PREVENÇÃO

Falta de planejamento urbano é maior problema das chuvas em MG, dizem especialistas

Nos últimos dias, houve 655 pessoas desalojadas e 203 desabrigadas no estado por conta das chuvas

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |

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Seis municípios mineiros decretaram situação de emergência por conta das chuvas - Rafa Aguiar - foto pra chuvas

Órgãos de defesa civil em Minas Gerais estão reforçando os alertas no período chuvoso. Até a quinta-feira (7), em todo o estado foram registrados oito mortes, seis pessoas feridas, 203 desabrigados e 655 desalojados, em ocorrências relacionadas às chuvas. Seis municípios mineiros decretaram situação de emergência. Os dados são do Boletim da Defesa Civil de Minas Gerais.

Nos últimos sete anos, nesses desastres, 156 pessoas morreram no estado, sendo 42% soterradas e 33% em enxurradas. Quase metade das mortes (47%) ocorreram nas chuvas de 2019/2020, quando Minas também teve mais de 94 mil desalojados e desabrigados, superando a soma de todos os outros anos no período.

A chuva não mata

"O que tem matado é a falta de planejamento. Os municípios deixaram de aplicar recursos na moradia de interesse social, esvaziando os fundos municipais. Além disso, há um grande número de vazios urbanos, imóveis desocupados que, se fossem apropriados pelas prefeituras para moradia de interesse social, poderiam suprir o déficit", analisa a deputada estadual Andreia de Jesus (Psol), ressaltando que a falta de acesso à moradia adequada leva muitas famílias a habitarem áreas de risco.

A geóloga Cláudia de Sanctis, consultora da Proamb Geólogos Associados, também defende políticas que garantam o direito à moradia. Ela destaca que, para fazer frente à questão do risco, é necessário um bom controle urbano para evitar novos casos de ocupação de áreas de risco.

Além disso, é necessária uma urbanização adequada, acompanhamento de famílias que estão em áreas de risco, fazer obras de contenção ou drenagem e até mesmo remanejar e reassentar moradores, quando necessário.

“O programa de áreas de risco tem que ser constante, nunca vai acabar porque a cidade continua crescendo. Todos os municípios que tratam com isso pecam muito na questão do controle. Mas, enquanto houver o adensamento de áreas e não houver  possibilidade de fiscalizar completamente, novas situações de risco vão sendo geradas. Então, as coisas teriam que andar juntas: tanto a oferta de moradias em locais adequados, quanto a prevenção nas áreas que já são consolidadas e a fiscalização", defende a geóloga.

Situações atípicas

No período de outubro de 2019 a março de 2020, de acordo com o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), cidades como Belo Horizonte, Ibirité, Viçosa e Diamantina tiveram volume de chuvas acima do esperado para todo o ano. Na região Centro-Sul de BH, no mês de janeiro, chegou a chover 35% acima da média prevista para todo o ano. Cláudia de Sanctis afirma que essa situação, embora atípica, está relacionada à forma com a cidade foi se formando. "Por que a Prudente de Morais, por exemplo, há muito tempo não inundava e agora inunda? Começamos a impermeabilizar toda a bacia, sem ter para onde a água escorrer. Então, quando tapam um córrego e aumentam a área de avenidas, isso propicia muito esses problemas", explica.

Por fim, ela defende, que, no período das chuvas, ações como fechamentos de vias e alertas são fundamentais durante as chuvas. "Independente de qualquer coisa, a vida é o mais importante. Então, nas chuvas, se recebeu um alerta para ficar atento, tem que ser seguido. A ação de preservar a vida é o mais importante", conclui.

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Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Rafaella Dotta e Camila Maciel