PORTO ALEGRE

Frente realiza ato em memória de João Alberto e exige uma Prefeitura antirracista

Ato simboliza a união de partidos em torno da candidatura de Manuela D'Ávila e de um programa antirracista

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Ato ocorreu na manhã desta segunda-feira (23) em frente à Prefeitura de Porto Alegre - Ezequiela Scapini

Diversos partidos e ativistas que compõem a Frente de Combate ao Racismo realizaram um Abraço Negro na Prefeitura de Porto Alegre, na manhã desta segunda-feira (23), em memória de João Alberto e para exigir uma prefeitura antirracista.

Segundo o secretário estadual de Combate ao Racismo do Partido dos Trabalhadores, Luis Alberto da Silva, os presentes tiveram o objetivo de realizar um abraço negro na prefeitura para fazer uma demarcação de que Porto Alegre não deve ceder espaço para o racismo. Ele afirma que ato é necessário em um momento em que o racismo cresce e cada vez mais fica visível.

::Segurança do Carrefour ajoelhou nas costas de João Alberto por 4 min até sua morte::

Sobre a atual campanha à prefeitura nas eleições municipais, Luis acredita ser o projeto político de Manuela o mais condizente com esta prática e com a preservação do Estado democrático de direito: "É nesse sentido que nós estamos colaborando para que haja uma sensibilização da sociedade sobre essa perspectiva".

"O racismo estrutural está impregnado na nossa sociedade, precisamos mudar as relações sociais e econômicas, sob pena do racismo sempre existir. Por isso, a política é fundamental para resolver esses problemas", avalia, referindo-se à construção da campanha da candidata do PCdoB à prefeitura.

Luís afirma também que a sociedade é responsável por atos como o que aconteceu com João Alberto, e que os agentes públicos têm que assumir sua responsabilidade no combate ao racismo.

Dirigente estadual do PCdoB e atuante no movimento negro do Rio Grande do Sul, Ivan Braz afirma que o gesto foi simbólico e também um desagravo às criticas e agressões que a bancada negra eleita sofreu por um candidato a prefeito e vereador, tentando desqualificá-los: "Para a nossa alegria, tivemos uma grande vitória eleitoral, é muito significativo nós termos eleito uma bancada com homens e mulheres negras da periferia".

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Ivan lembra também da importância das lutas por ações afirmativas, travadas desde décadas, que pavimentaram o caminho que permitiu a eleição desta atual bancada de jovens negros, periféricos, todos eles com formação e ensino superior: "Eles [os vereadores eleitos] fazem parte de uma intelectualidade e tem compromisso com os lugares de onde eles vieram, isso incomoda muito".

O dirigente do PCdoB considera que o simbolismo dessa conquista pode transcender as barreiras da cidade e influenciar todo o estado e o país, lembrando que o movimento negro gaúcho já exerceu essa influência e que, inclusive, a data do 20 de novembro partiu de mobilizações do povo negro do RS.

Sobre a constituição da Frente de Combate ao Racismo, afirma que ela começou com os dois partidos da candidatura Manuela, PT e PCdoB, recebendo a adesão de diversos partidos, como o PSOL, PDT e Rede, além dos negros organizados do PSB, por exemplo.

Francisco Isaías representou a secretaria negra do PDT no RS no ato e afirmou que abraço é muito significativo: "Ficamos muito estarrecidos com a mensagem de um parlamentar de Porto Alegre que circulou nas redes sociais dizendo que esse movimento do povo preto, na política porto-alegrense, se conformava em uma ameaça às eternas estruturas de poder que dominam a cidade. Queríamos dizer, não somente para este vereador, mas para toda a cidade, que sim, a comunidade negra gaúcha e brasileira entende que é chegada a hora de assumirmos nosso espaço na política".


Frente de Combate ao Racismo realizou ato simbólico em frente à Prefeitura / Ezequiela Scapini

Vereadores eleitos estiveram presentes

Daiana Santos, vereadora eleita pelo PCdoB, afirmou que a pauta que uniu os presentes é o combate ao racismo e a forma segregadora que a sociedade qualifica o povo negro: "Estamos conseguindo, a partir da eleição, agregar muito mais pessoas do que antes. Quando as pessoas olham para nós [vereadores da bancada negra] elas criam um identificação com essa pauta em algo que é concreto. Nós temos um trabalho junto às comunidades onde mais se observa os efeitos desse sistema".

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Afirma ainda que o objetivo é não somente debater essas pautas, mas também fortalecer os movimentos a partir do local legítimo com a ocupação da política representativa: "Por mais que as pessoas se enxerguem como indivíduos, elas não estão deslocadas da sociedade. Nossa luta e nossa presença aqui hoje é para que as pessoas se enxerguem como cidadãos de direito e fortaleçam essa luta. Não dá mais para aceitar tanta violência".

Matheus Gomes, vereador eleito pelo PSOL, dialoga no mesmo sentido, afirmando que o ato simbolizou o fortalecimento da luta antirracista no programa de governo de Manuela: "É algo que já estava colocado muito antes da criação dessa Frente entre os partidos. Para nós do PSOL é muito importante fazer essa reafirmação pois essa pauta já estava colocada na nossa candidatura que combinava a luta feminista com a antirracista, na figura da Fernanda e do Márcio. Nós voltamos nossa campanha para a denúncia de Porto Alegre como a capital mais racista do Brasil e na proposta de políticas públicas para combater esse cenário".

Afirma ter a convicção que o programa de Melo carrega o compromisso com a manutenção do racismo na estrutura da cidade e que é preciso fortalecer essa luta durante essa semana para que a cidade possa respirar novos ares. Espera também que a articulação entre os partidos para a luta antirracista possa seguir após o período eleitoral e que não se limite nas figuras e lutas institucionais.

Com a voz cansada pela semana intensa de lutas, a vereadora Bruna Rodrigues (PCdoB) também estava no ato afirmou ser o espaço da prefeitura um ambiente de disputa para a pauta do combate ao racismo: "A prefeitura não se pronunciou e não tomou medidas, não sabemos como serão os treinamentos promovidos pelo Carrefour, temos a informação de que a empresa responsável apenas mudou o emblema e segue na ativa, não podemos aceitar que seja apenas mais um corpo negro tombado".

Ela afirma também que os atos contra a rede de supermercados Carrefour vêm sendo chamados pela comunidade, por não aguentar mais acontecimentos violentos que já se tornaram cotidianos, deixando as pessoas em permanente ansiedade e medo.

::Sete vezes em que o Carrefour atuou com descaso e violência::

"Estamos nos mobilizando para que este ato não fique impune. Queremos, assim que tomarmos posse na Câmara, instalar um canal de recebimento de denúncias de violência racial, não podemos deixar se consolidar esse clima de impunidade na cidade, Porto Alegre não pode ser a capital do racismo. Na mesma semana em que elegemos cinco vereadores negros, no Dia da Consciência Negra, nós recebemos um corpo", destaca a vereadora Bruna. Afirma ainda que a Frente de Combate ao racismo se faz necessária para reagir ao projeto racista que está colocado na sociedade.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Marcelo Ferreira