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Movimentos pedem a liberdade de Assange no Dia Internacional dos Direitos Humanos

Carta entregue a órgãos diplomáticos do Reino Unido exige a não extradição do fundador do Wikileaks

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
A ação deste 10 de dezembro se soma a diversas iniciativas no mundo que pedem o respeito à liberdade de expressão e de imprensa para o fundador do Wikileaks - Daniel Leal-Olivas/AFP

No marco do Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado nesta quinta-feira (10), movimentos populares de todo o mundo pedem a liberdade do jornalista australiano Julian Assange, preso em Londres desde abril de 2019.

Na ação organizada pela Jornada Internacional de Lutas Anti-imperialistas, uma carta aberta foi enviada a 100 órgãos diplomáticos do Reino Unido nos cinco continentes pedindo a não extradição e o respeito à liberdade de imprensa no julgamento de Assange.

“Julian Assange arriscou sua vida e sua liberdade por não permanecer em silêncio, por não aceitar que esses crimes permanecessem ocultos e impunes. Nestes tempos obscuros para a humanidade, precisamos de todas aquelas vozes que denunciam os crimes contra ela”, diz um fragmento da carta.

Entre os movimentos brasileiros que assinam o documento estão o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) e a Marcha Mundial das Mulheres (MMM).

A petição, que conta com mais de 240 assinaturas, afirma que “há mais de dez anos, Julian Assange enfrenta uma perseguição implacável porque se negou a ficar em silêncio. Seu trabalho jornalístico revelou os terríveis abusos de regimes políticos que impõem o terror, o genocídio e a destruição para satisfazer seus interesses”.


Na Embaixada do Reino Unido, em Brasília (DF), os representantes populares protocolaram, em novembro, uma carta pela liberdade de Julian Assange, fundador do Wikileaks / Fabricio Di Carvalho

Assinam o documento juristas, jornalistas e ativistas que denunciam as irregularidades no caso Assange, no qual o jornalista é acusado por espionagem e conspiração nos EUA por ter tornado públicos diversos crimes de guerra cometidos pelo Exército norte-americano nas invasões ao Iraque e ao Afeganistão, podendo receber uma pena de 175 anos de prisão.

Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff também assinam a carta enviada às autoridades do Reino Unido.

Em um artigo publicado no The Guardian em setembro deste ano, Lula afirmou que o Brasil tem uma dívida com Assange, devido ao seu trabalho no Wikileaks que, em 2016, tornou público os encontros ocorridos entre o governo interino de Michel Temer e funcionários do Departamento de Estado dos EUA para tratar de questões relativas à privatização do pré-sal brasileiro.

A seguir, leia a declaração na íntegra.

Liberdade para Julian Assange - Carta Aberta

A pandemia de covid-19 está colocando em perigo toda a humanidade. A possibilidade de uma saída autoritária à crise se manifesta em muitos países do mundo. Frente às necessidades urgentes dos povos – saúde, comida, moradia, segurança –, os governos autoritários impoẽm repressão, perseguição e silêncio.

Nestes momentos críticos para a humanidade, não podemos ficar em silêncio.

Há mais de dez anos, Julian Assange enfrenta uma perseguição implacável porque se negou a ficar em silêncio. Seu trabalho jornalístico revelou os terríveis abusos de regimes políticos que impõem o terror, o genocídio e a destruição para satisfazer seus interesses.

Enquanto esses crimes contra a humanidade continuam impunes, Julian Assange sofre uma punição terrível por se atrever a denunciá-los. O processo legal contra ele é um exemplo da utilização política das instituições do Estado contra o interesse geral. 

 Julian Assange não vê a luz do sol há mais de oito anos, sendo  submetido a tortura e isolamento. Como no caso de outros presos políticos, este tratamento busca acabar com a sua disposição e infligir uma punição exemplar para que outras vozes também se calem. Mas ele resiste, apesar das graves consequências para sua saúde mental e psicológica. Ele suporta a arbitrariedade e a injustiça com dignidade e rebeldia.

 Julian Assange disse ao tribunal que decide sobre sua possível extradição para os Estados Unidos: “Não aceitarei que censurem o testemunho de uma vítima perante este tribunal”. Somos milhões e não aceitaremos que silenciem sua voz, tampouco silenciaremos as nossas. Não estamos dispostos a abrir mão de ver o grave abuso ao qual está submetido.

