Eleição municipal

Debate: Boulos defende "inverter prioridades" e cita abandono de São Paulo por Covas

Boulos defendeu a mudança em oposição a Covas. “Não aceito que a cidade mais rica do Brasil tenha tanta miséria"

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Guilherme Boulos (Psol) e Bruno Covas (PSDB) debateram temas de cidade no segundo debate rumo ao segundo turno - Reprodução

O primeiro debate da TV aberta rumo ao segundo turno em São Paulo, na rede Band, na noite desta quinta-feira (19), foi marcado pelo confronto de visões e de projetos de cidade. De um lado, o atual prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), defende a continuidade do legado tucano na cidade. Do outro, Guilherme Boulos (PSOL), em um contraponto crítico e anunciou reformas “para colocar a periferia no centro”.

Boulos foi o primeiro a falar e reafirmou que sua candidatura se pauta por propostas de renovação. “Urna não é lugar para depositar medo e ódio, é lugar para depositar sonhos. A mudança, no segundo turno, é comigo e com a Luiza Erundina”, disse, citando sua candidata a vice, que foi prefeita da cidade entre 1989 e 1993.

O candidato que unificou as forças progressistas em São Paulo criticou a desigualdade social na capital mais importante do país e disse acreditar na virada.

“Não aceito que a cidade mais rica do Brasil tenha tanto desemprego, tanta miséria. Vamos virar a página do abandono para que possamos construir uma cidade para todos, sem desigualdade. Sinto uma onda de esperança, de mudança.”

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Covas, por sua vez, apresentou sua proposta de continuísmo. “Vamos seguir a mesma linha desde o primeiro turno. O Brasil e o mundo atravessam uma crise econômica e social. Ofereço minha experiência como gestor, deputado, prefeito, para que possamos seguir avançando”, afirmou.

Covid-19

O atual aumento de casos de covid-19 em São Paulo, que aponta para uma segunda onda de contágios, foi um dos temas centrais no debate. A pandemia volta a assustar com o aumento da ocupação de leitos na cidade. Covas se esquivou dos dados e defendeu que a situação é de estabilidade.

Mas, em vez de apresentar soluções para evitar o adoecimento, o candidato seguiu a cartilha tucana, de privilegiar o atendimento. “Houve uma diminuição da quantidade de leitos para a covid-19 na cidade, sejam privados ou públicos. Havendo necessidade é possível rapidamente retomar leitos e não deixar ninguém sem tratamento”, disse.

Covas disse também que não existe previsão para lockdown na cidade. “Não há espaço para avançar na flexibilização, mas não há números que apontem necessidade de lockdown.”

Estratégias na pandemia

Entretanto, erros na condução da Saúde durante a crise foram expostos pelo candidato da esquerda. Em sua vez, Boulos criticou a condução da pandemia pelo tucano. São Paulo é a terceira cidade no mundo com mais mortos por covid-19.

Para o candidato, ações necessárias não foram tomadas, o que manteve o número alto de mortes e o fechamento de serviços por tempo prolongado. “É evidente que São Paulo e o Brasil estão há tanto tempo sem aula porque não fizeram a lição de casa. Testes em massa, controle de contágios. A curva poderia ser menor", disse.

O político do PSOL reafirmou a necessidade de maior aplicação de testes. “[O que foi feito nos] países que tiveram maior êxito, é o que vamos fazer. Testagem em massa. A cidade poderia ter feito isso".

Boulos enfatizou que a  cidade tem quase 8 mil agentes comunitários de Saúde que poderiam fazer a testagem. "Testes permitem localizar zonas de contágio, focos da doença. Assim podemos ter um controle maior da pandemia. A Coreia do Sul fez isso e teve um resultado extraordinário.”

O candidato do PSOL ainda criticou a postura do partido de Covas e de seu padrinho político, o governador João Doria (PSDB), em relação às vacinas futuras. “Transformaram a vacina em uma disputa política e partidária. Isso foi promovido pelo Bolsonaro e pelo Doria. Transformaram esse tema em uma disputa oportunista e pequena. É lamentável. A pandemia deve ser tratada da perspectiva da saúde pública e não política”, disse.

Orçamento e projetos

Orçamento e projetos para a cidade passaram pelo debate durante todos os blocos. Boulos defende maior investimento público enquanto Covas, a lógica neoliberal do Estado mínimo.

“Vamos inverter prioridades", afirmou Boulos ao ressaltar que São Paulo é a cidade mais rica do Brasil e da América Latina.

