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CRÔNICA

A Rua do Sapo e a pandemia

Todo apelo à vida, ao luto, à dor, à morte, parece enfraquecer diante do tempo.

07.dez.2020 às 09h46
João Pessoa - PB
Redação

"a rua se dividia entre as pessoas que queriam preservar a vida dos anfíbios e explicavam a importância deles no controle das pragas" - Google

A Rua do Sapo foi como batizamos uma das ruas em que morei quando criança. O meu bairro foi tomado por algum fenômeno natural e, subitamente, sapos de todas as formas começaram a brotar. Eram muitos. Sapos pequenos. Sapos grandes. Magros. Gordos. Nesse dia, descobri que as crianças, símbolo da bondade angelical e do amor puro, podem ser cruéis e criativas. Uma soma bastante nociva, especialmente quando envolve vidas subvalorizadas.

Naquela rua, naqueles dias, toda espécie de tortura animal pôde ser vista. Adultos e crianças brincavam com aquelas vidas como se fossem seres inanimados. Cirurgias foram realizadas, arremessos, lançamentos nos fios de alta-tensão, chute de maior alcance, sapo ao alvo, entre outras atrocidades que me traziam desespero e, talvez, um certo alívio para minha tia que tinha batracofobia e não conseguia sair de casa.

Lembro que a rua se dividia entre as pessoas que queriam preservar a vida dos anfíbios e explicavam a importância deles no controle das pragas e que aquilo era algum fenômeno natural. Toda sorte de argumentos não era suficiente para amenizar a barbárie que se instaurou. Os dias passaram, as brincadeiras continuaram e os defensores dos sapos foram perdendo força e vontade. Desistiram. Alguns dias depois, tudo voltou ao normal e, por um bom tempo, corpinhos pendurados nos fios de alta-tensão e amarrados nos postes enfeitavam os caminhos do bairro.

Quando a pandemia chegou ao Brasil, automaticamente lembrei dos sapinhos e do mal-estar que aquilo me causou. No começo parecia que seria diferente: se não todos, a maioria estava empenhada em fazer funcionar. Ruas vazias. Pessoas solidárias. Festas à distância. Videochamadas. Fique em casa. Salve vidas. Ledo engano. A experiência da infância me mostrou que empatia tem prazo de validade e cansa demais para ser praticada a longo prazo. Isolamento social passou a ser coisa de gente chata. Fiscal de quarentena. O vírus está aí, mas a vida é muito curta pra ficar trancado em casa.

Todo apelo à vida, ao luto, à dor, à morte, parece enfraquecer diante do tempo. A vida está passando. A vida é agora. Sintomas de uma sociedade individualista e instantânea, da busca desenfreada pela felicidade, pelo prazer, mesmo que, para isso, seja necessário ressignificar a maneira de sentir. A dor do outro é legítima. O sofrimento é real. Mas, agora, continuar tem sido fechar os olhos e seguir num campo minado brincando de roleta russa. Hochschild, socióloga estadunidense, diz que existe um conjunto de regras sociais que guiam a maneira como devemos sentir. Ao luto reagimos com choro e tristeza. Ao nascimento com lágrimas de alegria. Essa é a expectativa.

 As sequelas do coronavírus nas relações sociais são tão sombrias quanto as possíveis sequelas no corpo humano. Certa vez, estava no supermercado e, numa conversa tola, o rapaz do caixa deixou escapar que seu grande sonho era ir à Guerra, servir ao país. Depois disso, sempre me pego pensando como seria o Brasil em guerra, em 2020. Generais, Almirantes, Coronéis ajanotados, grisalhos. A juventude armada na frente de batalha, com seus medos e amuletos. Imediatamente penso nos sapinhos e no poder do tempo. A única imagem que me vem em mente é que, passados três meses, a saudade do churrasco com os amigos e da baladinha top tomaria conta e o Brasil se renderia: pode levar o país, mas não mexa com a sexta-feira. Sextou!

 

 Por Anne Medeiros – Assistente social, especialista em Paciente Crítico. Mestranda em Ciências Sociais pela UFRN. Coordenadora do Coletivo LGBTQIA+ Resistência PB e da campanha SOSTT.

Editado por: Henrique Medeiros
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