Coluna

O fardado

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Um homem com farda de oficial do exército entrou no ônibus e ficou de pé ao lado de umas pessoas. De repente, uma moça ao lado dele desferiu uma bolsada na sua cara - Fabio Rodrigues Pozzebom / Fotos Públicas
Usar farda já era um inconveniente. Mas muitos usavam para não pagar ônibus, por exemplo

Nas eleições para prefeitos e vereadores de 2020, no Brasil inteiro, um monte de candidatos tinha no nome registrado para concorrer um cargo policial ou militar.

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É delegado fulano, capitão beltrano... por aí. Acham grande vantagem incorporar a profissão ou patente militar ao nome, como sendo uma atração para votarem neles.

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E muita gente acredita que isso era assim no tempo da ditadura, que autoridades policiais e militares eram muito bem vistas.

Em alguns lugares e em certas épocas, até que eram.

Mas com o tempo, vendo os descalabros e os abusos da ditadura, a corrupção das tais autoridades, que não era menor do que a dos civis, cada vez mais tornava-se um fator negativo identificar-se como autoridade policial ou militar.

Usar farda já era um inconveniente. Mas muitos usavam para não pagar ônibus, por exemplo.

Na época não tinha isso de velho não pagar passagem. Mas gente fardada — incluindo os carteiros, que eram fardados também — não pagava.

Uma piada da época é que num ônibus mais ou menos lotado, com algumas pessoas em pé, aconteceu uma coisa interessante.

Um homem com farda de oficial do exército entrou no ônibus e ficou de pé ao lado de umas pessoas. De repente, uma moça ao lado dele desferiu uma bolsada na sua cara.

Aí, um rapaz que estava com ela mandou-lhe um soco no rosto. Em seguida, um velho deu-lhe um chute na canela.

Um sujeito que estava sentado levantou-se e também deu uns tapas no oficial.

O fardado gritou para o motorista que fosse direto para a delegacia. O motorista obedeceu. Lá, o delegado foi exigir explicação para as agressões ao oficial:

- Ele passou a mão em mim – disse a moça.

Na verdade ela disse em que parte do corpo ele lhe passou a mão, mas não vou contar aqui.

O delegado olhou para o rapaz que lhe deu o soco:

— E você, por que deu um soco nele?

— Ela é minha noiva — respondeu o rapaz.

— E o senhor, por que chutou a canela dele? — perguntou ao velho.

— Ela é minha filha — respondeu o homem.

Por fim, o delegado perguntou ao último agressor:

— Você estava sentado e não tinha nada com isso. Por que agrediu o militar?

O sujeito coçou o queixo e falou:

— Vi todo mundo batendo no cara fardado e achei que a ditadura tinha caído.

Edição: Rogério Jordão