"Nossa diferença é que não vou gastar o orçamento para fazer uma reforma no Anhangabaú, enquanto tem gente vivendo com esgoto a céu aberto. Não vou quebrar calçada nas vésperas de eleições. Vamos sim cobrar a dívida ativa de instituições que devem 130 bilhões para a prefeitura”, completou.

Covas se esquivou ao afirmar que temas do orçamento são discutidos em conjunto com o Legislativo. “Recurso em caixa não significa que o dinheiro está disponível para fazer o que bem entender. Aumentamos em 25% o dinheiro em caixa”, disse, em um discurso de defesa de austeridade fiscal.

Desemprego

Sobre o desemprego, que cresce como resultado da pandemia e da condução da economia pelo governo de Jair Bolsonaro, Boulos apresentou sua proposta para recuperar a atividade econômica.

“Vamos fazer, a partir do ano que vem, o programa Renda Solidária. Lamentável o governo federal ter cancelado o auxílio emergencial. A prefeitura não pode se omitir. Vou criar o programa Renda Solidária, que vai atender até 1 milhão de famílias em situação de extrema pobreza com até 400 reais por mês”, disse.

O candidato argumentou que esse dinheiro vai promover a geração indireta de empregos, sobretudo nos bairros periféricos.

“Esse programa vai ajudar na recuperação econômica. Dinheiro gasto na padaria, no mercado, no açougue, movimenta a economia local. Isso gera emprego. Vimos os dados junto de economistas e o custo estimado [do Renda Solidária] é em torno de 3,5 bilhões ao ano. Isso cabe no orçamento. Nossas prioridades foram listadas e o custo delas cabem no orçamento."

O tucano não apresentou uma proposta com clareza neste tema. Disse que serão avaliadas possíveis medidas de incentivo a pequenos empresários e também falou sobre auxílios para os cidadãos. Mas, novamente, sem um plano concreto.

“Vamos enviar às famílias uma complementação do auxílio emergencial. Estamos definindo o meio de pagamento. Temos 2,5 bilhões para ajudar a enfrentar os desafios da pandemia”, disse.

Em tréplica a Covas, Boulos apontou que a proposta é mais uma ação que o PSDB apresenta em tempos de eleição. Também criticou o abandono de setores frágeis da economia, especialmente durante a pandemia de covid-19.

“Pequenos empreendedores foram abandonados na cidade. Pessoas passaram um sufoco danado. Vamos garantir uma linha de crédito para pequenos empreendedores para a retomada. Vamos abrir até 50 mil vagas em frentes de trabalho para fazer zeladoria. Vamos prevenir enchentes, vamos atuar para gerar emprego na cidade.”

Questão do vice

Um momento que elevou a tensão do debate foi quando Boulos perguntou se Covas “coloca sua mão no fogo por seu vice”, Ricardo Nunes (MDB). O companheiro da chapa encabeçada pelo tucano é alvo de denúncias de esquemas na chamada Máfia das Creches. Uma empresa da família de Nunes recebeu dinheiro da prefeitura para a prestação de serviços sem licitação.

Covas não foi afirmativo sobre “colocar a mão no fogo” por Nunes, negou as acusações e preferiu dizer que a política de conveniamento de creches com entidades privadas é eficiente.

“Meu vice não apenas não tem nenhum processo como não há indício de que ele tenha caso de corrupção. As creches conveniadas realizam um excelente trabalho para mais de 300 mil crianças. Não vamos colocar em risco essas creches”, desviou.

Já Boulos reafirmou as denúncias contra o vice de Covas. “Pelo que pude entender, você bota sua mão no fogo por Ricardo Nunes. Ele bota a mão no fogo mas o eleitor não precisa botar junto. Existem acusações e suspeitas", disse Boulos.

O candidato do PSOL também afirmou no debate que sete prédios foram alugados por empresas de servidores ligados ao Ricardo Nunes. "Tem documentos em matérias na imprensa. Alugueis com valores que ultrapassam a referência da própria prefeitura. São informações facilmente verificáveis. É preciso olhar bem para o vice que você pode eventualmente votar.”

Sobre Luiza Erundina, Boulos reafirmou sua confiança. “Tenho muito orgulho da minha vice. Foi uma grande prefeita, deixou um legado, uma marca. Mulher, nordestina, guerreira". E aproveitou para comparar a trajetória da ex-prefeita de São Paulo com a do vice escolhido pelo candidato tucano.

"Vice é importante. O Ricardo Nunes, apesar de dizer que não responde processo, tem suspeitas de gente do grupo dele recebendo aluguel superfaturado para creches conveniadas. Onde tem desvio, temos que combater", disse.