América Latina

Observadoras relatam intimidação e hostilidade nas eleições presidenciais na Bolívia

Militantes do partido Comunidade Cidadã foram vistos coordenando a fila em zonas eleitorais

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

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Cerca de 7 milhões de bolivianos votam para eleger um novo presidente neste domingo, 18. - MST Bolívia

Cerca de 7,3 milhões de bolivianos foram convocados a eleger um novo presidente para o país neste domingo (18). Mais de 14 mil zonas eleitorais abriram pela manhã, e a votação ocorre até às 18h no horário local (19h, no horário de Brasília). 

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O pleito foi marcado por filas mais longas e demoradas que os anteriores. Segundo o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), a lentidão está relacionada às medidas de distanciamento social para evitar a disseminação da covid-19.

Cerca de 100 observadores internacionais fiscalizam o processo. A deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) está acompanhando as eleições na Bolívia pelo Parlamento do Mercosul (Parlasul) junto a outros três delegados, do Uruguai e da Argentina. 

O Parlasul foi uma das instituições internacionais que considerou a destituição do ex-presidente Evo Morales como um golpe de Estado. 

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Pela primeira vez na história do país, as Forças Armadas fazem a segurança das urnas e das zonas eleitorais. Nos outros processos, os próprios funcionários do órgão eleitoral eram responsáveis pela logística e proteção dos cidadãos.

A deputada do PSOL relata que os oficiais tratam os eleitores com hostilidade.

"Nossa presença aqui serve para expressar solidariedade, porque o povo boliviano está tendo seu direito ao voto impedido. Ouvimos muitas reclamações de repressão nas ruas", afirma a parlamentar brasileira. "Além da repressão estatal, há muitos grupos paramilitares que atacam sedes de movimentos sociais, agridem homens e mulheres nas ruas. Esse clima hostil está expresso hoje. A presença das Forças Armadas nas escolas é um claro símbolo de intimidação."


Militares tutelando o processo eleitoral no estado de Santa Cruz, na fronteira com o Brasil. / Telesur


Militar fiscaliza processo eleitoral em escola de La Paz / Alexandre Andreatta

Presidente do TSE, Salvador Romero ressaltou durante coletiva de imprensa ao meio-dia que o processo se desenvolve com tranquilidade. 

Nas primeiras horas da manhã, o poder eleitoral denunciou o roubo de uma urna na região de Caravani, no departamento de La Paz, e algumas mesas de votação abriram até três horas depois do previsto. Essas ocorrências foram encaradas como "fatos isolados".

Em uma das maiores zonas eleitorais da região de La Paz, no colégio Franco Boliviano, onde votam cerca de 10 mil pessoas, houve confusão com a presença militar e de militantes do partido Comunidade Cidadã.

"Os delegados do partido Comunidade Ciudadã, do candidato Carlos Mesa [em 2º lugar nas pesquisas], que deveria estar observando o processo assim como nós, estavam fazendo a logística, administrando as filas, chamando a pessoas a votar. Vemos isso com muita preocupação", relata a observadora estadunidense pelo movimento Codepink, Zoe Pepper-Cunningham.

Diante da situação, a observadora da missão da União Interamericana de Ogranismos Eleitorais (Uniore), Pamela San Martín, convocou os cidadãos a fiscalizar o processo.

"Nosso chamado é para que deem seguimento a todas as etapas e que tomem fotos das atas para poder comparar essa informação com o cômputo oficial", declarou.

Mudança na divulgação do resultado

Cerca de 12 horas antes de iniciar o processo, Romero anunciou a suspensão da divulgação dos resultados preliminares, que são enviados de maneira virtual pelos estados ao TSE. 

"Isso gerou muita instabilidade, porque foi um dos elementos fundamentais para o informe da OEA que acusou fraude eleitoral. Agora, nesse ano, não querem utilizar esse sistema", comenta o militante boliviano Juan Luis Gutierrez. 


Com participação massiva do eleitorado, em várias regiões do país foram registradas filas para votar. / ABI

Em outubro de 2019, a partir dos resultados preliminares, a missão de observação da OEA afirmou que o processo havia sido manipulado. Um ano depois, uma série de estudos independentes mostram o contrário.

Devido às mudanças, os resultados das eleições deste domingo só devem ser conhecidos na quarta-feira (21).

No exterior

Ao todo, 27 países abriram zonas eleitorais para os bolivianos residentes no exterior. Segundo o TSE, até às 14h (hora local), 138 mesas haviam sido fechadas, de um total de 1443 zonas eleitorais habilitadas. A votação já concluiu na China, Coreia do Sul, Japão, Índia, Rússia, Holanda e Áustria.

Na Coreia do Sul, 15 dos 22 eleitores habilitados votaram. Enquanto em Nova Deli, capital indiana, seis dos oito habilitados participaram.

Segundo o presidente do poder eleitoral, os delegados do TSE na Bolívia e no exterior deverão começar a contabilizar os votos às 18h, logo após o fechamento das urnas. Já a sala plena do TSE começará o cômputo às 5h30 de segunda-feira (19).

Em asilo político na Argentina, o ex-presidente Evo Morales convocou a população a votar massivamente. "A principal tarefa é consolidar a democracia, a paz e a estabilidade em nosso país", defendeu o ex-chefe de Estado.
 

Edição: Daniel Giovanaz