QUEIMADAS

Entendendo o bioma do Pantanal

Ocupando 2% do território brasileiro, ele é um gigante em biodiversidade

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Apenas 4,6% do Pantanal encontra-se em unidades de conservação - Créditos: Reprodução
A dinâmica característica do Pantanal é chamada de Pulso de Inundação

Qualquer um que se importa com a vida em nosso planeta deve ter sofrido ao assistir às imagens que chegaram do Pantanal ao longo das últimas semanas. Animais mortos e feridos, extensas áreas de vegetação em chamas e muita fumaça no ar.

Agosto e setembro foram os meses em que a região mais foi impactada pelo fogo, desde que esse tipo de medição é feita. De acordo com dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), até o momento foram detectados mais de 6 mil focos de incêndios em setembro e mais de 16 mil em 2020.

O Pantanal é o menor bioma do Brasil. Ocupa pouco menos de 2% do nosso território. Mas não se engane com seu tamanho. Trata-se de um gigante em riqueza de vida. 

Localizado majoritariamente nos estados brasileiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, também adentra parte do Paraguai e da Bolívia. Encontra-se cercado por outros importantes biomas como a Amazônia, o Cerrado e os Chacos bolivianos. E pela proximidade com a Mata Atlântica, também recebe influência dela, principalmente no fluxo migratório de aves.

Localizado na parte alta da Bacia do Rio Paraguai, o Pantanal recebe águas de nascentes de um extenso arco de montanhas que o envolve ao norte e leste. De acordo com a dinâmica das chuvas, essa água é mais ou menos depositada na planície ao longo do ano.

Entre outubro e abril, a planície se alaga, com a subida dos rios. Já na seca, entre maio e setembro, o nível da água desce. Porém, pelo relevo plano, grandes “poças” de água se formam. Essa dinâmica característica do Pantanal é chamada de Pulso de Inundação.

As áreas alagadas, que se formam com o pulsar das águas ao longo do ano, são verdadeiros santuários de vida. Diversas espécies de peixes ficam aprisionadas nas poças, o que atrai aves de longe para o banquete. Não é difícil imaginar a imensa teia de vida que se forma a partir disso.

E toda essa beleza está gravemente ameaçada. Principalmente pela sanha do capitalismo e pelo descaso do governo federal. Apenas 4,6% do bioma encontra-se em unidades de conservação. A principal atividade econômica da região, a pecuária bovina, pede passagem. O agronegócio não se acanha em aproveitar do período de secas e do apoio presidencial para limpar terreno para seus pastos.

Que as chuvas venham e nos deem algum tempo para barrar toda essa destruição.

Um abraço e até a próxima!

Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.

 

Edição: Elis Almeida