 Nós, que apoiamos esta declaração, também nos solidarizamos com ele e com a sua família: com sua companheira, seus filhos e seus pais.

 Unimos nossas vozes às vozes de jornalistas de todo o mundo, que sabem que sua profissão será ainda mais perigosa se Julian Assange for extraditado, e que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa serão objetos de uma perseguição ainda mais implacável.

Unimos nossas vozes às vozes da população britânica, que assiste com indignação à submissão das instituições nacionais aos interesses de uma potência estrangeira, em uma aplicação grosseira da extraterritorialidade e desrespeito ao Estado de direito.

Unimos nossas vozes às vozes das e dos ativistas e defensoras/es dos direitos humanos, que sabem que poderiam ser os próximos em sofrer a arbitrariedade, a perseguição e a tortura de Estados poderosos que buscam a vingança e não a justiça.

Unimos nossas vozes aos juristas do mundo todo que têm alertado sobre as graves irregularidades do processo judicial contra Julian Assange e que temem que o Estado de direito seja ferido de morte caso Assange seja extraditado.

Mas, acima de tudo, unimos nossas vozes às vozes das milhares de vítimas nos países que foram invadidos e atacados pelas forças militares de Estados poderosos, a todas as vozes silenciadas pela brutalidade da guerra, a todas as vítimas dos crimes cujos autores permanecem impunes até hoje. 

Julian Assange arriscou sua vida e sua liberdade por não permanecer em silêncio, por não aceitar que esses crimes permanecessem ocultos e impunes. Nestes tempos obscuros para a humanidade, precisamos de todas aquelas vozes que denunciam os crimes contra a humanidade.

Julian Assange não deve ser extraditado, Julian Assange deve ficar livre!

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Quem assina:

Dilma Rousseff (Brasil) Ex-presidenta da República Federativa do Brasil
Lula da Silva (Brasil) Ex-presidente da República Federativa do Brasil
Fernando Lugo (Paraguai) Ex-presidente da República do Paraguai
Ernesto Samper (Colômbia) Ex-presidente da República da Colômbia, ex-secretário-geral da Unasul
Gerardo Pisarello (Argentina/Espanha) 1° Secretário - Congresso dos Deputados da Espanha
Enrique Santiago (Espanha) Deputado do Congresso dos Deputados da Espanha
Mick Wallace (Irlanda) Euro parlamentar
Clare Daly (Irlanda) Euro parlamentar
Manu Pineda (Espanha) Euro parlamentar
Sira Rego (Espanha) Euro parlamentar
Txema Guijarro (Espanha) Membro do Congresso dos Deputados
Fernando Haddad (Brasil) Ex-ministro da República Federativa do Brasil
Celso Amorim (Brasil) Ex-ministro das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil
Carlos Sotelo (México) Ex-senador
Mónica Xavier (Uruguai) Ex-intendente da República Oriental do Uruguai
Ricardo Patiño (Equador) Ex-chanceler da República do Equador
Carlos Ominami (Chile) Ex-senador
Esperanza Martínez (Paraguai) Ex-senadora
Clara López (Colômbia) Ex-ministra da República da Colômbia
Daniel Martínez (Uruguai) Ex-intendente da República Oriental do Uruguai
Camilo Lagos (Chile) Presidente do Partido Progressista do Chile
Adoración Guamán (Equador/Espanha) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Alfredo Beltrán Sierra (Colômbia) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Aloizio Mercadante (Brasil) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Baltazar Garzón (Espanha) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Carol Proner (Brasil) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Damián Loreti (Argentina) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Emilio Camacho (Paraguai) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Gisele Cittadino (Brasil) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Gisele Ricobom (Brasil) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Guillaume Long (Equador/França) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Harold Correa (Chile) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Hugo Humberto Gutiérrez (Chile) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Jaime Quiroga Carvajal (Bolívia) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
José Eduardo Cardozo (Brasil) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Juan Martín Mena (Argentina) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Juarez Tavares (Brasil) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Larissa Ramina (Brasil) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
Marco Enríquez Ominami (Chile) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia
María José Fariñas Dulce (Espanha) Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia

Edição: Luiza Mançano