Nova parceria

Marqueteiro de Moro foi alvo da CPI do Futebol por elo com empresa em paraíso fiscal

Dody Sirena administra carreira do cantor Roberto Carlos e será responsável pelas “turnês” do ex-juiz

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Empresário Dody Sirena posa ao lado de Roberto Carlos e Sergio Moro após concerto em Curitiba (PR) em 2019 - Reprodução / Twitter

O ex-ministro Sergio Moro fechou na última semana um contrato com o empresário gaúcho Jorge Sirena Pereira para administrar sua imagem e carreira como palestrante corporativo. Conforme divulgado pelo jornal O Globo, o ex-juiz da operação Lava Jato pretende fazer “turnês” pelo Brasil nos próximos meses, mirando as eleições de 2022.

A empresa contratada por ele foi a Delos Cultural, um dos braços da DC Set, que tem Sirena como sócio-fundador. Os valores não foram divulgados.

O empresário e o ex-juiz da Lava Jato foram apresentados em dezembro de 2019 em Curitiba (PR), após um concerto de Roberto Carlos. Conhecido como Dody Sirena, o novo “marqueteiro” de Moro é responsável pela carreira do cantor há 27 anos e ganhou as páginas dos jornais nos anos 2000 ao ser investigado na CPI do Futebol.

Zero a zero

Sirena foi suspeito de intermediar em 2000, como agente da empresa Bahia International, uma parceria entre o clube Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e a empresa International Sport Leisure (ISL), da Suíça, para exploração da marca e dos dividendos de marketing do clube por 15 anos.

O caso foi parar na Justiça após o sumiço de três cheques, totalizando US$ 310 mil – hoje, o equivalente a R$ 1,7 milhão –, enviados pela ISL ao Grêmio em agosto daquele ano.

Sirena foi denunciado pelo promotor Ivan Melgaré, do Ministério Público do Rio Grande do Sul, pelos crimes de estelionato e formação de quadrilha em 2005. O marqueteiro chegou a ter a prisão preventiva declarada em 2006 pela 1ª Vara Criminal de Porto Alegre, por não comparecer a um depoimento.

O empresário negou envolvimento no esquema e foi absolvido por falta de provas depois que peritos da Polícia Federal (PF) atestaram que “as assinaturas [dos contratos em seu nome] não se originaram de seu punho.”

No mesmo caso, José Alberto Guerreiro, ex-presidente do Grêmio, foi condenado a dois anos e dois meses de prisão, mas teve a pena convertida em prestação de serviços comunitários.

Segue o jogo

Ainda nos anos 2000, Sirena foi convocado a depor na CPI do Futebol no Senado por assinar contratos por uma filial brasileira da empresa Lake Blue Development, que se apresentava como parceira da ISL e tem sede nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal.

“São fortes os indícios de que essa empresa foi montada no Brasil para lavar dinheiro do futebol”, disse à época o presidente da comissão, senador Álvaro Dias (então filiado ao PSDB, e hoje ao Podemos).

Em nota, em meio à CPI, Sirena alegou inocência e afirmou que a subsidiária brasileira da Lake Blue Development fora criada para viabilizar recursos para shows.

“[Eles] não se viabilizaram, motivo pelo qual não houve qualquer ingresso de recursos no Brasil para este fim. A empresa Lake Blue do Brasil Ltda. não teve qualquer atividade. Ao que seja de meu conhecimento, [a empresa] não [participa de operações com jogadores].”

Documentos da época, com a assinatura de Sirena, mostram que a subsidiária Lake Blue do Brasil participava da negociação de atletas de futebol. Uma denúncia do jornal Folha de S. Paulo mostrou que a Lake Blue depositou US$ 2 milhões – o equivalente a R$ 10,7 milhões, no câmbio atual – em contas nas Ilhas Virgens Britânicas por ocasião da compra do atleta Dejan Petkovic pelo Flamengo.

O caso reforçou as suspeitas de crime financeiro e impediu que a ISL concretizasse parcerias com outros clubes interessados, como o Palmeiras. Também neste caso as investigações não prosperaram e o empresário não foi condenado em nenhuma instância.

Rodeado de estrelas

Com 60 anos recém-completos, Dody Sirena tem participação societária em dezenas de empresas. Em uma delas, a Emoções Incorporadora Ltda, a sociedade inclui outros três nomes: seu irmão Jaime Antônio Sirena, o cantor Roberto Carlos e Ubirajara Guimarães Colela da Silva, conhecido como Bira. Este último é representante da empresa de serviços financeiros Kushiger Development Inc, com sede no Panamá, outro paraíso fiscal.

Ao longo da carreira, Sirena já foi diretor-geral do festival Rock in Rio e é considerado um dos responsáveis por incluir o Brasil na rota de artistas como Michael Jackson, Eric Clapton, Ray Charles, Bob Dylan e a banda U2. Ele também intermediou contratos milionários de patrocínio da multinacional suíça Nestlé no mundo do esporte, incluindo um acordo de cerca de R$ 8 milhões anuais com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 2010.

A relação com a CBF é antiga. Em 2002, quando a seleção brasileira conquistou o pentacampeonato, foi o empresário quem organizou a logística das comemorações no retorno ao país, com escala em Brasília (DF). Sirena também foi responsável por organizar as turnês internacionais de Roberto Carlos, incluindo um megashow em Israel que movimentou mais de R$ 30 milhões em 2011.

O Brasil de Fato não conseguiu contato com o ex-juiz Sergio Moro para comentar o histórico de Sirena. A reportagem não ouviu o empresário porque seu posicionamento sobre cada um dos casos foi amplamente divulgado na imprensa à época das acusações.

Edição: Leandro Melito