UMA SEMANA DO CRIME

Ato em homenagem a João Alberto será realizado nesta sexta-feira em Porto Alegre

Carrefour reduz horário de suas unidades nesta quinta-feira em respeito ao luto da família e à sociedade brasileira

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Assim como outras cidades do país, Porto Alegre tem registrado uma série de protestos cobrando justiça por Beto - Ezequiela Scapini

Uma semana após o Brasil acordar no Dia da Consciência Negra com a notícia do brutal assassinato de João Alberto Silveira Freitas por seguranças de uma unidade do Carrefour em Porto Alegre, um ato ecumênico será realizado em sua memória na cidade. Marcada para esta sexta sexta-feira (27), às 18h, no viaduto da Igreja São Jorge, localizado na Avenida Bento Gonçalves, a manifestação por justiça para Beto convida a todos para levarem flores e velas para homenageá-lo.

::Homem negro morre após ser espancado em unidade do Carrefour em Porto Alegre ::

O ato foi convocado por entidades de religião de matriz africana, da qual Beto era frequentador. Pede um basta às mortes do povo negro e o fim do racismo, e a responsabilização do Carrefour e do Grupo Vector Segurança Patrimonial, empresa onde trabalhavam os dois homens brancos que agrediram a vítima.

Em entrevista ao portal da CUT-RS, o aposentado João Batista Rodrigues de Freitas, de 65 anos, pai do Beto, disse que “meu filho só foi morto do jeito que foi por causa do preconceito. O Beto podia ter sido apenas espancado que, ainda assim, seria um crime de ódio”. Ele afirma acompanhar as centenas de demonstrações de solidariedade que chegam de todos os cantos do país. “As manifestações trazem conforto para a minha família”, frisou.

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Carrefour faz horário reduzido

Nesta quinta-feira (26), quando completa uma semana do crime, o Carrefour mantém suas unidades de todo o Brasil fechadas até as 14h. A loja onde ocorreu o assassinato, no bairro Passo D’Areia, não vai abrir durante todo o dia. Em nota divulgada na quarta-feira, a rede afirma que é uma medida em “respeito ao luto da família de João Alberto Silveira Freitas e à sociedade brasileira” e tem por objetivo reforçar a “conscientização antirracista e tolerância zero a qualquer discriminação”.

::Segurança do Carrefour ajoelhou nas costas de João Alberto por 4 min até sua morte::

A nota destaca que “nada trará a vida de João Alberto de volta, mas não vamos medir esforços para que a transformação necessária aconteça”. Além disso, informa que “o resultado de vendas desta quinta e sexta-feira se somará ao resultado de vendas do último dia 20 de novembro no Fundo de Combate ao Racismo e Promoção da Diversidade criado pelo Carrefour, que já conta com o aporte inicial de 25 milhões de reais”.

Defensoria ingressou com ação coletiva

A Defensoria Pública do RS ingressou com uma ação coletiva contra a rede Carrefour e o Grupo Vector Segurança Patrimonial pela morte de João Alberto Silveira Freitas. Entre as solicitações, a entidade pede a indenização no valor de 200 milhões de reais para a rede Carrefour por danos morais coletivos e sociais.

A ação se estende também aos três funcionários envolvidos no caso. De acordo com a Defensoria, o valor, ao fim do processo, deverá ser destinado a fundos de combate à discriminação e defesa do consumidor. A entidade solicita a interdição da unidade onde ocorreu o episódio por cinco dias, com o objetivo de diminuir os riscos de possíveis atos hostis que poderão ocorrer em decorrência de manifestações.

Investigação

Após o desentendimento com uma funcionária, João Alberto, que fazia compras com sua esposa, foi conduzido ao estacionamento do Carrefour por dois seguranças. Após dar um soco em um deles, foi violentamente espancado. Ele estava imobilizado no momento em que um deles permaneceu com a perna em suas costas por quatro minutos. Um laudo inicial aponta asfixia como provável causa da morte.

A Polícia Civil está ouvindo funcionários e testemunhas e busca evidências para confirmar se o espancamento seguido de morte se enquadra no crime de racismo. Foram presos em flagrante por homicídio triplamente qualificado, um dia após o crime, o vigilante Magno Braz Borges e o brigadiano temporário Giovane Gaspar da Silva.

Na terça-feira (24), a polícia prendeu também a fiscal do Carrefour, Adriana Alves Dutra, que aparece de brancos nas imagens filmando o espancamento. A Polícia Civil apontou que a funcionária teve participação decisiva na ação, já que ela teria poder de comando sobre os atos dos seguranças. A prisão é temporária, com validade de 30 dias. No inquérito, sete pessoas são investigadas.

Nota do Carrefour

Em respeito ao luto da família de João Alberto Silveira Freitas e à sociedade brasileira, nesta quinta-feira, a loja Porto Alegre Passo D'Areia estará fechada durante o dia todo e as demais lojas no Brasil abrirão apenas após as 14h para reforço da conscientização antirracista e tolerância zero a qualquer discriminação. Todo o resultado de vendas desta quinta e sexta-feira se somará ao resultado de vendas do último dia 20 de novembro no Fundo de Combate ao Racismo e Promoção da Diversidade criado pelo Carrefour, que já conta com o aporte inicial de 25 milhões de reais.

Sabemos que nada trará a vida de João Alberto de volta, mas não vamos medir esforços para que a transformação necessária aconteça.

Queremos nos unir com todos aqueles que quiserem ajudar nessa luta. Isso é o só o começo de mudança profunda e necessária.

Continuaremos atualizando a sociedade sobre as próximas ações nas próximas duas semanas.

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Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko