Desespero

Enem no escuro: queda de energia prejudicou e aglomerou candidatos em Pernambuco

Estudante relata angústia de ficar sem luz em plena prova em Carpina (PE), a 45 km da capital Recife (PE)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Estudantes foram prejudicados por queda de energia; imagem meramente ilustrativa - Divulgação

Centenas de estudantes que realizaram a primeira etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na Faculdade Luso-Brasileira (FALUB), em Carpina (PE) viveram uma situação dramática e inusitada no último domingo (17).

Uma queda de energia por volta das 18 horas, em pleno momento de aplicação da prova, prejudicou de diferentes formas os candidatos que estavam nos blocos C e D.

Carpina fica na zona da mata pernambucana, a 45 km da capital Recife (PE). O Brasil de Fato conseguiu contato com uma das candidatas, que relatou as dificuldades.

“Como foi depois das 18h, não tinha mais iluminação natural, então a gente ficou no breu. Se levantasse a mão, não dava para ver na frente”, lembra Nicolly Lavinia.

Os fiscais do Enem pediram calma, não permitiram que os estudantes saíssem da sala de aula e informaram que estavam cronometrando os minutos perdidos devido à queda de energia.

“A gente passou uma hora e meia sem fazer nada, no escuro”, acrescenta a estudante pernambucana. “Alguns, mais perto da janela, levantavam a prova para ir ganhando tempo, aproveitando um poste de luz que estava ligado do lado de fora.”

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“Depois disso, um fiscal disse que não havia salas disponíveis, e trouxe uma espécie de refletor. Mas era bem pequeno, parecia uma lanterna, iluminou super pouco”, completa a estudante.

Em seguida, segundo Nicolly, os candidatos foram chamados a fazer um círculo em torno do fiscal, que segurava o refletor, para retomar a prova.

“Aí foi zero distanciamento social. Um colado no outro”, acrescenta a candidata. “E assim que a gente levantava a mão para resolver uma questão, fazia sombra e já não se enxergava nada.”

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A estudante lembra que alguns candidatos em sua sala de aula desistiram de fazer a prova naquele momento e viraram de costas, em sinal de protesto.

“Eu me desesperei, fiquei muito nervosa. A gente estuda o ano inteiro para acontecer isso”, diz.

Depois de 15 minutos nessa situação, os fiscais informaram que haviam conseguido um “arrumadinho” no andar de cima e dariam mais 45 minutos para a conclusão da prova – que terminou por volta das 21h.

O Brasil de Fato entrou em contato com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para entender o que pode ser feito para remediar a situação.

“O participante afetado por problemas logísticos durante a aplicação poderá solicitar a reaplicação do Exame em até cinco dias após o último dia de aplicação, no endereço”, respondeu o Inep por meio de nota.

São considerados problemas logísticos para fins de reaplicação, fatores supervenientes, peculiares, eventuais ou de força maior, como: desastres naturais (que prejudiquem a aplicação do Exame devido ao comprometimento da infraestrutura do local), falta de energia elétrica (que comprometa a visibilidade da prova pela ausência de luz natural), falha no dispositivo eletrônico fornecido ao participante que solicitou uso de leitor de tela ou erro de execução de procedimento de aplicação pelo aplicador que incorra em comprovado prejuízo ao participante.

O Inep receberá os pedidos por reaplicação entre 25 e 29 de janeiro, pela Página do Participante do Enem. Os casos serão avaliados individualmente. A reaplicação do Enem, prevista em edital, será nos dias 23 e 24 de fevereiro.

O relato de Nicolly Lavinia dialoga com o de milhares de outros estudantes, que foram às redes sociais ao final da prova para questionar problemas de infraestrutura e desrespeito ou inexistência das medidas sanitárias para controle da covid-19.

Dos 5,7 milhões de candidatos inscritos, 2,8 milhões não compareceram. Foi a maior taxa de abstenção da história do exame.

Edição: Leandro Melito