Mobilidade

Um terço dos paulistanos deixou de usar ônibus na pandemia; pobres não tiveram opção

Perfil de quem continua utilizando o transporte é de pardos ou pretos da zona sul e mulheres com renda até dois salários

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Infelizmente os ônibus estão tão lotados quanto um dia já estiveram, e a maioria das pessoas ainda tiram a mascara para respirar, para comer ou fazem o uso inadequado dela. - Foto: Mateus Dantas

Para 35% dos paulistanos, o medo de contrair o novo coronavírus é o principal motivo para escolherem outros meios de transporte que não os ônibus municipais.

Para 35% da população do município de São Paulo, ônibus lotados é o motivo apontado para não utilizar o serviço. O dado é do levantamento "Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana", lançado nesta quinta-feira (15), pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência. 

Produzida anualmente, a pesquisa traz neste ano o aspecto e a influência da pandemia de covid-19 na mobilidade urbana. Cerca de 17% a mais de paulistanos não estão saindo de casa para realizar sua atividade principal em relação a 2019, representando um terço dos cidadãos.

Deste um terço da população, 52% têm renda superior a cinco salários mínimos; 45% têm ensino superior e fazem parte das classes A e B, 38% são brancos e 40% moram no centro do município. Os recortes mostram, portanto, que a opção de ficar em casa durante a pandemia de covid-19 foi mais expressiva entre as classes mais altas. 

Em relação a 2019, o uso de ônibus municipais foi de 47% para 35%. Entretanto, o perfil daqueles que continuam utilizando o transporte público, em contraposição àqueles que conseguem ficar em casa, é representado por mulheres, com renda familiar mensal de até dois salários mínimos, das classes D e E, pardos ou pretos, da região sul e com nível de escolaridade fundamental.

::Covid mata mais entre trabalhadores que dependem do transporte coletivo::

Tempo de deslocamento

Outro dado que aponta para a desigualdade entre as classes sociais no acesso ao transporte de qualidade é o tempo médio diário de deslocamento para realização da atividade principal.

Na média, o tempo diminuiu 10 minutos em relação a 2019, de 1h47min para 1h37min. Sobrepondo o recorte por região, no entanto, o tempo aumentou cinco minutos na zona sul e diminuiu 30 minutos na zona oeste.

Entre os moradores das regiões sul e norte, a lotação é o principal problema do transporte público. Já na região oeste, a questão mais latente é a frequência dos ônibus. Na média, o primeiro problema é o mais citado (23%), seguido pelo preço da tarifa (13%).

Se não fossem os problemas de transporte público, 39% da população paulistana com certeza trocaria o carro pelo ônibus municipal, e 30% provavelmente deixaria de usar o carro. Quanto à opção das ciclofaixas, 32% dos paulistanos passariam a usar a bicicleta como transporte caso houvesse mais segurança para os ciclistas, 18% mudaria o hábito diante da construção de mais ciclovias para interligar as diferentes regiões da cidade.

Assédio sexual

Por fim, houve o aumento da avaliação negativa da atuação do município e do estado no combate ao assédio sexual no transporte público. Em 2019, 51% da população considerava a gestão ruim ou péssima. Neste ano, o percentual subiu para 56%.

No total, foram entrevistados 800 paulistanos com 16 anos ou mais, entre os dias 5 e 21 de setembro. Os resultados têm uma margem de erro de três pontos percentuais.

Edição: Leandro Melito