fazer turnos. Vamos fazer com que as pessoas possam trabalhar de manhã. Por exemplo, uma lojinha que tem cinco pessoas, três trabalham de manhã e duas à tarde. Nós temos de mudar toda essa regra do jogo tradicional por conta da pandemia.

Outra coisa que não estão fazendo: os ônibus estão superlotados. É isso que transmite. Ninguém "sanitizou" as ruas e vielas. Mas tem de passar, meu amigo, sanitizar a cidade, ruas e vielas, periferias, o centro da cidade. Limparemos com cloro, com sabão, o que for. Nós temos de dar incentivo para que as empresas possam produzir máscaras baratinhas, por 50 centavos e não ao que chegou até a R$ 25. Gastaram uma fortuna em respiradores de maneira a lesar os cofres públicos. Respiradores de R$ 55 mil ? Importaram 220, um crime. Fizeram no Pacaembu um hospital, depois desmobilizaram. Um absurdo criminoso isso, né? Essas atitudes não construíram nada, levaram o povo ao desespero e não realizamos nada.

Com relação à educação, eu teria já implementado o ensino digital. Nós teríamos os alunos em casa, com iPad. Cada escola com uma antena com raio de ação de 20 quilômetros que eu tenho certeza que não é mais que isso que um aluno está. Uma sala de aula, por exemplo, custa R$ 40 mil reais, uma lousa digital, R$ 6 mil reais, um iPad, R$ 300. Tudo isso é possível.

Agora, em 2020, o PRTB, do qual o senhor é presidente, tem 10 candidatos disputando as capitais brasileiras. Desses, nenhuma mulher e apenas 3 negros, sendo que um deles, o candidato Almeida Lima, em Aracaju, mudou sua declaração de raça, que era branca, desde que iniciou a carreira política, para pardo. Caso o senhor ganhe, o eleitor paulista deve esperar que a cidade será comandada apenas por homens brancos, sem diversidade?

Não, o nosso partido, de maneira até espetacular, na sua direção nacional e estadual, está sempre prestigiando as mulheres. Aqui, por exemplo, na nossa direção nacional, de 11 membros que são da executiva, cinco são mulheres. A nível de Brasil eu creio que até mais. Nós temos um movimento de mulheres muito forte aqui. Com relação a candidaturas, nós temos candidaturas de cidades expressivas como em Canoas, Corumbá, a vice-prefeita do Crivella é PRTB, é mulher. Somos dos partidos onde mais a participação da mulher é tida como natural, está bem?

Candidato, mas se eleito, o secretariado terá mulheres? Qual será a proporcionalidade? O que o senhor pensa disso?

É natural que vamos dar a elas a chance, tendo capacidade, de estarem conosco. Inclusive, em subprefeituras, porque não? Não existe isso, não só dentro da legenda, como na posição administrativa do Levy Fidelix. Participarão, com seus méritos, com as suas posições e cargos, mesmo porque ela é contribuinte, ela é um ser vivente que proporciona a nós, inclusive, a nossa vida, né? As mulheres, aliás, nós nascemos de mulher, né? Até a minha mãe... eu respeito muito. Então, o PRTB é um partido aberto, que dá chance e oportunidade a todos. Tanto assim que nós cumprimos inclusive com a cláusula aqui das mulheres. Nós temos 20 e tantas mulheres e 60 homens aqui, passou o nosso nível aqui, inclusive. Não faltou mulheres aqui em São Paulo na nossa chapa de vereadores, está bem?

Candidato, por fim e retomando, o senhor, então, afirma que os dados do TSE estão incorretos?

Os dados que eu tenho, que é a minha declaração, está acompanhando praticamente a inflação, nada mais do que isso. Talvez você esteja confundindo patrimônio com renda, não sei. Talvez não colocaram aí a questão de renda, mas bens. Ou alguém digitou errado para passar para vocês. 

Não, estamos na página. Está no site. 

Ah é? Então há de se requerer que eles façam correção, né? 

No município de São Paulo, os paulistanos têm 16 opções de candidatos para escolher nos dias 15 e 29 de novembro, quando serão realizados o primeiro e segundo turno, respectivamente, das eleições municipais em todo o país. São eles Andrea Matarazzo (PSD), Arthur Do Val (Patriota), Antônio Carlos Silva (PCO), Bruno Covas (PSDB), Celso Russomanno (Republicanos), Felipe Sabará (NOVO), Guilherme Boulos (PSOL), Jilmar Tatto (PT), Joice Hasselmann (PSL), Levi Fidelix (PRTB), Márcio França (PSB), Marcos da Costa (PTB), Marina Helou (Rede Sustentabilidade), Orlando Silva (PCdoB), Vera Lúcia (PSTU) e Vivian Mendes (UP). O Brasil de Fato entrou em contato com as assessorias de todos candidatos e todas candidatas.

Edição: Michele Carvalho