PIOR CABO ELEITORAL

Para analista, apoio de Bolsonaro pode elevar rejeição a candidato em Fortaleza

Pesquisa do IBOPE aponta que 37% dos eleitores diminuiriam muito a vontade de votar no candidato apoiado pelo presidente

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Capitão Wagner tem como apoiador o presidente Bolsonaro - Reprodução

Por meio de transmissão ao vivo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou que iria fazer campanha aberta para candidatos a prefeito de algumas cidades quando estivessem faltando duas semanas para o dia das eleições municipais de 2020. No caso de Fortaleza, ele afirma que já tem um candidato: "Em Fortaleza, tem um capitão lá, se Deus quiser vai dar certo, ele já está na frente". Foi uma referência a Capitão Wagner (PROS). Antes disso, o presidente havia prometido não apoiar nenhum candidato no primeiro turno das eleições municipais.

No entanto, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), encomendada pelo Sistema Verdes Mares, mostrou que o apoio de Bolsonaro não influencia positivamente os votos entre os fortalezenses. Entre as lideranças nacionais, a pesquisa indica que o presidente tem a menor capacidade de transferir votos na capital cearense, atrás de nomes como o ex-presidente Lula e o ex-governador do estado Ciro Gomes: apenas 14% dos eleitores aumentariam muito a chance de votar no candidato capitalizado por Bolsonaro, enquanto 37% diminuiriam muito a vontade de votar no candidato apoiado pelo presidente.

Leia tambémBolsonaro se mantém contra valor de R$ 600 para o auxílio: "É muito para o Brasil"

A estratégia que Capitão Wagner tem utilizado para aumentar seu eleitorado tem sido ampliação da sua pauta e um afastamento do indivíduo Bolsonaro. “Ele faz relações com o governo federal, mas tentado positivar essa relação, tentando mostrar que ele pode buscar recursos em Brasília que serão favoráveis para Fortaleza, ele tenta despersonalizar, não é necessariamente Bolsonaro, mas sim o governo federal”, afirma Monalisa Soares, professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC). 

A professora ainda afirma que o apoio de Bolsonaro em Fortaleza ou a associação de candidatos a ele pode levar os eleitores a ter uma maior rejeição ao candidato, “no entanto isso ainda não foi mobilizado pelos opositores do Wagner, que é o candidato mais bem posicionado e que foi o candidato dito pelo Bolsonaro como o candidato que ele apoiaria em Fortaleza. Nem Luizianne (PT), nem Sarto (PDT) que são os adversários diretos de Wagner já usaram a associação dele com Bolsonaro para atacá-lo”.

Segundo Monalisa, as pesquisas demonstram que o apoio de Bolsonaro tem um efeito ruim na percepção do eleitorado, mas que a população de Fortaleza ainda não identifica Bolsonaro a nenhum dos candidatos.

Para Cleyton Montes, há uma chance do candidato apoiado por Bolsonaro ter sua rejeição ampliada, “dificilmente o Capitão Wagner vai explorar essa imagem do Bolsonaro. Ele (Bolsonaro) chegou a ter uma melhoria na popularidade dele devido ao auxílio emergencial, mas isso já estagnou, Bolsonaro é uma figura geralmente rejeitada em Fortaleza”. 

Candidato do PSL se aproxima dos símbolos do bolsonarismo

De acordo com a professora, além do Capitão Wagner, outro candidato que também se identifica mais claramente com as pautas do presidente brasileiro concorrendo à prefeitura de Fortaleza é o Heitor Freire (PSL). “Do ponto de vista do que aparece na propaganda eleitoral de televisão, o Heitor Freire se aproxima mais dos símbolos que o Bolsonaro mobilizou na campanha eleitoral de 2018. A própria discussão de direita, endireitar Fortaleza, ordem e progresso, verde e amarelo, eles estão muito mais na campanha do Heitor Freire do que na do Capitão Wagner”, afirma Monalisa.

Freire ainda tem como público um certo nicho de direita, é o que afirma a professora Monalisa Soares: “Ele fala para um certo imaginário do eleitorado de que a direita pode fazer melhor, ele ainda está querendo surfar muito na onda de 2018, de que a direita pode resolver os problemas da cidade”. Vale ressaltar que Bolsonaro rompeu relações com Heitor Freire após manobras que tentaram colocar seu filho, Eduardo Bolsonaro (PSL), na presidência do partido em 2019.


Na campanha de 2018 Heitor Freire teve o apoio de Bolsonaro / Reprodução

A pauta do bolsonarismo

Para o cientista político, professor e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política Eleições e Mídia, Cleyton Monte, há três grandes linhas que identificam o conteúdo do programa do bolsonarismo: “ A família tradicional, a ordem muito buscada principalmente por setores militares, e por fim, Deus. Esses são os três pontos desse movimento denominado na ciência política de bolsonarismo”. 

Monalisa Soares considera que a pauta mais expressiva dos candidatos alinhados ao discurso conservador é a segurança pública. Para ela, tanto Capitão Wagner tem isso na sua trajetória quanto Heitor Freire, que apresenta propostas para este setor, têm uma ligação forte com a pauta da segurança pública, “o Wagner não tem falado tanto desse tema, mas a trajetória dele, ele ter vindo desse recrutamento anterior do ponto de vista profissional já o situa muito fortemente nesse campo”.

Na questão religiosa, os dois candidatos demonstram uma aproximação com setores das igrejas evangélicas, seja com o apoio de lideranças com grande prestígio como é o caso da vereadora Priscila Costa (PSC) e da deputada estadual Doutora Silvada (PL) - que apoiam a candidatura do Capitão Wagner - seja retomando sua história na igreja evangélica, que é o caso do Heitor Freire. 

Fonte: BdF Ceará

Edição: Monyse Ravena e Rebeca Cavalcante