Pernambuco

INTERNACIONALISMO

Leonardo Boff: "Temos que nos ajudar, senão não sobreviveremos"

Teólogo propôs saídas para a crise em aula inaugural do curso “Questão Agrária e Soberania Ambiental” proposto pelo MST

Brasil de Fato | Recife, PE |
Boff pontua que a solidariedade tem sido a peça chave para garantir a sobrevivência e a segurança alimentar - Reprodução

A pandemia de Covid-19 gerou impactos diretos na forma com que a sociedade no Brasil e em todo o mundo se relacionava social, política e economicamente. Assim, a partir dessa crise surgiu a necessidade de se pensar de uma forma coletiva e da importância do papel da solidariedade para garantir o direito à saúde, à alimentação e à moradia. O tema foi parte da aula inaugural do curso “Questão Agrária e Soberania Ambiental”, que está sendo oferecido gratuitamente pelo Centro de Formação Paulo Freire e teve como convidado nesta etapa o teólogo, escritor, filósofo e professor universitário brasileiro Leonardo Boff.

O curso acontece através do canal do Centro no YouTube e é uma parceria com a Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE), o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) e a Via Campesina.

Segundo Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a crise da covid-19 poderá levar 265 milhões de pessoas para uma situação de fome. Boff acredita que é a fraternidade é a única forma de superar as crises econômicas e sanitárias deste período, fazendo da solidariedade a nova ordem mundial. “O Brasil não está isolado, ele está dentro desse grande complexo de relações inter-retro-articuladas com todos os países. Vivemos a fase nova da humanidade e da terra, que é a da planetização, que não é só econômica e financeira, mas é também política e o coronavírus mostrou que ninguém pode viver com soberanismo ultrapassado. Dependemos um do outro e temos que nos ajudar, senão não sobreviveremos”, afirmou.

Assim, o filósofo exemplifica a necessidade estes princípios através da atuação dos profissionais de saúde cubanos, que foram enviados pelo governo do país para atuar no combate à covid-19 em vários lugares do mundo, comparando a ação à dos alimentos produzidos por agricultores da reforma agrária no Brasil. "Cuba foi mestra nisso, mandou as brigadas de saúde para não sei quantos países, mais de 3.000 médicos e enfermeiros, e nós postulamos que eles ganhem o prêmio Nobel da Paz arriscando as suas vidas", acredita.

Apesar das dificuldades vivenciadas neste período, a solidariedade tem sido a peça chave para garantir a sobrevivência e a segurança alimentar de milhares de famílias, além do aprendizado sobre a necessidade de repartir. "O pior que nos aconteceria é voltar para o que era antes, que era um mundo de miséria onde 20% consome 80% dos bens de serviços e 80% da população tem que se contentar com 20%. Então, a fome é endêmica e esse sistema é assassino, ele mata, e produz duas injustiças: uma ecológica - ele devasta a natureza a ponto dela não conseguir suportar; e cria uma grande injustiça social - grande miséria, pobreza e mortes antes do tempo", ressaltou Boff.

Assim, o teólogo acredita na importância do papel da reforma agrária para garantir a alimentação do povo, acima do direito à propriedade privada, conforme princípios da Constituição, da ética e da filosofia. "A reforma tem uma dificuldade que encontra essa concentração de terras e aí a resposta é ver qual a terra não produz alimentos, são simplesmente inúteis ao próprio negócio e aí a gente lembrar o que está na constituição e na ética de todos os países: que terra é de todos, Deus não deu escritura para ninguém, e o direito à propriedade privada é um direito secundário, direito primário é que todo mundo é habitante da terra e tem direito à terra e aos benefícios dela: a alimentação, direito básico", afirma.

O Centro continua com inscrições abertas para cursos semanais que acontecem virtualmente. O Curso Questão Agrária e Soberania Ambiental vai até o dia 24 de novembro a e ainda abordará as seguintes temáticas: A questão agrária e a crise climática: defesa da vida e do planeta;  A questão agrária e o aumento da práticas de queimadas no Brasil; O Código Florestal, as leis ambientais e o latifúndio; O agronegócio e as reservas ambientais, áreas de reserva indígena e comunidades quilombolas; Agronegócio, a mineração, mineradoras e a questão ambiental; Reforma Agrária e a defesa do meio ambiente: Programa de plantio de arvore nos assentamentos.

Edição: Vanessa Gonzaga