Violência

Assassinatos e atentados por fins políticos aumentaram quase 200% nas eleições 2020

O ano de 2020 já tem mais ocorrências do que a soma dos casos registrados em 2018 e 2019

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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"Setores conservadores se utilizam da violência para criar um ambiente de intimidação ", explica coordenadora da pesquisa
"Setores conservadores se utilizam da violência para criar um ambiente de intimidação ", explica coordenadora da pesquisa - Divulgação

O ano de 2020 representou aumento substancial da violência política durante a campanha eleitoral, com alta de 196% nas ocorrências de assassinatos e atentados somente nas primeiras semanas de setembro. Em comparação aos primeiros meses deste ano, o período de 2 de setembro a 29 de novembro, teve aumento de 371% em casos dessa natureza.

Somente na semana anterior ao 1º turno, entre os dias 9 e 15 de novembro, foram contabilizados 45 casos de violência política, entre assassinatos, agressões, atentados e ofensas – uma média de seis casos registrados por dia. Os dados são do relatório "Violência Política e Eleitoral no Brasil", produzido pela iniciativa Terra de Direitos e Justiça Global

Segundo o documento, foram contabilizados 13 assassinatos e 14 atentados entre 1º janeiro a 1º de setembro de 2020. Já entre 2 de setembro a 29 de novembro, houve registro de 14 assassinatos e 66 atentados contra candidatos e candidatas a prefeituras e câmaras de vereadores de diversas siglas partidárias.

O ano de 2020 já é considerado o mais violento contra candidatos e candidatas no Brasil. Nas eleições anteriores, em 2018, foram registrados 17 casos de assassinatos e atentados. Em 2019, houve 32 casos. Mesmo antes de ser finalizado, este ano já contabiliza 107 ocorrências. Portanto, o número é maior que a soma dos casos dos dois períodos  anteriores.

Todos os casos de assassinato ou tentativa de assassinato ocorreram contra homens. Um candidato a prefeito e 13 candidatos a vereador foram mortos. Entres os partidos, houve registro de dois óbitos no PTB, no PP e no DEM. Patriota, MDB, PL, PT, PSC, Solidariedade e PTC tiveram um caso cada. Na relação das vítimas dos mais de 60 atentados estão 59 candidatos e 7 candidatas das legendas Cidadania,  PDT, PSDB, Podemos, DEM, Republicanos, MDB, PSL, PT, PSC, PSB, PSD.

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Os estados com maior número de registros atentados, assassinatos, ameaças e agressões foram São Paulo, Pará, Rio de Janeiro e Bahia. A pesquisa confirma ambiente político de intimidação e ofensas à grupos sociais específicos, como mulheres, população negra e LGBTQI. São ocorrências permeadas pelo racismo, o machismo e a LGBTfobia. 

"A violência crescente tem acompanhado movimentos que merecem a nossa atenção e preocupação. De um lado, a instrumentalização cada vez mais intensa da política por grupos criminosos. De outro, a atuação organizada de setores conservadores de extrema-direita que se utilizam da violência racial e LGBTfóbica para criar um ambiente de intimidação contra candidatas mulheres negras, mulheres trans ou de identidade LGBTQIA+”, afirma Elida Lauris, coordenadora da Terra de Direitos e da pesquisa.

 

Edição: Rodrigo Chagas