Direito à energia

Amapá completa 8 dias de caos: falha no rodízio de energia, protestos e insegurança

Nos últimos sete dias foram realizados aproximadamente 40 protestos em diversos pontos da capital, Macapá

Brasil de Fato | Belém (PA) |
Ato realizado no bairro do Buritizal, na noite do dia 10 de novembro, sétimo dia de apagão. - Maksuel Martins/Secom/GEA

Desde a última terça-feira (7), quando ocorreu o episódio que deixou o estado do Amapá sem energia elétrica, a população tem vivido de maneira precária. Na última segunda-feira (9), o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou uma nota dizendo que o fornecimento de energia tinha sido retomado.

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No entanto, em diversos pontos da cidade, a população tem realizado protestos diários denunciando que não têm acesso nem ao racionamento de seis em seis horas divulgado pelo governo do Estado. 

Neuciane Lima é moradora do bairro do Buritizal, na periferia da capital Macapá. Ela foi uma das pessoas que participou do protesto realizado na última terça-feira (10), quando o apagão completou 7 dias. 

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Além do problema com a falta de água e de energia, ela aponta que a insegurança passou a fazer parte da rotina dos moradores de Macapá. Lima teve ainda a casa invadida e diz que, assim como a dela, isso tem ocorrido com outras pessoas que moram no seu bairro. Ela conta que um amigo foi assaltado à tarde e o clima de insegurança está aumentando entre as pessoas.

"Ontem à tarde, 17h30, ele foi assaltado com a arma em punho. Minha casa foi invadida, minha filha tem asma, eu preciso do aparelho do aerosol. Cheguei no meu limite de ir para o pronto-socorro e não me darem apoio e quando eu chego em casa é essa a situação", relata. Lima lamenta não ter encontrado outra alternativa a não ser ir para as ruas pedir que as autoridades tomem providência. 

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Todo dia algum protesto 

Dayane Oliveira é fotógrafa e tem acompanhado diversos protestos na cidade. Ela diz que, desde o apagão, há focos de manifestações na cidade, todas com o mesmo motivo: a continuidade da privação de luz e água para a população. 

"Todo dia está acontecendo manifestação em vários pontos da cidade. Ontem teve na zona norte. Hoje vai ter um ato que a gente não sabe o que vai acontecer", resume. 

Dayane diz ainda que a informação de que há energia na cidade não é verídica e que isso pode ser confirmado por qualquer morador. 

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"Não existe, isso é mentira. Eles estão compartilhando uma mentira sobre o estado. Não normalizou, está um caos. Estamos com racionamento em alguns pontos. Em praticamente 13 municípios não há água e luz. Famílias sem água potável para fazer a higienização fazer para tomar, está bem triste a situação hoje", afirma.


Ao fundo, a comunidade da Macedônia, localizada a 12 horas de barco de Macapá. Eles estão há oito dias sem luz e sem energia. / Dayane Oliveira

Privados de energia antes mesmo do apagão

"Nós não temos água, não temos energia,  estamos precisando de um transformador para a nossa bomba", reivindica Luiza Bruno, moradora de uma comunidade localizada a 12 horas de barco de Macapá chamada Macedônia.

A comunidade integra o arquipélago de Bailique, que é distrito de Macapá. No local eles estão há está há oito dias sem energia e sem luz. Bruno relata que, no local, as pessoas estão utilizando água do mar para beber e tomar banho o que tem afetado a saúde da população.

"Quem não tem condições de comprar água vai na água salgada mesmo. Nós estamos passando mal aqui no Bailique, tem gente que está adoecendo por causa da água salgada. As crianças estão ficando com a pele toda feia, porque as mães não têm como conseguir água doce para elas tomarem banho", relata. 

No Twitter, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) cobrou medidas mais efetivas do governo do Estado. "Nosso Estado está sofrendo por uma série de negligências. Nosso povo não podia estar no escuro nem um dia, 30/45 dias é inaceitável! Injustificável! Queremos o cumprimento da decisão de retorno imediato da energia no Amapá, seja como for", disse.

O Brasil de Fato pediu esclarecimentos ao governo do Estado do Amapá sobre os fatos citados na reportagem, mas não teve resposta até o momento da publicação.

Edição: Leandro Melito