ELEIÇÃO PARLAMENTAR

Observadores internacionais destacam eficiência do sistema eleitoral venezuelano

Cerca de 200 representantes acompanharam o dia de votação em colégios eleitorais de todo o país

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Os observadores têm autoridade para entrar em todos os recintos de votação e pedir informações aos funcionários eleitorais. - Michele de Mello / Brasil de Fato

Mais de 200 observadores internacionais chegaram à Venezuela para acompanhar a eleição da nova Assembleia Nacional. Tanto os observadores quanto a missão de verificação que já está há um mês no país puderam acessar os mais de 14 mil colégios eleitorais em todo o país.

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Entre os nomes mais conhecidos estão os ex-presidentes da Bolívia, Evo Morales, do Equador, Rafael Correa, do Paraguai, Fernando Lugo e de Honduras, Manuel Zelaya. Todos os observadores foram convidados e são acompanhados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), pelo Ministério de Relações Exteriores e pelo Instituto Simón Bolívar. 

"É uma máquina bem azeitada, esta é a quarta eleição que acompanho e vejo que é um povo acostumado a votar, por isso surpreende tanto essa matriz de opinião da imprensa hegemônica de que isso é uma ditadura. Pois qual ditadura aceita realizar eleições e ainda perde algumas? Seria muito estranho", declarou o político espanhol Javier Couso, ex-deputado do Parlamento Europeu.

:: Qual a opinião do povo venezuelano sobre as eleições legislativas? :: 


Membros das Brigadas Bolivarianas apoiam o Poder Eleitoral e as Forças Armadas na logística e segurança do processo. / Michele de Mello / Brasil de Fato

O dia de votação foi marcado pela tranquilidade tanto em zonas tradicionalmente chavistas como em zonas opositoras. 

"Vejo que é um processo que se desenvolveu em paz e tranquilidade. Vi muitas pessoas indo votar e isso já é positivo", afirmou Ricardo Patiño, ex-chanceler do Equador e observador eleitoral. 

Este processo eleitoral adquire importância internacional, porque marca a reativação da Assembleia Nacional, que nos últimos cinco anos atuou em desacato com a justiça por ter empossado deputados que tiveram sua candidatura impugnada. 

Apesar de o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) ter declarado como nulas as ações dos parlamentares no último período, o Legislativo, controlado pela oposição, tornou-se um espaço para promover a aplicação de mais sanções econômicas a fim de desestabilizar o governo de Nicolás Maduro.

:: Confira as propostas das chapas que disputam as eleições legislativas na Venezuela :: 

"Muitas coisas estão em jogo. A Assembleia violou o seu papel previsto na Constituição e tentou se sobrepor a um presidente eleito. Portanto, houve um enfrentamento institucional que não deveria ter acontecido. Creio que esse processo tem muito significado para ver qual parte da oposição está disposta a colaborar e lutar de maneira democrática", analisa Couso. 

Luis Cisneros, representante do Movimento Mexicano pela Paz e Desenvolvimento (Mompade) concorda com a transcendência dessas eleições. "Esperamos que a Venezuela recupere seu aparato legislativo, porque qualquer presidente que tem um legislativo contrário sabe que sempre através da política trataram de puxar tudo para trás", disse .


O sistema eleitoral venezuelano é automatizado desde 2004 e todo o ato de votação dura cerca de sete segundos. / Michele de Mello / Brasil de Fato

 
A voz dos eleitores

No colégio Andrés Bello, no município de Chacao, zona leste da Grande Caracas, onde votam cerca de 7,2 mil eleitores que tradicionalmente optam pela oposição, o empresário Héctor Pacheco destacou a facilidade para votar e a importância desse pleito como caminho para o diálogo.

"É um processo democrático que nos ajuda a construir um caminho de paz. Ao haver paz, temos mais estabilidade econômica e mais confiança", afirmou. 

No centro de votação da Universidade Bolivariana da Venezuela, a servidora pública aposentada Maritza Millán reiterou as declarações dos observadores estrangeiros. "É um direito pátrio e um dever. Temos cinco anos de caos, de muitas medidas contra o país. Essa é uma mensagem ao mundo de que assim como há países que realizaram eleições livres, nas quais o povo acudiu, assim também somos. Um país livre, soberana, capaz de tomar decisões próprias", assegurou.

Também na Escola Técnica Manuel Palacios, na favela 23 de janeiro, zona oeste da capital e antigo local de votação do ex-presidente Hugo Chávez, os cidadãos não tiveram problemas para votar, apesar da pandemia. "Não podemos esperar que outras pessoas decidam por nós. Espero que os resultados sejam satisfatórios",  afirmou a dona de casa Gisela Negrin.

As pesquisas de boca de urna apontam para uma participação de 23% do eleitorado. Os primeiros resultados devem ser emitidos pelo poder eleitoral venezuelano a partir das 21h [hora local], o que corresponde às 22h do horário de Brasília.

Edição: Luiza Mançano