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Estudo revela que pandemia piorou saúde mental de adolescentes no país

Adolescentes relataram dificuldades por conta do distanciamento de amigos e familiares

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Homem, sentado, triste
"A tristeza, o desânimo e o sono excessivo em geral estão presentes na depressão" - Créditos: Pixabay

A pandemia deixou quase metade dos adolescentes, com idades entre 12 e 17 anos, nervosos, ansiosos e de mau humor. Esses problemas foram relatados por 48,7% dos jovens ouvidos pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Unicamp.

As medidas restritivas impostas para conter o novo coronavírus também aumentaram o sedentarismo, assim como o consumo de doces e congelados entre esses brasileiros. Além disso, o levantamento apontou que o sono também foi afetado: quase 24% dos adolescentes apresentaram problemas para dormir.

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O estudo investigou, entre os meses de junho e setembro, as mudanças na rotina, estilo de vida, relações com familiares e amigos, nas atividades escolares e nos cuidados com a saúde.

O resultado apontou um salto no percentual de adolescentes que não praticam sequer uma hora de atividade física durante a semana. Antes da pandemia esse contingente era de 20,9%, e com a chegada da covid-19, ultrapassou os 43%.

Ainda segundo o levantamento, 70% dos brasileiros de 16 a 17 anos passaram a ficar mais de 4 horas por dia em frente ao computador, tablet ou celular, além do tempo das aulas on-line.

A pesquisadora da Fiocruz e coordenadora do trabalho, Celia Landmann, disse que chamou muita atenção o estado de ânimo dos jovens durante esse período. Segundo ela, quase 50% relataram preocupação, nervosismo e mau humor.

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"Entre os resultados sentimos muito os problemas no estado de ânimo. Quase 50% relatou ter sentido preocupação, nervosimo e mau humor na maioria das vezes. Também mais de 30% relatou sentir isolamento e tristeza. Além disso, mais de 20%, quase que 1/4 dos adolescentes, passaram a ter problemas no sono", explica.   

A estudante do ensino médio, Letícia Almeida, conta que, desde o início da quarentena, não tem saído de casa, e por isso tem ficado bastante triste e nervosa.

"Desde o início da quarentena eu quase não tenho saído de casa e não tenho visto meus amigos. Isso me deixa muito triste e nervosa, porque era uma coisa que eu gostava de estar fazendo sempre, de estar em contato com minha famílias e meus amigos. E agora eu não os vejo mais, só virtualmente", relata.

A pesquisadora também destaca que o percentual de 30% na piora do estado de saúde dos adolescentes.  

"Para os adolescentes relatarem que tiveram piora no estado de saúde, esse foi um problema importante provocado para a mudança no estado de ânimo, tristeza e sentimento de isolamento de amigos  familiares. Então mexeu com a vida dos adolescente", identifica. 

Sobre as dificuldades para acompanhar as aulas on-line, 59% dos jovens informaram ter dificuldade de concentração; 38,3% mencionaram a falta de conexão com os professores, e 31,3% ausência de interação com amigos.   

O percentual de estudantes que disseram estar entendendo pouco do conteúdo repassado de maneira virtual ultrapassou os 47%, e 15,8% declararam que simplesmente não conseguem compreender as aulas.

A pesquisa da Fiocruz entrevistou quase 9,5 mil adolescentes, que responderam a um questionário online, entre os dias 27 de junho e 17 de setembro.