SÉRIE CÂMARA

Na Câmara de Vereadores do Recife, “centrão” se renova e perde cadeiras

Com queda de 15 para para 13 cadeiras, parlamentares eleitos são ligados a fundamentalismo, saúde privada e transportes

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Apenas sete do total de políticos de centro foram reeleitos. Seis novos parlamentares integrarão a bancada - Divulgação

Os partidos de centro-direita que formam bloco nacional chamado de “Centrão”, no Recife, perderam duas cadeiras: caíram de 15 para 13, com uma renovação de metade, já que apenas sete foram reeleitos. Neste bloco contabilizamos vereadores do PP, SD, Avante, CD, Republicanos, MDB, PROS, DEM e PSDB.

Na composição atual do “Centrão” do Recife, o PP detém oito cadeiras e tem a companhia de CD (2), REP (2), SD (1), MDB (1) e PSDB (1). O PP perdeu metade de sua bancada, o CD e o REP perderam um vereador cada, enquanto o SD ampliou para dois, o MDB reelegeu seu único e o PSDB perdeu seu único. O Avante elegeu dois vereadores.

Leia também: Boulos, Marília Arraes e Manuela saem da eleição maiores do que entraram

Da bancada de oito vereadores do PP apenas três foram reeleitos: Eriberto Rafael, Chico Kiko e Michele Collins, esta última bolsonarista. O trio ganha a companhia da ativista da causa animal Andreza Romero, empresária e esposa do deputado estadual Romero Albuquerque, conservador e bolsonarista.

Todos os parlamentares têm perfil de centro ou direita. O PP obteve 71 mil votos para a Câmara Municipal, sendo o segundo partido com mais votos e tendo a segunda maior bancada. A sigla integra a base de apoio do PSB nos níveis estadual e municipal, tendo composto a coligação que elegeu João Campos.


Vereadores do PP, SD, Avante, CD, Republicanos, MDB, PROS, DEM e PSDB compõem bancada / Vinícius Sobreira

O Solidariedade (SD) reelegeu Rodrigo Coutinho, ligado a empresas de ônibus e filho do deputado federal Augusto Coutinho (SD); e fez mais um vereador, Paulo Muniz, empresário, diretor do hospital privado Santa Terezinha e com atividades no bairro de Boa Viagem, tendo como carro-chefe o projeto de incentivo ao futebol de areia Tubarões do Recife, criado a um ano da eleição. O SD foi o quinto partido mais votado para a Câmara, com 43,5 mil votos (5,3%).

O Avante não possuía mandato no Recife, mas foi o oitavo partido mais votado, com 34 mil votos (4,2%) e elegeu dois vereadores: Dilson Batista, um líder comunitário do bairro de Dois Irmãos; e Fabiano Ferraz, que nos últimos anos atuou como gerente geral da CTTU e é irmão do deputado estadual Fabrizio Ferraz (PP). O Avante integra a coligação de João Campos e os dois vereadores serão base governista da próxima gestão.

::Esquerda na Câmara Municipal do Recife ganha mais qualidade a partir de 2021::

O MDB tinha apenas Samuel Salazar, que em 2016 disputou o pleito pelo PRTB e ficou na suplência, mas viu a vaga cair no seu colo quando o bolsonarista Marco Aurélio (PRTB), então vereador, conseguiu se eleger deputado estadual.

Samuel Salazar assumiu o mandato em 2019 e logo trocou de partido, passando a compor a base da gestão Geraldo Julio. Salazar reeleito e manteve o MDB com uma cadeira. O PROS, que não tinha vereadores, elegeu Zé Neto, administrador que atuou na atual gestão. Ambos serão base de apoio para João Campos.

Já o Republicanos (REP), partido da Igreja Universal (IURD), perdeu uma cadeira importante. Gilberto Alves, que está apenas em seu 2º mandato, tem décadas de atuação na política, principalmente nos bastidores, ocupando postos estratégicos de articulação em gestões de Jarbas Vasconcelos, Eduardo Campos e Geraldo Julio. Gilberto Alves não tinha ligações estreitas com a Universal. A única reeleita do REP foi a professora Ana Lúcia, esta sim figura ativa na IURD. O partido foi o 10º mais votado, com 31,6 mil votos (3,9%).

O Cidadania do deputado Daniel Coelho também encolheu. O partido no Recife faz oposição ao PSB. Dos dois vereadores que possui, o mais progressista é Jayme Asfora, ex-presidente da OAB Pernambuco e defensor dos Direitos Humanos. Após dois mandatos, Asfora não conseguiu se reeleger.

O único vereador do CD, indo agora para seu segundo mandato, é Júnior Bocão, ex-trabalhador do transporte de cargas, ex-kombeiro e fundador da cooperativa de transporte complementar do Recife (Coopernorte). Ele também representa o Sindicato os Detentores de Licença para o Transporte Complementar, formado por autônomos e por nomes ligados às empresas de transporte público. Bocão não deu apoio à candidata a prefeita Patrícia Domingos (Podemos), apoiada por seu partido.

O DEM no Recife será um dos representantes do “bolsonarismo”. O vereador eleito Alcides Cardoso é empresário e defensor do presidente Jair Bolsonaro. Além dos R$40 mil colocados do próprio bolso na campanha, ele recebeu doações do advogado Guilherme Freire de Moraes Guerra (R$25 mil) e dos irmãos sergipanos Marcony Sobral de Mendonça (R$20 mil) e Fábio Sobral de Mendonça (R$20 mil), ambos empresários, Fábio atua no ramo automobilístico (Fiat Italiana e Liv Locadora) e imobiliário (Mendonça Empreendimentos) e Marcony no ramo de software (Wbooc Services, em Aracaju).

Alcides Cardoso (DEM) foi apoiado por André Régis (PSDB), que sequer tentou reeleição, já que seu partido não conseguiu montar bancada de vereadores – apesar de o presidente nacional do PSDB, o ex-deputado federal Bruno Araújo, ser recifense.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga